Perante a crise na liderança tradicional, importa questionar: como será a nova geração de líderes?

O contexto de pandemia evidenciou uma crise da liderança tradicional e acelerou uma procura global por novos modelos de liderança. Para antecipar esta evolução, a consultora LLYC, em colaboração com a Trivu, um ecossistema global que promove oportunidades para jovens talentos, desenhou o projecto “Future Leaders”, um estudo que procurou conhecer a nova geração de líderes, com menos de 30 anos, das línguas espanhola e portuguesa.

Assim, a partir de uma análise exaustiva da pegada digital discursiva (artigos, textos, publicações nas redes sociais, vídeos, etc.), esta pesquisa identifica as tendências e os traços de personalidade de jovens que lideram nas suas áreas de actividade e estabelece uma comparação com a personalidade e a comunicação dos líderes da actualidade.

O sólido sentido de disciplina, a forte tendência para a acção, a firme orientação para a cooperação e a liderança colectiva ou resiliente, positiva e emocional são algumas das dimensões que definem o perfil desta nova geração de líderes, e os traços que a distinguem dos líderes contemporâneos.

O “retrato robot” gerado pelo modelo psicométrico deste estudo retrata os líderes do futuro como uma comunidade que respeita o bem-estar dos outros, com uma necessidade de se transcender a si mesma e que dá prioridade ao sentido colectivo.

Seguindo esta tendência, a análise morfossintática confirma que esta geração possui um discurso muito mais virado para os valores comunitários e sociais e ancorado na importância do trabalho em equipa (palavras como “Pessoas”, “Família”, “Amigos”, “Equipa” ou “Apoio”, e verbos como “Ajudar”, “Partilhar” ou “Participar” são muito recorrentes nas suas intervenções públicas).

Também o uso dos adjectivos “Público”, “Climático” ou “Social” estão entre os mais utilizados pelos líderes mais jovens. O estudo aponta ainda uma predominância dos temas sociais, como é o caso da “Educação” ou da “Saúde” nos discursos destes jovens. Esta mesma palavra “Saúde” não está presente na lista dos 50 conceitos sobre os quais mais falam os líderes tradicionais; também o termo “Quarentena” aparece apenas no top 50 das referências da geração dos novos líderes e não dos líderes contemporâneos.

Em relação às qualidades de liderança, estes líderes do futuro destacam-se por defender um estilo de liderança apaixonada e sensível. Sobre este aspecto, as técnicas de processamento linguístico usadas indicam que o uso de palavras de cariz emocional é 45% mais abundante no discurso dos jovens líderes e que 78% das vezes possuem um carácter positivo. Adjectivos como “Lindo”, “Incrível”, “Maravilhoso”, “Favorito”, “Positivo” ou “Belo” fazem parte do top 50 dos mais comuns na nova geração de líderes.

Do outro lado do espectro está a linguagem utilizada pelos líderes de hoje, tendencialmente mais fria e muito mais profissional e técnica. Por exemplo, os termos “Legislativo”, “Comercial”, “Logística” ou “Económico” são alguns dos termos mais comuns dos líderes contemporâneos. São também os que mais recorrentemente se referem a conceitos como “Dinheiro”, “Empresas” ou estruturas políticas tradicionais (“Campanha”, “Presidente”, “Município” ou “Deputado”).

 

A palavra “obrigado” e o  “fazer” antes do “dizer”: A marca de uma geração
Este estudo conclui ainda que, na sua função de líder, os mais jovens apresentam uma maior tendência para a disciplina, maior sentido de dever e maior respeito pela ordem e rotinas. De facto, a análise verbal da linguagem das duas gerações mostra uma maior tendência à acção por parte dos líderes do futuro.

A análise conduzida permite identificar que os mais jovens utilizam o verbo «Fazer» (é mesmo o segundo verbo mais utilizado por estes jovens) com maior frequência do que o verbo «Dizer» (o que, curiosamente, é um dos mais usados pela actual geração de líderes). Além disso, a nova geração apela com mais frequência à acção de “Trabalhar” e palavras como “Alcançar”, “Criar” e “Gerar” fazem parte do vocabulário destes líderes do futuro.

Uma das diferenças mais marcantes entre as duas gerações é o uso da palavra “Obrigado”. Especificamente, a análise coloca esta expressão como a mais utilizada pelos Future Leaders; enquanto que, no caso dos líderes atuais cai para a metade da tabela (posição 25), reforçando a ideia de que novos líderes estão mais bem posicionados no eixo individual-comunidade.

Também uma das facetas mais distintas dos Future Leaders é a sensibilidade para o exterior, para o que transcende o ‘eu’ individual. A sua impressão discursiva mostra que os mais novos têm uma maior predisposição para compreender o que os rodeia e que atribuem maior importância à aprendizagem. Verbos como “Aprender”, “Encontrar”, “Saber”, “Pesquisar”, “Entender” ou “Ouvir” são muito mais comuns nas suas intervenções públicas.

 

Dez jovens líderes portugueses que estão a mudar o mundo
A partir da definição do modelo de liderança transformacional, a LLYC e a Trivu desenvolveram uma lista que identifica 120 jovens de língua espanhola e portuguesa a quem designou de líderes do futuro. Nascidos a partir de 1990 e oriundos de 12 países diferentes, estes perfis são referências nas mais diversas áreas de influência: desde a tecnologia, à medicina e ao meio ambiente, às questões sociais, ao empreendedorismo ou mesmo à gastronomia.

Em Portugal, os dez jovens analisados pelo estudo são Salvador Sobral (Músico; vencedor do Festival da Eurovisão de 2017), Frederico Morais (Surfista; vencedor do prémio de melhor surfista Europeu do Ano no Eurosima Surf Summit 2017), Madalena Rugeroni (Empreendedora e Country Manager na Too Good to Go em Portugal) Joana Paiva (Empreendedora, cientista e engenheira biomédica; CTO e cofundadora do iLoF – Intelligent Lab on Fiber), Fred Canto e Castro (Empreendedor; fundador da Sonder e CEO do Seekers Club), Simão Cruz (Engenheiro especialista em Fintech; Diretor Adjunto de Estratégia e Desenvolvimento Digital do BIG – Banco de Investimento Global), Margarida Balseiro Lopes (deputada na Assembleia da República e Presidente da Comissão Política Nacional da JSD), Miguel Oliveira (Piloto de Motociclismo; primeiro piloto profissional português do MotoGP), Joana Leite de Castro (Empreendedora; cofundadora da The Human Toolbox) e Catarina Macedo (Engenheira especialista em UX; Senior Program Manager de P&D da Xbox na Microsoft).

Para a sua selecção, foram considerados três critérios, ter um propósito claro na sua área de actividade; o seu potencial de mobilização; e, por fim, a sua capacidade de influência.

Pode consultar a lista completa dos líderes do futuro aqui.

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