Portugueses entre os mais descontentes da Europa com medidas de confinamento

Os portugueses ouvidos no mais recente inquérito sobre a opinião pública da União Europeia, responsabilidade da Comissão Europeia, mostram ser o povo mais descontente com medidas de confinamento impostas pelo governo entre meados de Março e Maio e estão entre os mais desanimados quanto à retoma e ao futuro da economia, revela o Dinheiro Vivo.

 

A publicação revela que mais de metade (53%) dos portugueses inquiridos no âmbito deste novo Eurobarómetro, cujos resultados foram divulgados na passada sexta-feira, diz que a economia só vai recuperar totalmente desta crise daqui a dois anos ou mais tarde (em 2023 ou depois disso).

Este sentimento de descrença só é maior no caso dos espanhóis, aqui, 55% dos inquiridos dizem que a retoma total da economia só acontece em 2023 ou mais tarde.

No inquérito de Portugal, uma minoria (26% das pessoas ouvidas) diz que a retoma é capaz de se materializar em 2022. Já quando se pergunta se a recuperação é possível no próximo ano, apenas 12% do painel diz que sim.

O Dinheiro Vivo avança que cerca de 5% dos inquiridos portugueses afirma mesmo que o país “nunca vai recuperar” desta crise pandémica.

Segundo o estudo da Comissão Europeia, que foi conduzido entre 9 de Julho e 26 de Agosto – portanto, no período mais leve da pandemia e com as economias em desconfinamento depois da primeira vaga da COVID-19 – a confiança e a esperança da maioria dos europeus inquiridos continuou bastante em baixo.

De acordo com a publicação, faz sentido que os entrevistados portugueses sejam dos mais descrentes na retoma já que Portugal foi dos países mais penalizados da Europa pela recessão e pela destruição de emprego.

Segundo o Eurostat, no grupo dos 27 países da União, Portugal registou a sétima maior quebra no emprego entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano. E a quinta maior contração do produto interno bruto (PIB).

A razia no emprego nacional chegou aos 3,4% no período de Abril a Junho; a recessão de proporções históricas foi de 13,9%, também segundo o Eurostat.

De acordo com um estudo também da Comissão Europeia, ainda que a dureza das medidas tomadas pelo executivo de Lisboa não tenha sido a maior da Europa (medida pelo chamado índice de confinamento, calculado pela Universidade de Oxford), a verdade é que essas decisões no sentido de limitar ou mesmo encerrar grandes partes da economia e de restringir a circulação de pessoas (por exemplo, estrangeiros, o que arrasou logo com o turismo) parecem ter sido as que mais danos provocaram na actividade. A confiança das famílias portuguesas colapsou, basicamente.

No barómetro, a CE constata ainda que «em 23 países, a maioria dos entrevistados pensa que a sua economia nacional irá recuperar em 2023 ou depois».

Como referido, as proporções mais elevadas de desalento face à economia (e que atiram a retoma para 2023 ou mais tarde) foram registadas em Espanha e Portugal, mas a Comissão também destaca os 52% atingidos na Dinamarca, 51% na Irlanda e 50% na Finlândia.

Os inquiridos da Hungria são, aparentemente, dos menos pessimistas. Cerca de 28% do painel até acredita que a economia recupera já no ano que vem. É a maior proporção da UE.

O Dinheiro Vivo revela ainda que no entanto, Bruxelas destaca um fenómeno inquietante. Há imensa gente que diz que a economia nunca se vai levantar. «Em oito países, pelo menos um em dez inquiridos teme que a sua economia nacional nunca recupere dos efeitos adversos do surto de coronavírus». Muitos são da Europa de leste.

Ou seja, neste caso, os mais pessimistas são os croatas (16% diz que a economia nunca vai recuperar), logo a seguir surgem os eslovacos (14%), os checos e os austríacos (Ambos com 13%), os eslovenos e os romenos (11%) e os gregos e os búlgaros (10%). Em Portugal, como referido, a percentagem deste tipo de niilistas é inferior, ronda os 5% dos inquiridos.

Este Eurobarómetro também questionou os cidadãos sobre a dureza das medidas de confinamento nos seus respetivos países. Sobre a “dificuldade de lidar” com as medidas e com o perigo de contrair doenças físicas e mentais.

De todos os europeus, os portugueses são os que mais se queixam dessa grande dificuldade que foi ultrapassar os mais de três meses confinamento: 51% dos inquiridos diz que foram meses “bastante difíceis”, 11% diz que foi “muito difícil”.

Ou seja, 62% dos portugueses ouvidos consideram que o confinamento foi um período muito negativo nas suas vidas. Os gregos também são dos mais descontentes nesta questão.

Em Portugal, apenas 18% das pessoas admitiu que foi uma experiência “bastante fácil”.

No extremo oposto, estão por exemplo os finlandeses: apenas 1% diz que foi muito difícil. Aliás, mais de 73% dos inquiridos da Finlândia afirmou que o confinamento foi bastante ou muito fácil de superar.

Em Portugal, o inquérito Eurobarómetro foi conduzido pela Marktest entre os dias 10 e 29 de Julho, tendo sido feitas 1056 entrevistas.

Na União Europeia como um todo, o inquérito decorreu entre 9 de Julho e 26 de Agosto, tendo sido realizadas quase 27 mil entrevistas nos 27 países da UE.

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