Pedro Pinto, administrador do Grupo Lionesa: «O valor de Portugal é o exacto valor do talento que conseguir produzir, captar e fixar.»

No Grupo Lionesa, empreendedorismo, arte e cultura vivem em harmonia em todas as áreas de negócio. O objectivo? Transformar o Porto e o Norte de Portugal no território mais feliz para se viver. E trabalhar. Porque, no fundo, a felicidade é o motor da atracção, fixação e crescimento do talento.

 

Por Tânia Reis

 

A Livraria Lello será certamente o “negócio” mais conhecido, porém, o portefólio gerido pela família Pedro Pinto é bem mais vasto. Concentrados no Norte de Portugal, o Grupo Lionesa acrescenta «valor a pérolas em manifesto défice de criação de valor económico, turístico, cultural, patrimonial e artístico, resgatando e ampliando todo o seu potencial, e colocando-o como activo desse território e da atractibilidade que garanta a sua plena sustentabilidade». Quem o diz é Pedro Pinto, administrador do grupo familiar, que «se ergueu já há duas décadas». As várias áreas de negócio onde actuam, que vão desde o Retalho ao Turismo, passando pela Cultura e escritórios, permitem aliar o «empreendedorismo à arte e à cultura, e continuar a crescer de forma sustentada, importando e fixando talento, o grande motor da nossa economia».

O objectivo é “simples”: criar condições para transformar o Porto e o Norte de Portugal no território mais feliz para se viver. E trabalhar. Para alcançar esse desígnio, o Grupo estabeleceu metas ambiciosas de expansão para 2025, apostando no sector cultural, factor-chave «na transformação do território, assim como na transformação pessoal».

«Sabemos que o contacto com a arte e a cultura não só tem um impacto positivo na felicidade da comunidade, como é um factor decisivo para a escolha do local de trabalho», defendeu o administrador. Até porque, segundo um estudo italiano que refere, «a cultura, entre trabalho, idade, salário, estado civil, género, educação e posição geográfica, em conjunto com a saúde, é considerada uma das variáveis mais importantes para o Índice de Bem-Estar Psicológico Geral». Assim, esse percurso tem sido feito agregando três pilares que, cada um na sua vocação, erguem esta missão nos eixos do talento – Lionesa Business Hub; da arte e do património – Balio; e da inovação cultural empreendedora – Livraria Lello.

No Balio, não hesitaram em resgatar um mosteiro, monumento nacional desde 1910, há muito esquecido e «assim capacitar culturalmente o território onde mais de 15 mil pessoas fazem o seu dia-a-dia». Com abertura prevista para início de 2024, o projecto de requalificação foi entregue a Álvaro Siza Vieira e pretende constituir uma ferramenta para a gestão do talento ao destacar a «ligação a um caminho onde a arte e a espiritualidade se cruzam no caminho para a evolução humana». Assente em três pilares estratégicos – ver, pensar e sentir –, este espaço deu origem a um outro projecto para o território, o Caminho da Arte. «Pretende-se que esta seja a maior e mais bonita estrada do mundo, ao acrescentar obras de arte contemporâneas a este caminho espiritual que liga o Porto a Santiago ao longo dos mais de 260 km», revela Pedro Pinto.

No Porto, criaram o Lionesa Business Hub, «o maior e mais dinâmico centro empresarial, em Portugal, dedicado à indústria 5.0», nascido de um antigo complexo industrial. Hoje, acolhe mais de 120 empresas, na sua grande maioria multinacionais, como a FedEx, Vestas, Oracle e Farfetch. Os sete mil colaboradores, provenientes de mais de 47 nacionalidades diferentes, são as melhores testemunhas do compromisso assumido ao longo dos 21 anos de existência «de cuidar do bem-estar e da felicidade da comunidade». Assim, são reconhecidos pelas empresas do campus, e por aquelas que desejam conhecer melhor o Hub, «como uma extensão do cuidado que dedicam aos seus próprios recursos humanos». Um «verdadeiro centro de vida, com múltiplos serviços ao dispor de todos aqueles que fazem do Lionesa Business Hub a sua segunda casa: desde restaurantes e bares, a cabeleireiro e farmácia », acrescenta o administrador.

