Randstad: A flexibilidade como factor de sucesso

O trabalho temporário continua a ser um recurso vantajoso para empresas e também para colaboradores.

 

A Randstad tem uma experiência de décadas com o trabalho temporário em Portugal, e nem sequer a pandemia e todos as transformações a que esta obrigou retiraram relevância a este modelo laboral. Pelo contrário, David Ferreira, director staffing & inhouse da Randstad Portugal, explica à Human Resources Portugal que o trabalho temporário foi determinante em alguns sectores de actividade, devido à imprevisibilidade com que estavam a lidar.

 

Ao fim de dois anos de pandemia, como evoluiu o segmento do trabalho temporário?
O trabalho temporário ganhou uma relevância ainda maior durante a pandemia, mostrando-se determinante para a continuidade da maioria dos sectores. Numa altura em que a imprevisibilidade do que poderia vir a acontecer era uma realidade, onde de um dia para o outro as pessoas podiam ficar impossibilitadas de trabalhar, o recurso a trabalho temporário foi, para muitas empresas, uma bóia de salvação e a forma de garantir a continuidade dos seus negócios. E hoje vimos que essa continua a ser uma tendência e que nos mostrou como o recurso a trabalho temporário pode ser uma vantagem tanto para empresas como para trabalhadores. A flexibilidade e a capacidade de adaptação de que tanto se falou durante a pandemia não vai desaparecer, e vai continuar a merecer a atenção das empresas. O trabalho temporário vem nessa linha, permitindo reforçar e suprir as necessidades de talento dentro das organizações ao mesmo tempo que estas acompanham de mantém vivos os seus negócios. Hoje, cada vez mais as empresas se organizam e gerem com base em projectos, também eles temporários, e onde os seus trabalhadores são alocados e, por isso, a ideia de que ter um contrato temporário é precário ou prejudicial é uma forma muito redutora de olhar para este segmento do mercado de trabalho.

Qual foi o impacto da pandemia e como se está a adaptar este segmento à nova realidade que temos hoje?
A pandemia foi, naturalmente, um período desafiante para qualquer segmento ou modelo de negócio. Exigiu uma capacidade de reacção imediata, ao mesmo tempo que se lidava com o incerto. No caso do trabalho temporário a flexibilidade e capacidade de reacção eram já uma constante, pela natureza do próprio modelo. A gestão de pessoas num regime de trabalho temporário implica um acompanhamento muito próximo e uma capacidade de olhar para a frente, sempre na perspectiva de perceber e antecipar quais possam vir a ser as necessidades de recursos a curto/médio prazo. Por isso, podemos falar muito mais do impacto que a pandemia teve na continuidade dos diferentes sectores de actividade que foram obrigados a parar de um dia para o outro do que propriamente no modelo de trabalho temporário. Claro que a preocupação com as pessoas foi uma constante, como já o era e hoje continua a ser, porque sabemos que ter as pessoas certas é o que garante o sucesso de qualquer negócio.

 

Que tipos de empresas/sectores procuram hoje trabalhadores temporários e para suprir que necessidades?
É normal que existam empresas e sectores que sempre recorreram a este modelo de trabalho, como os casos da restauração, hotelaria ou retalho, sectores onde, pela questão da sazonalidade, lhes é indissociável este tipo de contratação. Toda a área dos serviços de atendimento ao cliente saiu reforçada deste período pandémico, mostrando o quão vital é ter as pessoas certas prontas para integrar o negócio, e o mesmo aconteceu com os perfis mais tecnológicos onde cada vez mais o foco no trabalho por projectos é maior. E, igualmente, o sector da indústria e da logística, já muito habituado a esta dinâmica do trabalho temporário como uma vantagem competitiva e que lhes permite fazer frente a momentos de pico de produção, por exemplo.

