Randstad: Flexibilidade, agilidade e produtividade: As vantagens do trabalho temporário
O trabalho temporário continua a ser uma solução para empresas que precisam de profissionais durante um tempo limitado e para sectores de actividade com necessidades sazonais, mas não só.
Há muito que o trabalho temporário representa uma oportunidade para as empresas darem resposta a necessidades e projectos com carácter provisório. No entanto, cada vez mais, também alguns perfis de candidatos encontram vantagens neste regime com vínculo temporário, dada a flexibilidade que permite para trabalharem em várias empresas e em diversos projectos, de forma a se desenvolverem profissionalmente de uma forma mais diversificada. Em entrevista à Human Resources Portugal, David Ferreira, director de Staffing & Inhouse da Randstad Portugal, explica como está a evoluir o trabalho temporário e de que forma esta pode ser uma solução que beneficia empresas e colaboradores.
O trabalho temporário é visto, por vezes, como sinónimo de precariedade. Esta visão está a mudar?
O trabalho temporário sempre sofreu do estigma da associação à precariedade, mas um vínculo contratual que tem por base um limite temporal não tem de estar associado a qualquer tema de instabilidade ou insegurança. Mais ainda quando vemos que hoje são os próprios profissionais, sobretudo das gerações mais novas, quem estabelece o seu próprio limite temporal para estar numa mesma empresa e que durante o tempo em que lá permanecem aquilo que querem é assumir mais e diferentes funções e projectos. É por isso que vemos cada vez mais o trabalho temporário a surgir até em perfis high level, com recurso aos programas de interim management, por exemplo.
De que forma o trabalho temporário pode ser uma resposta num mercado cada vez mais orientado para o trabalho por objectivos e projectos?
O conceito de emprego para a vida deixou de fazer sentido há já muito tempo. Hoje temos o desafio da inquietude das novas gerações, que procuram projectos, desafios, formação e desenvolvimento constante. Por isso, um vínculo contratual já não tem a importância que tinha há 10 anos, e nada tem a ver com estabilidade.
A estabilidade continua a estar no top 5 dos critérios mais importantes na escolha de um empregador, segundo os dados do Randstad Employer Brand Research 2023, mas ao mesmo tempo, vemos as novas gerações a permanecerem numa empresa no prazo máximo de cinco anos. Isto tem que pressupor que passam por diferentes projectos e funções. Esta é uma verdadeira mudança de paradigma e que ao mesmo tempo traz à tona o potencial do trabalho temporário que deixa de estar associado à insegurança, instabilidade ou a funções menos qualificadas.
Quais as necessidades típicas das empresas cuja resposta mais eficaz passa pelo trabalho temporário? Flexibilidade, agilidade e produtividade: isto é o que uma empresa procura num serviço de trabalho temporário, mas este é também um lugar comum quando falamos deste tema. Então como é que conseguimos acrescentar valor àquilo que oferecemos aos nossos clientes? Um cliente que procura uma solução de trabalho temporário procura uma resposta rápida e ágil de talento. E é aqui que acredito que conseguimos acrescentar verdadeiramente valor, juntando o know-how dos nossos consultores à componente tecnológica que permite precisamente trazer essa agilidade e rapidez.
Veja-se por exemplo, a base de dados de talento que temos disponível e da qual faz parte 10% da população activa em Portugal (desde os perfis indiferenciados até aos candidatos para funções de middle e top management). Da mesma forma, o acesso a um portal de cliente 100% digital que lhe permite ganhar eficiência no que diz respeito à gestão dos seus colaboradores, permitindo a aprovação de férias, folhas de horas, ausências, a validação de novos candidatos ou pedido de novos colaboradores ou mesmo a assinatura de contratos em larga escala. A par de tudo isto a componente de atracção de talento que permite também posicionar a marca e o cliente, ajudando a trabalhar a sua employer brand, são, sem dúvida factores diferenciadores.
Quais as vantagens deste tipo de regime para a empresa e para o trabalhador?
É, sem dúvida, uma vantagem para as empresas, permitindo que se dediquem exclusivamente ao core do seu negócio, já que todo o processo de recrutamento, onboarding, gestão contratual e trabalho administrativo que está subjacente à contratação e gestão de pessoas, é tratado directamente por um parceiro externo. Vendo por esta óptica, podemos mesmo assumir que se trata de uma parceria, onde tudo o que implica a gestão de pessoas está fora do âmbito da própria empresa. Igualmente, e numa óptica de gestão de custos, é também uma vantagem para as empresas, já que este é um custo alocado por um período de tempo determinado e pensado para tal.
Para os colaboradores, é importante perceber que nem tudo é mau, e que um trabalhador com um contrato temporário não é menos valorizado do que um trabalhador com contrato a termo incerto. Há que olhar para estas formas flexíveis de contratação como uma vantagem, por exemplo, para pessoas com níveis de integração no mercado de trabalho muito baixos, com escolaridade abaixo da obrigatória, mas também para atrair estas novas gerações sedentas de adquirir novas experiências e de assumir novos projectos.
E que desafios as empresas podem ter ao integrar trabalhadores temporários?
