Promover a Inteligência emocional durante o confinamento: 3 dicas para gerir as emoções

Porque é que algumas pessoas conseguem lidar inteligentemente com a adversidade do confinamento enquanto outras deprimem e desanimam? O primeiro impulso poderá levar-nos a assumir que pessoas mais racionais têm mais facilidade em lidar com as dificuldades do que pessoas emocionais, mas a verdade é que não é o Quociente de Inteligência (QI) o factor mais importante para o nosso bem-estar psicológico em tempos difíceis, mas sim a nossa inteligência emocional.

Por Amália Carvalho, fundadora e criadora do podcast de Inteligência emocional – Bela Questão

 

A inteligência emocional é, nas palavras de Daniel Goleman, a “capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos.” Esta “capacidade” melhora drasticamente a nossa vida porque nos dá as ferramentas necessárias para navegarmos com sucesso nas relações que temos connosco e com os outros.

Há uma tendência na nossa sociedade para culpabilizar as emoções da destabilização emocional dos indivíduos. Se já era assim antes da pandemia, agora, é ainda mais difícil de olhar para as emoções que se atravessam à nossa frente, após quase um ano de anormalidade social, económica e cultural, e não as ver como vilãs psicológicas que nos causam alterações comportamentais indesejáveis, como irritabilidade, impaciência ou frustração, nas diferentes esferas da nossa vida. Contudo, quem conhece as suas próprias emoções, percebe que representam a forma mais primitiva (e pura) que o corpo tem de comunicar com o pensamento.

Quando o nosso organismo precisa de hidratar, temos sede e quando precisa de se alimentar, temos fome. São sinais inequívocos e fisiológicos que reconhecemos de forma inata. O que acontece é que quando a nossa mente precisa de evoluir, sentimos inquietude, quando a nossa mente precisa de socializar, sentimos solidão e assim sucessivamente, mas a decifração destes sinais, ao contrário da fome e da sede, requer educação e desenvolvimento de conhecimento.

Ao contrário das necessidades fisiológicas, as nossas emoções são intermináveis. A cada dia que passa é possível descobrir novos sentimentos, com diferentes intensidade e amplitudes, o que dificulta a nossa autocompreensão e o nosso autoconhecimento. Que bom que seria que os outros nos pudessem dizer porque sentimos o que sentimos e como podemos usar isso a nosso favor. É precisamente aqui que entra a importância da literacia emocional. No fundo, trata-se de conhecimento sobre as emoções que se traduz numa compreensão e uso críticos e construtivos, no contexto em que surgem.

É possível treinar a inteligência emocional. Mais do que isso, é essencial. De seguida, apresento-lhe as três estratégias que tenho utilizado regularmente, com base nas investigação e em workshops em que participei sobre esta temática.

  1. Desenvolva o seu conhecimento sobre inteligência emocional através de podcasts, audiolivros, livros ou workshops. A melhor coisa de se viver na era digital é que o conhecimento está ao nosso alcance, a qualquer momento, e cada vez mais os autores e especialistas disponibilizam o seu conhecimento em diferentes meios para estarem mais próximos do seu público.

 

  1. Encontre a sua forma de meditar. Até o forte e imbatível Arnold Schwarzenegger é adepto da meditação, uma prática recomendada pelos mais diversos líderes e pensadores da atualidade como Tony Robbins, Ray Dalio e Seth Godin, para mencionar alguns exemplos. Há várias formas de aprender a meditar online, seja através de vídeos, podcasts ou apps. Pessoalmente, aprendi a meditar com a versão gratuita da app Headspace, que me ensinou as bases e posteriormente treinei num retiro de silêncio. A conclusão a que chego é que por mais conhecimento que se possa adquirir, o importante é pôr em prática. Não é preciso muito conhecimento, basta sentar-se confortavelmente, fechar os olhos e ter um exercício de concentração à sua escolha. O mais fácil é contar a respiração até 10 e reiniciar repetidamente a contagem. O que vai acontecer é que surgirão inúmeros pensamentos e ganhará consciência das suas emoções, mas assumindo o papel de observador, através do tal exercício de concentração.

 

  1. Escreva todos os dias três coisas pelas quais sente gratidão. Um exercício simples de escrita que lhe vai direcionar a mente para o que já conquistou, para as pequenas coisas e para o lado bom da vida. Oprah Winfrey, no seu livro “O que sei de verdade”, mostra como o exercício de gratidão foi determinante para o seu sucesso. Escrever por si só é um exercício de relaxamento, pela calma que o papel e a caneta representam, em contradição com os movimentos frenéticos de um ecrã. Ao final de um ano, terá 1095 razões para se sentir feliz e bem consigo próprio. Acima de tudo, vai perceber o que valoriza, quais são os seus valores e o que contribui para as suas emoções positivas.

 

Ser “emotivo” é, aos olhos da sociedade, ser frágil e vulnerável. No mundo do trabalho, as emoções são frequentemente mal vistas porque “atrapalham a tomada de decisão”. Se as decisões têm a ver com produtos e operações, confere, contudo, se as decisões estão relacionadas com liderança e pessoas, sem a componente emocional, o resultado pode ser catastrófico. Por isso, um líder deve ter inteligência emocional. Deve ter autoconhecimento, autocontrolo e saber reconhecer e gerir emoções, as suas e as dos outros. O mundo é um lugar melhor quando as pessoas têm mais autoconsciência e desenvolvem a sua inteligência emocional.

 

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