«Portugal tem-se afirmado como um hub tecnológico de referência a nível europeu, mas verifica-se uma enorme escassez de talento»

Qualificar (e requalificar) numa área a fervilhar em saídas profissionais

O paradigma da transformação tecnológica que se intensificou com a pandemia tem resultado numa procura exponencial por profissionais especializados, que escasseiam no mercado. Numa altura em que o desemprego está a aumentar, a Ironhack assume–se como uma alternativa de reorientação de percurso, abrindo as portas para uma área a fervilhar em termos de saídas profissionais.

Por Sandra M. Pinto

 

Fundada no final de 2013, a Ironhack fez da sua missão introduzir a cultura do bootcamp na Europa – abordagem mais prática ao ensino que, na época, não era muito comum –, de forma a contrariar a escassez de profissionais qualificados na área da tecnologia, dando a qualquer pessoa, independentemente do seu percurso, a oportunidade de começar uma carreira neste universo.

«Na Ironhack, acreditamos num ensino orientado para os resultados, pelo que sempre tivemos como objectivo desenvolver o talento digital com base nas necessidades reais das empresas», sublinha Munique Martins, responsável pelo campus de Lisboa da Ironhack. «Nesse sentido, os nossos cursos – Web Development, UX/UI Design, Data Analytics e Cibersegurança – são estruturados para ensinar os fundamentos de modo imersivo, capacitando os alunos para fazerem frente aos desafios que encontrarão no mercado de trabalho, onde esperamos que dêem continuidade ao seu processo de aprendizagem, que deve ir muito além da sala de aula e ser encarado como uma actividade contínua ao longo da vida.»

Tendo já formado seis mil profissionais, colocados em empresas como a Google, o Twitter ou a Cabify, a Ironhack conta, actualmente, com nove campus físicos, em Lisboa, Madrid, Barcelona, Paris, Amesterdão, Berlim, Miami, São Paulo e Cidade do México. Com o início da pandemia e a implementação de todas as medidas com vista à sua contenção, assim como o confinamento, em Março não houve outra alternativa se não a de encerrar os campus físicos em todo o mundo, adaptando os cursos para um formato remoto em tempo recorde. «Foram meses muito desafiantes em que reaprendemos a utilizar os recursos ao nosso dispor e melhorámos os mecanismos de recolha de feedback, para assegurar uma resposta ágil às necessidades dos alunos, dando-lhes o mesmo acompanhamento e apoio de antes», recorda a responsável.

À semelhança das universidades um pouco por todo o País, a Ironhack reabriu o campus de Lisboa no início do novo ano lectivo, havendo actualmente um conjunto de cursos que estão a ser leccionados presencialmente. Em paralelo, esses mesmos cursos estão a decorrer num campus totalmente virtual à escala global, inaugurado durante a quarentena – a Ironhack Remote –, para quem tiver preferência por essa modalidade.

Na realidade, ter um campus virtual sempre fez parte da visão da empresa, para «levar a experiência que proporciona nos seus campus físicos às geografias onde não tem essa presença, para que qualquer pessoa, em qualquer lugar, possa estudar na Ironhack», revela Munique Martins. «Assim, o contexto de pandemia acabou por acelerar a concretização do que já era há muito uma ambição. A Ironhack Remote materializa- -se numa dinâmica de aprendizagem online, guiada pelos professores de forma interactiva, que permite aos alunos começar uma carreira na área da tecnologia a partir de onde estiverem», explica. O currículo foi adaptado para um registo 100% remoto, o que implicou ajustes na metodologia pedagógica, com o intuito de criar uma atmosfera de proximidade à distância, ou seja, o conteúdo, na essência, é o mesmo, diferindo o modo como é leccionado.

Por outro lado, «enquanto adquirem as competências para se tornarem programadores de sucesso, os alunos da Ironhack Remote vão-se preparando gradualmente para trabalhar remotamente, algo cada vez mais comum em muitas empresas, sobretudo do sector tecnológico», faz notar a responsável, revelando que, desde que lançaram a Ironhack Remote, além de chegarem a muitos outros países e a diferentes cidades de Portugal, tornaram «os cursos mais acessíveis, por exemplo, a pessoas com mobilidade reduzida ou até a mães que deixaram de trabalhar e querem voltar ao activo e que, por esta via, conseguem mais facilmente conciliar essa vontade com as rotinas».

No que respeita aos colaboradores da Ironhack, e com os campus fechados, a preocupação foi em assegurar um conjunto de iniciativas que os mantivessem motivados com o propósito da empresa. «Desde o início da pandemia, quando nos vimos confinados em casa, que passámos a reservar parte das nossas reuniões globais, até então só dedicadas a um ponto de situação do que está a ser feito em cada departamento, para convivermos», partilha Munique Martins.

Ao mesmo tempo, a Ironhack começou a organizar, uma vez por mês, um team building para desenvolver laços e manter a união, enquanto o retiro global realizado anualmente numa das cidades onde marca presença acontecerá em 2020, de forma online. «São dois dias inteiramente dedicados a nós, em que interrompemos o trabalho para nos focarmos nas pessoas e recalibrarmos as nossas motivações, como indivíduos, com as da Ironhack, como empresa.»

A responsável acredita que fazer parte da Ironhack significa contribuir para um projecto com impacto que realmente muda a vida das pessoas. «Como partilhamos uma missão comum, enquanto equipa, somos muito dedicados e temos uma dinâmica de grande entreajuda e proximidade. E, tratando-se a Ironhack de uma startup, tudo acontece muito depressa, o que nos leva a evoluir bastante do ponto de vista profissional, em pouco tempo, pois, independentemente do cargo, todos estamos envolvidos em vários projectos em simultâneo, alguns deles globais entre os diferentes campus.»

