Quer as boas ou as más notícias? Comecemos pela “boa”: o seu emprego vai acabar!

Nos últimos tempos, temos sido constantemente bombardeados com uma série de estudos e pesquisas que apontam e anunciam os empregos que vão acabar no futuro e os que vão ter futuro “no futuro”, seja lá isso o que isso for…

Por Pedro Ramos, CEO da Keeptalent Portugal e presidente da APG – Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas

 

Ora, por via da evolução da inteligência artificial no mundo do trabalho, das tais mudança e transformações avassaladoras, ou simplesmente pelos supostos e anunciados novos contextos e posicionamentos das pessoas na sua relação com o trabalho, todas as semanas aparecem rankings de empregos em alta e outros em baixa, no dito futuro do trabalho que, muitas vezes, apontam em direções praticamente opostas.

Proponho, desde já, que este item “o seu emprego no futuro morre ou floresce” seja incluído nas secções de astrologia nas revistas “da especialidade”… Ou seja, todas as segundas-feiras, antes de ir trabalhar, é melhor ver se o seu emprego vai morrer ou se, pelo contrário, está de boa saúde e recomenda-se. Um horóscopo completo deve avisar e alertar as pessoas não só para o amor, a saúde e o trabalho, mas também para a “saúde” do próprio trabalho…

E, sim, se nos dermos ao trabalho de lermos os estudos todos, vamos encontrar profissões que ora vão morrer no futuro, ora vão florescer e têm futuro promissor. Ninguém nos avisa o prazo de validade do dito estudo nem durante quanto tempo podemos dormir descansados… Podemos fazer várias conjecturas no meio de toda esta esquizofrenia… Por exemplo, alguém anda a dormir descansado, pois já foi anunciado que o seu emprego vai morrer. Não vai ter de aturar mais aquele chefe durante muito tempo, pois está na altura de ir fazer a tal formação de requalificação profissional. Enfim… e, de repente, eis que aparece outro estudo que diz que esse tal emprego está afinal para “lavar e durar”… Entendam-se, senhores dos estudos!

Ou assumimos que vamos mesmo passar a consultar as previsões da semana ou o melhor é, desde já, assumirmos que todos os empregos vão (mesmo) morrer, num futuro mais ou menos próximo. E, por isso, vamos começar já a mudar de “chip mental”, deixando de pensar e viver numa de “eu sou gestor de RH” ou “eu sou contabilista”, para uma versão 5G que coloca cada um de nós a pensar e a viver numa lógica de “eu estou como…” [numa versão no português do Brasil que acho imensa piada… “eu actuo como contabilista”, por exemplo].

Ser e Estar, neste caso, é que serão definitivamente dois verbos distintos no futuro. Felizmente, em português, já conseguimos fazer essa destrinça. Imaginem o desafio dos milhões de falantes de outras línguas onde nunca ninguém inventou forma de fazer esta separação.

Ora bem… Chegamos ao ponto… Tudo é temporário e actuamos enquanto quisermos, soubermos e for possível e desejável a nossa intervenção.

Por isso, como prefiro sempre as boas notícias no princípio – pois “tenho para mim” que se receber primeiro as boas notícias terei a estrutura e a “bagagem emocional” para receber qualquer outra notícia menos boa -, a “boa notícia” que lhe trago é mesmo esta: no futuro todos os empregos vão morrer! Pelo menos, na nossa visão actual dos mesmos. Há aqui, afinal, uma segunda boa notícia: é que se sentirmos e vivenciarmos o nosso emprego como algo do tipo “eu actuo como…”, conseguimos manter a dose da atenção, actualização e flexibilização necessárias para sentir o gozo pela renovação e pelo crescimento.

É verdade, com “isto tudo”, já me esquecia de dizer que, na “compra das duas boas notícias acima”, há uma terceira de bónus. Aqui vai: a morte de um emprego é sempre a possibilidade de o (re)nascimento de mais dois ou três. E – aqui para nós – mesmo hoje já há empregos (e empregados) que já morreram mas ainda não lhes disseram. E, noutros casos, a saúde física e mental em alguns empregos já teve melhores dias.

Está a ver a tal frase (e juro que até hoje ainda não tinha entendido o real alcance!) que “na saúde e da doença, na alegria e na tristeza, até que a morte nos separe” ? Também se aplica às relações no (nosso) mundo do trabalho.

Neste maravilhoso mundo do trabalho, há mesmo solução para tudo, mesmo para a morte! Todos os empregos anteriores aos nossos acabaram por morrer e os nossos seguirão o mesmo caminho. Faz parte da renovação, da nossa própria mudança, do “estarmos” e não “sermos” nas nossas organizações.

E, repare, amigo leitor, não é o facto de “bruxedo” rimar com “emprego” que vamos estar ansiosamente à espera do dia da nossa “morte profissional”. É que “emprego” também rima com “desapego” ou até com “enredo”… E se tivermos de crescer, evoluir, sermos donos da nossa própria história de renovação profissional, podemos até assumir que a morte do nosso emprego até pode ser “a” solução!

O seu emprego vai ou já morreu? Paz à sua alma!

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