Prognóstico para 2023: Começa onde estás, com o que tens!

Ao virar as últimas páginas de 2022, qual é o sentimento dominante? O fascínio pelas páginas em branco que aguardam para ser escritas em 2023, um nervoso miudinho pela incerteza óbvia que se avista (#omg), ou um paciente “vou esperar para ver”?

 

Por Rita Oliveira Pelica, chief Energy officer ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs

 

Arrisco-me a afirmar que 2023 não será um ano perfeito, tal como nenhum dos anos anteriores o foi. Será igual, melhor ou pior? Não sei, não consigo prever o futuro, mas provavelmente acontecerá um dos três cenários apontados. É normal não saber. Tal como deveria ser normalizada a nossa preparação para lidar com isso. Admitindo que há coisas que controlamos e influenciamos, e outras que nem por isso.

Partindo deste pressuposto, Saras Sarasvathy (2001) desenvolveu uma metodologia que apelidou de Effectuation, segundo a qual os empreendedores são pessoas que pensam de acordo com uma lógica do efeito (e não da causa): são como exploradores, viajantes em zonas ainda não mapeadas, procurando resolver problemas, encontrando oportunidades e desenvolvendo ideias. Pessoas proactivas, que gostam de fazer “as coisas mexer” pelo oposto ao “deixa andar, logo se vê!”.

Assim são os intraempreendedores, exploradores que enfrentam desafios e que, de forma astuta, procuram resolvê-los, recorrendo à sua imaginação (um dos cinco I do intraempreendedorismo), mas com os pés assentes na terra, por saberem de antemão que os recursos disponíveis são, na maioria das vezes, inferiores aos pretendidos – sejam eles humanos, materiais ou financeiros.

Torna-se então vital dar sonoridade à frase “começa onde estás e com o que tens”. Dar corda aos sapatos. Começar. Ter iniciativa. Arranjar soluções, para além de todo o cardápio de desculpas que podiam ser elencadas.

Sarasvathy afirma que não necessitamos de prever o futuro se nos focarmos no que controlamos, especificamente nos meios que temos disponíveis. Os empreendedores pensam em termos de controlo (o que está ao alcance) e não de incerteza (faz parte do futuro!). E é precisamente esse o seu ponto de partida, no modelo que desenvolveu, assente em cinco princípios:

1. Pássaro na mão – não há ideias ou oportunidades perfeitas. Há que testá- -las, colocá-las em prática. E todos nós temos meios/recursos à disposição: a minha identidade (quem sou), o que sei (o meu conhecimento), quem conheço (a minha rede de suporte/network), o que me motiva;

2. Perda aceitável – em qualquer experiência há potenciais ganhos e potenciais perdas; qual é a perda que estou disposto(a) a aceitar? O que quero arriscar e como mitigar esse risco? A perda envolvida (no caso de não correr bem) é aceitável? Não se podem avaliar oportunidades apenas baseadas no seu (potencial) resultado positivo, a “lógica do efeito” parte justamente do pressuposto de que o futuro é fundamentalmente imprevisível;

3. Manta de retalhos – o papel fundamental das parcerias com pessoas e organizações que se comprometem na exploração conjunta das oportunidades; neste contexto, a ligação a stakeholders e parceiros improváveis é ainda mais importante do que as análises de mercado ou o planeamento estratégico;

4. Limonada – “quando a vida te der limões”, aceita-os e faz algo com isso, agradecendo as boas surpresas e as contingências que surgem pelo caminho (limões mais doces ou mais ácidos); lida rapidamente com o inesperado e com a frustração – seguindo em frente na procura das boas oportunidades;

5. Piloto do avião – “controla o controlável”, assume o comando do que está sob a tua influência. Não prevejas o futuro, co-cria-o. Dá as mãos aos constrangimentos e aos parceiros para juntos voarem mais alto. E por esse lado, vão começar já com a escrita criativa, com o que têm à mão, ou vão esperar por 2023?

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