Quais as prioridades dos líderes no actual contexto?

Apesar do clima de incerteza, os líderes empresariais focam-se no futuro da saúde, no bem-estar financeiro e nas carreiras dos seus colaboradores, de acordo com o estudo “Global Talent Trends 2020”, da Mercer, divulgado esta segunda-feira.

 

É especialmente em tempos desafiantes, como este da pandemia da Covid-19 que vivemos, que os líderes se focam nos seus colaboradores, promovendo principalmente estilos de vida saudáveis, apoiando o seu bem-estar financeiro e promovendo o desenvolvimento de competências, à medida em que os postos de trabalho se vão também transformando devido aos desenvolvimentos tecnológicos e inteligência artificial.

A razão parece ser simples, de acordo com o estudo “Global Talent Trends 2020” da Mercer. 34% dos colaboradores espera que os seus empregos sejam substituídos em três anos; 61% acredita que a sua empresa está a prepará-los para o futuro; e 55% confia que a sua empresa irá recoloca-los numa nova posição, na eventualidade de uma revolução tecnológica.

À medida que as empresas se preparam para lidar com o futuro, devem repensar no seu propósito, bem como nas suas responsabilidades para com os seus colaboradores e os seus salários, uma vez que 63% dos líderes de Recursos Humanos estima uma estagnação nos salários. Para além disso, é necessário que as empresas o façam enquanto enfrentam desafios inesperados como é o caso da Covid-19 e um provável abrandamento económico que poderá causar impacto na adoção de novos métodos de trabalho.

«É importante que se encontre um equilíbrio entre os aspetos económicos e o foco nas pessoas em todas as decisões que devam ser tomadas, principalmente agora, que enfrentamos perguntas, preocupações e a incerteza de uma pandemia global. As empresas precisam de ter um modelo financeiro e uma cultura que lhes permita preparar-se e investir no futuro», defende Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal.

«Esse repensar de objetivos e prioridades é vital e transversal a qualquer empresa, mas especialmente para a área dos Recursos Humanos. As conclusões do estudo deste ano deixam claro que a transformação da função de RH é uma componente essencial para a criação de uma organização sustentável», destaca.

 

Quatro tendências para 2020

  • Foco no futuro

Trabalhar em conjunto de forma a garantir que as pessoas prosperem agora e no futuro. Com uma nova forma de olhar para os negócios, 85% dos executivos concorda que o Propósito de uma organização deve-se estender para além dos acionistas, mas apenas 35% das empresas o cumprem. Isto apesar de um em cada três colaboradores dizer que prefere trabalhar para uma empresa que mostre responsabilidade para com todas as partes interessadas e não apenas para com os acionistas e investidores.

Para além disso, grande parte do sucesso de uma empresa depende da forma como consegue apoiar e desenvolver talento e ainda da sua capacidade de manter um negócio sustentável. Esta é uma prioridade para os executivos – 68% revela que o seu foco irá concentrar-se sobretudo em metas ambientais, sociais e de governance (ESG). Do lado dos colaboradores, 61% confia que a sua organização irá prepará-los para o futuro do trabalho e 63% sentem-se à beira de entrar em “burnout”; 72% dos colaboradores mais experientes revela que planeia trabalhar após a idade de reforma e 55% pertencente à Geração X diz que as oportunidades de avançar dependem da longevidade no local de trabalho. Uma melhor gestão dos trabalhadores mais velhos faz parte da criação de valor. Mais de três quartos dos colaboradores (78%) ambicionam um planeamento financeiro a longo prazo, mas apenas 23% das empresas afirma providenciar educação financeira aos seus colaboradores.

«Cada parte da organização tem uma ou mais dependências e apoios», explica Diogo Alarcão. «Para a área de Recursos Humanos é muitas vezes a tecnologia. Para os colaboradores é a confiança e para executivos são os próprios RH. Quando esses apoios são fortes, tudo é amplificado; quando são fracos comprometem a capacidade de todas as partes construírem um futuro sustentável»

Na maioria das regiões, os requisitos mais valorizados a nível profissional pelos colaboradores são oportunidades de crescimento pessoal e profissional (73%). Na Ásia, ter conhecimento das capacidades que se tornarão importantes ou obsoletas no futuro é uma prioridade (71%), enquanto que no continente Africano, 72% dos colaboradores valorizam gestores com capacidade de ter conversas úteis para a carreira, independentemente da fase da vida. No Canadá, 82% refere que o conteúdo de aprendizagem das suas empresas se enquadra nas qualificações necessárias para o futuro.

No caso europeu, quando inquiridos sobre os requisitos mais valorizados na promoção da carreira, os colaboradores apresentaram o seguinte TOP 5 (mais importantes):

– 67% revela o facto de a sua empresa lhes dar a oportunidade de crescer tanto a nível pessoal como profissional;

– 65% indica a sua empresa ter noção das suas capacidades, interesses e das suas áreas de melhoria a nível de competências;

– Também 65% refere o conhecimento de que competências são necessárias no futuro e/ou quais poderão estar em risco de ficar obsoletas;

– 64% considera a possibilidade de fazer formação adequada às competências que serão necessárias no futuro;

– Outros 64% afirma ter acesso adequado a informação sobre opções de carreira.

