Produtividade à distância: novos riscos e oportunidades

Hoje é o Dia Internacional da Produtividade. Para assinalar a data, Filipa Xavier de Basto, partner no Grupo Your, reflectiu sobre o tema e garante: «Não, a produtividade não está necessariamente relacionada com o tempo de trabalho. Quando falamos em produtividade, falamos da relação entre a qualidade do nosso trabalho e o tempo que demorou a concretizá-lo.»

Por Filipa Xavier de Basto, partner no Grupo Your

 

Já é habitual vermos Portugal no topo da lista, quando se analisa a média de horas trabalhadas na Europa. Segundo os dados do Eurostat referentes a 2018, os portugueses trabalham em média 40,8 horas (o que inclui horas extraordinárias), ficando acima da média de 40,2 horas da Zona Euro.

Será que somos um país de trabalhadores produtivos? Estará a produtividade apenas dependente das horas de trabalho ou do tempo despendido no local de trabalho? Mais do que isso, neste período de pandemia em que fomos obrigados a trabalhar a partir de casa, o que pode ser dito sobre os níveis de produtividade?

Não, realmente não somos os trabalhadores mais produtivos. E não, a produtividade não está necessariamente relacionada com o tempo de trabalho. Quando falamos em produtividade, falamos da relação entre a qualidade do nosso trabalho e o tempo que demorou a concretizá-lo. Estejamos a falar da elaboração de um produto ou da prestação de um serviço, para dar apenas dois exemplos.

Acredito que a produtividade tem uma relação muito especial com a motivação. Um trabalhador motivado tende a apresentar maior produtividade, a estar mais predisposto para cumprir objectivos e a ter maior empenho.

Ao criar, nas nossas empresas, um entorno propicio à motivação dos colaboradores, estamos a influir positiva e directamente na sua produtividade, assim como a promover tacitamente o equilíbrio entre as suas vidas pessoais e profissionais. Esta conciliação está a adquirir uma importância cada vez maior, em grande parte porque, no mundo actual, estamos constantemente conectados. No que diz respeito à vida das empresas durante este período de pandemia, considero que a questão da gestão de tempo representou um dos maiores desafios para a maioria das pessoas.

O facto de mudarmos, de um dia para o outro, o nosso local de trabalho do escritório para casa, de termos de preparar um espaço adequado ao desempenho das nossas funções, de conciliar no mesmo espaço a gestão do trabalho e da família, obrigou-nos a adoptar novos métodos para conseguirmos manter os níveis de produtividade, e por vezes novos horários, para mantermos o nível de entrega ao cliente.

Dando um exemplo concreto, no caso do Grupo Your – que apesar de tecnologicamente preparado para o trabalho remoto com acesso à rede interna sem quebras e sem demoras –  nos primeiros 15 dias a 3 semanas da pandemia, houve uma quebra registada na produtividade (o que é compreensível), até as pessoas conseguirem encontrar o um novo ponto de equilíbrio, conciliando de formas praticamente inéditas a vida pessoal, onde se inclui a familiar, com o trabalho a partir de casa.

Os colaboradores com filhos foram fortemente afectados por terem de desempenhar mais uma “profissão” – a de serem os braços direito e esquerdo das escolas e dos professores que à distância leccionavam as matérias propostas para o ano lectivo –, o que veio a coincidir com o típico horário de trabalho e a exigir de certa forma uma compensação com outros horários de actividade, para evitar o risco de quebras na produtividade e no delievery aos clientes.

Por outro lado, também se registou o fenómeno de colaboradores que enfrentaram uma realidade muito mais isolada e solitária, desprovida do convívio social muitas vezes característico da vida do escritório ou local de trabalho. Estes exemplos explicam porque houve quebras de motivação e, consequentemente, de alguma produtividade, ainda que fortemente contrabalançada por imensas reuniões digitais, o que, embora também possa ter os seus defeitos, sobretudo quando utilizadas em excesso, ajudaram-nos a ligar-nos uns aos outros e a fazer-nos sentir que estávamos todos juntos, com missões e objetivos comuns, partilhando as mesmas emoções e sentimentos.

Depois de três longos meses, posso afirmar com orgulho que a nossa produtividade foi segurada pela nossa resiliência, sim, mas sobretudo pela nossa adaptabilidade ou agilidade acrescida, virtudes que nasceram da vontade de as lideranças e das equipas reformularem os seus papeis e formas de trabalho, algo essencialmente provocado por um contexto de crise, que se soubermos aproveitar pode revelar-se uma oportunidade, cujos efeitos perdurarão no tempo e na vida das empresas e sociedade civil.

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