 

Quais as competências que as empresas mais procuram para trabalho temporário?
A flexibilidade e capacidade de adaptação são skills que intrinsecamente estão ligadas a modelos de trabalho temporário, mas é redutor olhar para estes perfis apenas nesta vertente. Pela natureza do modelo de trabalho, estes são perfis muito orientados para objectivos e com uma grande valência no que toca às competências técnicas que adquiriram ao longo dos projectos em que foram estando incluídos.

 

Quais as vantagens que este regime apresenta às empresas?
É sem dúvida uma vantagem para as empresas, permitindo que se dediquem exclusivamente ao core do seu negócio, já que todo o processo de recrutamento, onboarding, gestão contratual e trabalho administrativo que está subjacente à contratação e gestão de pessoas, é tratado directamente por um parceiro externo. Vendo por esta óptica, podemos mesmo assumir que se trata de uma parceria, onde tudo o que implica a gestão de pessoas, está fora do âmbito da própria empresa.

Claro que novamente aqui a flexibilidade volta a ser um tópico muito importante, por permitir a contratação de um certo número de trabalhadores de forma muito rápida e para processos específicos, mas nunca esquecendo a legalidade dos procedimentos de acordo com a legislação em vigor. Igualmente, e numa óptica de gestão de custos, é também uma vantagem para as empresas, já que este é um custo alocado por um período de tempo determinado e pensado para tal. Ao mesmo tempo, a contratação de um trabalhador temporário pode também servir como um teste para perceber se esta é uma necessidade a longo prazo e que acabe por justificar a contratação sem termo.

 

E aos colaboradores?
Flexibilidade é, novamente, a palavra de ordem. O conceito de emprego para a vida já há muito que deixou de fazer parte da realidade do mundo do trabalho e, por isso, o estigma que antes existia no que respeita a trabalho temporário já não faz sentido. A oportunidade de adquirir novas e diferentes experiências com base em diferentes projectos é, sem dúvida, uma mais-valia para qualquer profissional. Acredito que haja mais vantagens do que desvantagens, mas também que um dos principais desafios passa por garantir que estes trabalhadores se sentem parte integrante da própria organização e se identificam com o seu propósito. Na Randstad essa é uma preocupação constante. O acompanhamento que é feito a estes trabalhadores é também chave para o sucesso.

 

Ainda do lado do colaborador, quais os perfis que recorrem ou mesmo procuram trabalho temporário?
Perfis das áreas de indústria e logística, mas também os profissionais do sector da hotelaria, restauração e agricultura pela questão da sazonalidade. E agora mais ainda todos os profissionais do âmbito do marketing e tecnologias da informação, muito influenciados pela vontade de trabalhar e assumir diferentes projectos ao longo do seu percurso profissional.

 

Na Randstad, qual é a quota que o trabalho temporário ocupa hoje em termos de negócio e como se compara ao período pré-pandemia?
A Randstad tem uma grande experiência no âmbito do trabalho temporário. Enquanto empresa n.º 1 no sector dos recursos humanos, fazemos questão de garantir que conseguimos apoiar as empresas seja qual for o modelo ou regime de trabalho que queiram adoptar. Na verdade, mesmo em tempos de pandemia, nunca deixámos de trabalhar nem de estar ao lado dos nossos clientes. Assistimos inclusivamente a um crescimento na procura por determinados perfis para sectores como a logística e o atendimento ao cliente, por exemplo. E acredito que foi um momento essencial para perceber a importância que as pessoas têm nos negócios e empresas, pois sem elas não há capacidade para as manter vivas. Por isso, acho que aprendemos muito e vamos continuar a crescer, e que cada vez mais o trabalho temporário vai ser um modelo a adoptar.