 

  • Aposta na transformação de competências

Transformar a força de trabalho através da mudança de competências para a nova economia mundial. A requalificação é o investimento mais propenso a gerar sucesso nos negócios, sendo que 99% de todas as organizações afirma estar a apostar na requalificação. A falta de habilitações foi o principal motivo pelo qual as transformações falharam. Embora 78% dos colaboradores diga estar preparado para adquirir novas competências, 38% afirma que não tem tempo suficiente para aprender. Além disso, apenas 34% dos líderes de RH estão a investir na requalificação dos colaboradores, como parte da estratégia de implementação do futuro do trabalho e 40% não sabe quais as habilitações que a sua equipa possui atualmente. “Para se manter na linha da frente, as empresas precisam de se transformar rapidamente, em grande escala e envolver as diferentes gerações.”

Em todas as regiões, os colaboradores dizem que a inovação será a competência mais requisitada no próximo ano. Os líderes de RH da América do Norte e da América Latina concordam com os seus colaboradores. Noutras regiões (como África, Europa, Médio Oriente, Pacífico), os líderes de RH valorizam mais o marketing digital e a análise de dados (na Ásia). Na Alemanha, os colaboradores e líderes de RH também concordam que o Marketing Digital é umas das principais prioridades.

 

  • A Ciência e Intuição

Perspectivar o futuro e apostar na Inteligência Artificial. Os avanços na inteligência computacional continuam a ser prementes em todos os setores e modos de vida: o uso da análise preditiva quase quadruplicou em cinco anos (10% em 2016 para 39%, atualmente). Contudo, apenas 43% das empresas usam medidas para identificar colaboradores com probabilidade de sair; 41% sabe quando é que alguém importante para a empresa se irá reformar; 18% conhece o impacto das estratégias salariais no desempenho; 15% consegue determinar se é melhor contratar colaboradores e 12% estão a recorrer a dados analíticos para corrigir desigualdades e impedir que estas ocorram.

Outras formas de armazenamento de dados dos colaboradores também estão a aumentar: 62% das empresas estão a usar questionários e 33% planeiam também investir nessa técnica em 2020. Enquanto as máquinas ultrapassam os humanos em tarefas que requerem escala e velocidade, nós conseguimos ultrapassá-las no que se refere ao “bom-senso” e análise intuitiva que são elementos críticos da tomada de decisões éticas.

Apesar de 67% dos líderes de Recursos Humanos afirmarem estar confiantes que conseguem garantir e que a Inteligência Artificial não irá criar enviesamentos , os códigos de ética sobre recolha e aplicação de dados de pessoais ainda continuam, em muitos casos, nos seus primórdios. A avaliação de talentos é igualmente uma área em que a intuição humana é necessária, a par do recurso a ferramentas digitais. Atualmente, apenas um em cada dois colaboradores (52%) teve uma experiência de avaliação de competências que considerou positiva e achou útil.

Em todas as regiões existe uma certa desconexão entre a informação que os executivos consideram mais relevante e a informação que lhes é fornecida pelos RH. No Pacífico, 53% dos líderes de RH fornecem dados analíticos referentes à segunda grande prioridade dos executivos, que se refere à necessidade de perceber porque é que umas equipas têm sucesso e outras não. Apenas 39% disponibilizam dados analíticos sobre a primeira prioridade dos executivos que é perceber quais os principais fatores promotores de elevados níveis de compromisso com a organização.

 

  • Potenciar a experiência

Inspirar e motivar as pessoas, redesenhando a sua experiência de trabalho. Garantir uma experiência positiva e que faça sentido aos colaboradores é a principal prioridade dos Recursos Humanos e 58% das empresas estão a reestruturar-se para se centrarem mais nas pessoas. No entanto, apenas 27% dos executivos acreditam que a experiência dos colaboradores trará um retorno comercial. E embora 61% dos colaboradores confie na empresa para cuidar do seu bem-estar e 48% dos executivos o classifiquem como uma das principais preocupações da força de trabalho, apenas 29% dos líderes de RH têm uma estratégia de saúde e bem-estar. Esta é uma área que não deve ser desconsiderada porque as empresas que se focam na saúde e bem-estar de todos têm quatro vezes mais probabilidade de prosperar.

Os colaboradores mais motivados são essenciais para a transformação das empresas: são mais propensos a não sair da empresa; são mais resilientes e estão mais propensos a adquirir mais qualificações. A transformação dos Recursos Humanos está no topo das prioridades das empresas e promover uma experiência positiva aos colaboradores exige uma abordagem holística e não por silos por parte dos RH. No entanto, apenas 40% dos responsáveis dizem ter uma estratégia integrada.

«As interações com os colaboradores são importantes e todas elas, desde as relacionadas com o bem-estar até ao salário justo ou o trabalho flexível fazem parte dessa experiência do colaborador», refere Diogo Alarcão. «A transformação de mais de vinte anos que se verificou nos RH foi importante, mas teve um sucesso relativo. As empresas precisam de repensar os seus métodos e esquecer os modelos tradicionais de RH.»

 

No topo das prioridades dos RH na Europa, América do Norte e Médio Oriente está a experiência do colaborador, enquanto que os RH da Ásia e do Pacífico consideram mais prioritário as práticas transformadoras de atração e gestão de talentos (recrutamento, gestão de desempenho e sucessão). Os RH na América Latina, especificamente México e Brasil, consideram prioritário investir na aprendizagem e requalificação.

A quinta edição do estudo “Global Talent Trends 2020” da Mercer partilha ideias de mais de 7.3000 executivos de negócios, líderes de RH e colaboradores, fornecendo um profundo conhecimento em nove setores-chave de 16 geografias, em todo o mundo.

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