Pedro Fontes Falcão, gestor: As empresas e a questão da felicidade

Nos últimos anos, a Finlândia tem sido considerada o país mais feliz do mundo. Sendo noite durante a maior parte do Inverno, com temperaturas muito frias, como pode a sua população ser a mais feliz? Será interessante perceber e, daí, tirar ilações para as empresas. Uma nota: Portugal ocupa o penúltimo lugar na União Europeia no World Happiness Report.

 

Por Pedro Fontes Falcão, gestor e professor universitário

 

A World Happiness Report é uma publicação da Sustainable Development Solutions Network (SDSN), uma iniciativa desenvolvida para as Nações Unidas, e é baseada em dados da Gallup World Poll. Os seus patrocinadores institucionais incluem entidades de elevada reputação. Ou seja, não é um relatório com pouca credibilidade, embora se possam sempre discutir alguns pressupostos de qualquer estudo.

O Relatório Mundial da Felicidade caminha para a sua 11.ª edição, e os países do norte da Europa destacam-se dos outros como os mais felizes há largos anos. A Finlândia tem sido a número um nos últimos anos.

De acordo com o referido estudo, muito do crescente interesse internacional pela felicidade existe graças ao Butão, que, em 2011, levou as Nações Unidas a convidar os governos nacionais a “dar mais importância à felicidade e ao bem-estar, ao determinar como alcançar e medir o desenvolvimento social e económico”.

Em 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o dia 20 de Março como o Dia Internacional da Felicidade, a ser observado anualmente, sendo o Relatório Mundial da Felicidade lançado todos os anos por volta dessa data.

Após esta longa, mas creio que necessária, introdução, é interessante tentar perceber como é que um país em que é noite durante a maior parte do inverno, com temperaturas muito frias, pode ter uma população muito feliz (assim como muitos outros países igualmente frios do norte da Europa).

Achei interessante um artigo de um psicólogo finlandês no site da CNBC a falar sobre o que os finlandeses não fazem e que contribui para a sua qualidade de vida e felicidade.

Primeiro, não se comparam com os seus vizinhos. Há uma frase famosa de um poeta finlandês – “Não se compare ou se gabe de sua felicidade” – que a generalidade dos finlandeses interioriza muito bem, especialmente quando se trata de coisas materiais e demonstrações públicas de riqueza. Muitos dos finlandeses ricos têm um estilo de vida pouco “exuberante”.

Segundo, não desvalorizam o contacto com a natureza, procurando o campo, florestas e parques sempre que possível. Terceiro, eles não quebram o “círculo da confiança”. Vários estudos demonstram que quanto mais altos os níveis de confiança dentro de um país, mais felizes são os seus cidadãos. Os finlandeses tendem a confiar uns nos outros e valorizam a honestidade.

Portugal ocupa o lugar 56, no ranking de 2019-21, o penúltimo da União Europeia. As dicas finlandesas parecem ser úteis a Portugal. Primeiro, a frequente inveja na sociedade portuguesa é causa de infelicidade, o que passa muito pela comparação com os outros. Não se esqueçam que, excluindo para o Bernard Arnault [director executivo da LVMH e actualmente a pessoa mais rica do mundo], há sempre alguém mais rico do que cada um dos habitantes do mundo. Uma cultura em que as pessoas se foquem em melhorar para atingir os seus padrões pessoais e não os dos outros é útil.

O ponto que foi referido sobre a importância do contacto das pessoas com a natureza pode ser visto pelas empresas na perspectiva de estas possibilitarem um verdadeiro work-life balance, que dê tempo às pessoas para relaxarem e desfrutarem de outros prazeres, e de um maior convívio.

E a existência de confiança entre as pessoas tem de passar por uma cultura organizacional forte, mas difícil de implementar, pois o português, por razões históricas (segundo alguns estudos), tende a confiar na família, mas não nos outros. Esta característica de colaboração e de win-win é muito falada, mas não muito aplicada. Mas creio que começa a mudar…

 

Este artigo foi publicado na edição de Janeiro (nº. 145)  da Human Resources, nas bancas.

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