 

A transformação tecnológica e o mercado

O paradigma da transformação tecnológica, que se intensificou com a pandemia, tem resultado numa procura exponencial por profissionais especializados. Segundo dados da Randstad divulgados em Março, existe um intervalo de 14 e 19 mil vagas por preencher neste sector para diversas funções. «Com a crescente digitalização dos negócios, mesmo que a tecnologia não seja o core da actividade da empresa, serão sempre necessários perfis ligados à área», constata Munique Martins.

«Portugal tem-se afirmado como um hub tecnológico de referência a nível europeu, atraindo centros de desenvolvimento e suporte de grandes empresas, mas verifica-se uma enorme escassez de talento face à elevada procura», alerta. «Perante esta realidade, modelos alternativos, como os bootcamps, assumem um papel de particular importância na formação de mais profissionais para desempenhar cargos no mundo da tecnologia.» E, mais do que as competências técnicas – que, obviamente, são cruciais –, as soft skills são especialmente valorizadas pelo mercado de trabalho. «Hoje, as empresas procuram profissionais mais completos, que tenham uma boa capacidade de resolução de problemas, agilidade no raciocínio, facilidade em comunicar e apetência para gerir projectos.»

Munique Martins acredita que é precisamente nesse âmbito que o modelo de educação do bootcamp da Ironhack se destaca, «ao caracterizar-se pela abordagem prática, que faz com que os alunos desenvolvam tanto o lado técnico como a vertente interpessoal, tornando-se mais competitivos quando chega a altura de se apresentarem ao mercado de trabalho».

A maioria das pessoas que opta por um bootcamp, fá-lo com o intuito de adquirir novas competências tecnológicas após ter tirado um curso superior ou com a intenção de reorientar o percurso profissional para a área da tecnologia, independentemente da sua formação de origem. A responsável partilha que, ultimamente, têm notado uma «maior procura por parte de pessoas vindas dos sectores do Turismo e da Restauração, como consequência da conjuntura e do facto de se terem visto sem ocupação, para além das ciências sociais, que são já uma constante».

Com a crise originada pela pandemia, o tema da requalificação volta a ganhar novo ímpeto, pois, como afirma Munique Martins, «no panorama actual, infelizmente, muitas pessoas, sobretudo nos sectores mais afectados pelos meses de confinamento e pelas constantes restrições, perderam os seus empregos, o que as levou a reequacionar a sua escolha de carreira». Deste modo, a requalificação é vista como uma tendência crescente, assumindo-se a Ironhack «como uma alternativa de recomeço e de reorientação de percurso para cada uma destas pessoas, abrindo-lhes as portas para a área da tecnologia, que está a fervilhar em termos de saídas profissionais».

 

Uma taxa de empregabilidade que ronda os 90%

De acordo com um relatório auditado pela PwC publicado recentemente pela Ironhack, que analisou as taxas de colocação a nível global, relativas à primeira metade de 2019, 70% dos alunos conseguiram emprego até três meses depois de concluir o curso, valor que chega aos 89% quando considerados os seis meses seguintes.

Mas será esta formação só para jovens? A resposta de Munique Martins foi inequívoca: «Qualquer pessoa, com ou sem experiência anterior no sector tecnológico, que queira mudar de carreira ou tenha acabado de concluir os seus estudos e procure diversificar as suas habilitações, está apta para se inscrever num dos nossos bootcamps. Tem apenas de ter mais de 18 anos e vontade de aprender.»

O modelo de educação na Ironhack é voltado para o mercado, pelo que o currículo dos cursos é construído à luz das necessidades das empresas, sendo permanentemente actualizado para que os alunos estejam alinhados com as práticas-padrão da indústria. «“Aprender a fazer” é a nossa doutrina e, por isso, colocamos à disposição dos alunos as ferramentas a que os profissionais do ramo recorrem e expomo-los a desafios muito semelhantes àqueles com que se irão deparar no futuro.»

Durante o bootcamp, os alunos criam a sua marca pessoal, um CV/portefólio e perfil no LinkedIn, sendo orientados na própria procura de emprego, com acompanhamento na preparação para as entrevistas e aconselhamento na negociação dos contratos. «Agilizamos a entrada no mercado, colocando os alunos directamente em contacto com empresas da nossa rede de parceiros que têm vagas abertas», garante Munique Martins. «São as Fast-track Interviews, em que nós somos responsáveis pelo matchmaking entre o aluno e a empresa.»

Sendo ainda cedo para avançar com previsões para o futuro, porque ainda não se sabe quando estaremos livres da pandemia – e todas as consequências que daí advirão –, Munique Martins não tem dúvidas de que a «a abordagem remota veio para ficar». Isso mesmo mostra o sucesso dos cursos da Ironhack Remote. Não obstante, «à medida que começámos a regressar aos campus físicos, temos reparado que os alunos sentiam muita falta de uma conexão mais pessoal com os colegas e com os professores, algo que parece estar a ser mais valorizado do que nunca, até porque, até aqui, era tomado por garantido», constata.

De forma mais generalizada, e apesar de a Ironhack ter notado uma demora nos tempos de contratação, Munique Martins acredita que o recrutamento no sector tecnológico já está a recuperar. «Na verdade, temos até mais vagas disponíveis do que antes e constatámos uma maior flexibilidade em relação ao trabalho remoto, com muitos alunos a serem contratados com essa premissa, o que não era muito comum.»

 

O artigo foi publicado na edição de Novembro (nº. 118) da Human Resources, nas bancas.
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