 

Que ferramentas/tecnologias a Randstad usa e disponibiliza aos seus clientes para agilizar a força de trabalho neste contexto?
Na Randstad acreditamos numa estratégia que combina o tech com o touch e utilizamo-la diariamente. Acreditamos que é a combinação entre o lado humano e as ferramentas tecnológicas que permitem que, por um lado, os nossos candidatos atinjam o seu verdadeiro potencial, como no caso das empresas, consigam chegar mais longe no seu negócio. Por isso, disponibilizamos aos nossos clientes e candidatos um conjunto de ferramentas tecnológicas de suporte à decisão. O relevate schedule é um exemplo claro disso e um verdadeiro caso de sucesso. Trata-se de uma app que permite fazer a gestão de horários e turnos e comunicar em tempo real com os trabalhadores. Do lado do cliente permite gerir escalas, planear turnos, propor horas extra, introduzir avaliações, registos de horas e ainda comunicar de forma imediata. Sendo esta uma comunicação bidireccional já que do lado dos trabalhadores permite também a comunicação com a empresa e aceitar turnos em tempo real de forma rápida e imediata.

Quais os maiores desafios que se apresentam hoje ao trabalho temporário?
Em Portugal sofremos muito com a questão dos salários apesar de termos assistido a um aumento gradual nos últimos tempos. Há ainda uma ideia muito errada e um estigma de quando falamos em trabalho temporário muito ligado à precariedade, o que não é verdade. É importante perceber que nem tudo é mau, e que um trabalhador com um trabalho temporário não é menos valorizado do que um trabalhador com contrato a termo incerto. Mais ainda, há que olhar para estas formas flexíveis de contratação como uma vantagem por exemplo para pessoas com níveis de integração no mercado de trabalho muito baixos, com escolaridade abaixo da obrigatória, por exemplo.

 

O estigma que sempre existiu em torno do trabalho temporário ainda se mantém? De que forma se pode informar e explicar este conceito de forma a desmistificá-lo?
Sim e não. Sim, se considerarmos as gerações mais velhas onde a ideia de um contrato sem termo e de um emprego para a vida era uma ambição. Não, se olharmos para estas novas gerações que olham muito para projectos, que os encaram como desafios e como formas de adquirir novas e diferentes competências. Acredito que serão certamente temas como a flexibilidade, a capacidade de adquirir novos conhecimentos e novas e diferentes perspectivas que vão fazer com que cada vez mais o trabalho temporário seja visto a bons olhos.

 

Quais os factores da nossa sociedade, actualmente, que levam à exigência de uma maior flexibilidade do trabalho?
A flexibilidade está já a ser encarada como uma das principais formas de atrair e reter talento e não falo aqui apenas na possibilidade apenas de um modelo de teletrabalho. A pandemia obrigou as pessoas a olharem para a sua vida profissional com outros olhos, a repensar aquilo que queriam para a sua carreira e o tema da conciliação vida profissional-vida pessoal foi muito escrutinado. Por isso, cada vez mais há que ter em conta que os trabalhadores procuram um equilíbrio e este equilíbrio passa por um modelo de trabalho que lhes permita crescer enquanto profissionais mas que, ao mesmo tempo, garanta o bem-estar e equilíbrio emocional.

 

Em que medida o trabalho temporário pode ser uma ferramenta útil para inserir os jovens no mercado de trabalho? Pode ser claramente uma vantagem. Primeiro porque permite a estes jovens um primeiro contacto com a realidade do mercado de trabalho, através do qual podem adquirir conhecimentos e entrar num mundo profissional que em muito difere do académico. Mas também porque é uma forma das empresas conseguirem ter sangue-novo, beberem e aproveitarem esta integração para olhar para novas perspectivas trazidas por estas novas gerações.

 

Que papel está reservado ao trabalho temporário num mundo pós-pandémico?
A ascensão de novas realidades laborais como a gig economy (projectos temporários qualificados e bem pagos) e o fim do “emprego para a vida” são indicadores de que há lugar para um futuro brilhante para os modelos de trabalho temporário. É importante quebrar estigmas e encarar as vantagens que esta flexibilidade, maleabilidade e rapidez trazidas à tona pelo trabalho temporário.

 

 

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Trabalho Temporário  publicado na edição de Março (n.º 135) da Human Resources .

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