Paula Panarra, Microsoft: «A diversidade é fundamental para o sucesso das organizações»

Paula Panarra, directora-geral da Microsoft Portugal, acredita que «uma equipa diversificada e inclusiva trará maiores benefícios para as organizações, a nível de inovação, resposta às necessidades do mercado, bem como uma melhor experiência para os colaboradores». Leia o seu testemunho.

 

«A diversidade é fundamental para o sucesso das organizações, seja ao nível de género, background, orientação sexual, etnia ou cultura. É importante termos consciência de que não é apenas uma questão de representatividade de género, mas sim de contribuição. Acredito que uma equipa diversificada e inclusiva trará maiores benefícios para as organizações, a nível de inovação, resposta às necessidades do mercado, bem como uma melhor experiência para os colaboradores.

Esta representatividade deve estar presente tanto em cargos de liderança como em todos níveis de gestão, pois a diversidade traz benefícios para as equipas, ao tirarem partido das diferenças de ideias, perspectivas e competências. Os benefícios dessas diferenças abrangem o aumento de produtividade e capacidade de problem solving, contribuindo para uma aceleração na performance do negócio.

Ao unirmos diferentes perspectivas, possibilitamos um aumento de inovação e criatividade nas organizações, bem como a identificação de novas oportunidades de negócio. A relação com o cliente é também beneficiada, através de uma comunicação mais eficaz e personalizada, o que poderá ainda proporcionar um aumento do número de clientes.

A importância da diversidade, nomeadamente de género, acaba também por gerar uma maior atracção e retenção de talento. A representatividade do género feminino nas empresas poderá transmitir uma maior confiança ao nível da igualdade para as mulheres e, consequentemente, atrair mais talento feminino. O número de mulheres em cargos de liderança é, assim, fundamental para servir como exemplo e factor impulsionador para encorajar mais mulheres a ambicionarem o seu crescimento profissional.

A McKinsey partilhou o estudo “The Power of Parity”, que indicava que se as mulheres participarem ao mesmo nível dos homens no mercado de trabalho, a economia global poderá vir a crescer 28 triliões de dólares até 2025. Estudos como este vêm comprovar que a melhoria das condições económicas das mulheres tem um impacto positivo no crescimento sustentável das comunidades dos vários países. O investimento na capacitação das mulheres é, assim, fundamental para colmatar as questões mais prementes da pobreza mundial. Os homens e as mulheres são diferentes por natureza e, por isso, trazem ideias, perspectivas e insights variados. A meu ver, não se trata de uma questão de género, mas sim de características inerentes ao indivíduo. A tendência é associar a mulher a um estilo de liderança mais democrático e o homem mais autocrático, devido apenas aos respectivos estereótipos de género. No entanto, o carácter e as competências de cada um, algo delineado pelas suas experiências, o seu background, as suas preferências e personalidade, são os factores-chave que determinam a forma como aprendem, trabalham, comunicam e lideram na sua organização.

Existe também uma tendência para associar especificidades a cada sector, como no da Tecnologia, onde por vezes o trabalho técnico é associado ao género masculino e a um determinado carácter introvertido e distante. Estas especificidades podem acabar por levar a um menor interesse por parte do género feminino nestas áreas. Dados do Eurostat indicam que, de todos os estudantes na área das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação), apenas 17% são mulheres e, coincidentemente, de acordo com o Parlamento Europeu, as mulheres representam apenas 18% da população europeia a trabalhar no sector da tecnologia.

Há assim, sem dúvida, trabalho a fazer na aceleração da representatividade das mulheres desde cedo para desmontar e desmistificar muitos destes paradigmas. Na minha visão, este é um trabalho que deve ser feito a nível educacional, empresarial e social.

Ao nível da Educação, devemos continuar a atrair as raparigas para áreas onde a discrepância de género é maior, nomeadamente nas Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemáticas (CTEM), em que apenas 35% dos estudantes em todo o mundo são mulheres, de acordo com um estudo da McKinsey de 2019. Para isso, é fundamental apostar em exemplos femininos que aumentem a confiança na igualdade de trabalho e ajudem as mulheres mais jovens a projectar as suas carreiras para estas áreas.

Um estudo europeu da Microsoft concluiu que a introdução de mais experiências e exercícios práticos com a realidade do trabalho nas escolas é fundamental para uma maior atractividade e retenção das raparigas nas áreas de CTEM. A influência dos professores é também um factor determinante e, para isso, é necessário continuarmos a qualificá-los para um método de aprendizagem mais colaborativo, interactivo e social.

A criação desta apetência deve começar na educação, mas há também um trabalho necessário do ponto de vista das empresas para uma aposta na qualificação e requalificação dos seus colaboradores. Ao compararmos a taxa de empregabilidade das mulheres de 67% da Eurostat com os 8% para cargos de chefia da Comissão Europeia, apercebemo-nos de que, na sociedade, muito do emprego não qualificado ainda é destinado às mulheres. Olhando para o futuro que esta transformação digital está a trazer, torna-se mais importante ainda as empresas priorizarem a diminuição desta discrepância.

É da essência da cultura empresarial que tem de partir a estratégia para a diversidade de recursos numa organização. É essa estratégia que temos vindo a desenvolver na Microsoft, ao criarmos ambientes de trabalho que proporcionam oportunidades mais comparáveis a todos os níveis, através dos nossos recursos e representatividade.

A sociedade também deve agir, pois ainda existe uma discrepância notória na distribuição do trabalho doméstico. De acordo com o estudo “As Mulheres em Portugal, hoje”, da Fundação Manuel dos Santos, a mulher efectua, em média, 74% das tarefas domésticas. Relativamente ao cuidado e educação dos filhos, as mulheres ocupam-se de cerca de 73% do trabalho.

Face às condições trazidas pela pandemia, a carga de trabalho doméstico acrescida tem contribuído para um impacto negativo nas mulheres em comparação com os homens. É, por isso, necessário alertarmos a sociedade para um maior equilíbrio nesta distribuição, e sobretudo que tomemos as necessárias medidas, de forma a que as mulheres tenham as devidas oportunidades nas suas vidas profissionais.»

 

Este artigo faz parte do tema de capa da edição de Março (123) da Human Resources.

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