Inspirados pela arte e natureza, o campus é uma galeria a céu aberto, com um jardim de cinco hectares e múltiplas exposições, por onde já passaram Amadeo Souza Cardoso, Taschan, Ferrari e, ainda este ano, o Museu Nacional Soares dos Reis.

Em 2017, anunciaram um masterplan que visava duplicar a área, que supera os 56 mil metros quadrados. Expandiram igualmente na envolvente, com a inauguração do novo corredor verde do Leça, que liga o campus à costa de Matosinhos e ao pólo universitário da Asprela, permitindo uma maior ligação à natureza e ao território, e convidando à adopção de novas formas de mobilidade mais sustentável, como a que estão a desenvolver com a Bolt. «Numa palavra, o Lionesa Business Hub é um vibrante centro criativo e cultural situado no Porto», descreve.

 

Talento e formação como desígnio colectivo
Essa transformação do território é movida por uma força incontestável – o talento. «O maior desafio dos territórios da actualidade não é a captação de capital nem a mobilização de investimento, é a atracção, sobretudo fixação, de talento e de pessoas», sejam eles habitantes ou visitantes. Pedro Pinto acrescenta: «Todo o nosso valor é o valor do nosso talento», que, longe de um conceito abstracto, é «uma prática quotidiana e um desejo contínuo de partida».

Acérrimo defensor de que o valor de Portugal – e do Porto – é o «exacto valor do talento que conseguir produzir, captar e fixar», o responsável deixa um alerta: «é fundamental criar talento, mas também importá-lo», dando nota de que, em 2020, Portugal foi eleito como o melhor sítio do mundo para o teletrabalho. Ainda que factores como segurança – «é o terceiro país mais seguro do mundo» –, infra-estruturas, saúde de qualidade, sol e praias, gastronomia, e uma facilidade de falar vários idiomas, constituam, a seu ver, todos as condições necessárias para Portugal ser destino de eleição para jovens profissionais internacionais, proficientes nas novas tecnologias, «ocupamos a 56.ª posição no ranking da felicidade da ONU», ressalva.

Torna-se, por isso, necessário saber usufruir destas mesmas condições especiais, «o que envolve uma revisão das burocracias nos processos de emissão de vistos, assim como nas nossas políticas fiscais». Há muito a fazer, reconhece. «Desde logo, aumentar o salário mínimo, e não em mais 50 ou 100 euros. Trata-se de aumentar para mais de 1000 euros», para, no mínimo, o País estar mais próximo de Espanha.

Para o administrador, Portugal ser conhecido por mão-de-obra barata não é uma boa estratégia de posicionamento e comunicação no mundo, e reitera que o eixo deve ser «temos o melhor talento da Europa e somos a casa para albergar aquele que não temos, porque esta é a região mais feliz para se viver e trabalhar». Essa falta de visão no País «dificulta, e muito, a acção de agentes como a Lionesa», afirma. «Hoje, vivemos uma economia de talento, é este que define onde investem as empresas.» Sabendo que, actualmente, as «direcções de Recursos Humanos são os “batedores” que vêm analisar o território muito antes de tomarem a decisão de instalarem aqui a empresa», é fulcral perceber que atrair talento qualificado para o País significa atrair investimento, e essa «pode mesmo vir a ser uma das soluções para a sustentabilidade do estado social».

Ainda que a escassez de talento seja transversal, reconhece que existem áreas mais apetecíveis para trabalhar e, consequentemente, com menos escassez, sendo nesses casos «mais urgente a reconversão do talento para que este possa estar adaptado a exercer essas novas funções». Também por parte dos empresários é necessário um novo tipo de relacionamento com o talento. «A velha ideia do “faz e cala” não tem lógica nos dias de hoje», atesta. Para melhor poderem exercer o seu trabalho, acredita que os profissionais têm de perceber e de se rever nas directrizes da empresa e até do próprio negócio.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Maio (nº. 149) da Human Resources, nas bancas. 

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