Acho que mais do que desafios devemos falar de oportunidades, e que este segmento de mercado pode ser mesmo visto como um facilitador, ajudando a promover a empregabilidade. Por exemplo, como forma de promover a empregabilidade de pessoas em situação de desemprego prolongado, ajudando-as na reintegração no mercado de trabalho, mas também ao nível da empregabilidade jovem, para talentos que queiram oportunidades de curta duração como forma de adquirir experiência. Este é apenas um exemplo de como o trabalho temporário pode promover a empregabilidade a par de todas as vantagens no que diz respeito à rapidez e agilidade que pode trazer às organizações.
Quais os sectores de actividade que apostam mais no mercado temporário? E quais as funções, cargos ou profissões em que o trabalho temporário tem maior incidência?
De acordo com o último barómetro do trabalho temporário publicado pela APESPE referente ao Q3 de 2023, vemos uma maior predominância nas empresas do sector automóvel, sendo responsável por cerca de 12 a 13% das contratações, seguidas das empresas do sector da logística (cerca de 8% a 9%), enquanto as empresas do sector da restauração ficam no 3.º lugar, representando 7%. Ou seja, falamos sobretudo de perfis das áreas de indústria e logística, mas também dos profissionais do sector da hotelaria, restauração e agricultura, pela questão da sazonalidade. E agora, mais ainda, todos os profissionais do âmbito do marketing e tecnologias da informação, muito influenciados pela vontade de trabalhar e assumir diferentes projectos ao longo do seu percurso profissional.
Qual é a visão da Randstad quanto ao desenvolvimento profissional de trabalhadores temporários?
Na Randstad garantimos as mesmas oportunidades de trabalho às nossas pessoas, tenham elas um vínculo contratual temporário, em regime de outsourcing ou integrado nos quadros da empresa. Aquilo em que apostamos é no potencial das nossas pessoas e não as diferenciamos com base num regime contratual.
Que tipo de profissionais as procuram soluções temporárias e com que motivações?
Hoje, o tema do vínculo contratual não é assim tão determinante como há uns anos. Se quisermos traçar o perfil do trabalhador temporário, os dados do Q3 2023 do Barómetro do trabalho temporário da APESPE dizem-nos que que este é maioritariamente um profissional com o ensino básico (que representa entre 56% e 58% das contratações), seguido dos profissionais com o ensino secundário (com percentagens entre os 35% e os 37%) e por fim, com apenas 6%, os profissionais com ensino superior. Ao nível de distribuição etária no terceiro trimestre, entre 25% e 27% dos colocados têm idade média acima dos 40 anos.
Estes dados demonstram como o perfil do trabalhador temporário é cada vez mais abrangente, não se cingindo apenas àquela ideia ultrapassada de que eram apenas os trabalhadores com menos qualificações e de sectores mais relacionados com a indústria, o retalho ou o apoio ao cliente os que tinham um contrato de trabalho temporário. Vemos cada vez mais os programas de interim management a ganharem maior relevância, por exemplo, e aqui já temos os perfis de quadros médios e superiores a assumir uma função temporária, com um contrato de trabalho temporário para um projecto específico.
Actualmente, o mercado de trabalho temporário está a crescer em Portugal?
Sabemos que a taxa de emprego temporário em Portugal é quatro pontos superior à média dos países da EU, o que pode estar relacionado também com a instabilidade que se vive no País e que leva a que as empresas tenham um maior receio na hora da contratação e, por isso, prefiram, pelo menos numa fase inicial, assumir um vínculo temporário. Ainda assim, o crescimento do emprego, independentemente de qualquer que seja o tipo de vínculo ou regime de contratação, é sempre um factor positivo, e o que vimos é o emprego a manter-se estável, o que significa que nós, empresas, estamos a ser capazes de gerar emprego. Ao mesmo tempo, isto também traz desafios quando vemos zonas do País com pleno emprego e para as quais, ainda assim, são necessários mais recursos.
Quais as tendências de futuro para o trabalho temporário?
As tendências para o trabalho temporário são as tendências para o mercado de trabalho. E aqui o que vemos é cada vez mais a necessidade de agilidade e rapidez por parte das organizações, a AI a entrar cada vez mais no mundo do trabalho e a mudar a forma como gerimos processos e a permitir a reinvenção de algumas funções, criando também novas oportunidades. Ao mesmo tempo, vemos uma maior necessidade de flexibilidade, tanto por parte das empresas como por parte das pessoas, que cada vez mais valorizam oportunidades de emprego que lhes permitam garantir uma maior conciliação.
Veja-se que pela primeira vez, o worklife balance passa à frente dos benefícios no grau de importância, segundo os últimos dados do Workmonitor da Randstad. A par disso, observamos que as novas gerações que estão a entrar no mercado de trabalho estão muito mais cientes do que querem para a sua carreira, e muito mais preocupadas com o seu próprio desenvolvimento profissional e em adquirir experiências e competências que lhes permitam manterem-se relevantes no futuro. Acredito que qualquer que seja o modelo ou vínculo, vamos continuar a viver momentos de escassez de talento, com um mercado claramente candidate-driven o que, por si só, também trará desafios às organizações.
Esta entrevista faz parte do Caderno Especial “Trabalho Temporário” publicado na edição de Março (n.º 159) da Human Resources.
Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.