Reconversão de profissionais: mais do que uma tendência, uma necessidade (vídeo)

A reconversão – ou seja, o reskilling, mas também o upskilling – está cada vez mais na ordem do dia. Numa altura em que o desemprego está a crescer, será esse o caminho para o redeployment? Como é esta tema encarado por empresas e profissionais? Estaremos “convertidos aos reconvertidos”? Munique Martins, responsável pelo campus de Lisboa da Ironhack, e Pedro Passos, Business Unit manager da Randstad Technologies, debateram o tema em mais uma retalk.

Por Margarida Lopes

 

Numa conversa moderada, como habitualmente por Ana Leonor Martins, directora de Redacção da Human Resources, publicação parceira da Randstad nesta iniciativa, começou por se tentar perceber se a requalificação ou reconversão é uma tendência ou uma necessidade do mercado de trabalho. Munique Martins acredita que se a pergunta tivesse sido feita no início deste ano, a resposta seria que é uma tendência. Mas com o que aconteceu este a ano, é uma necessidade. «Muitas pessoas viram-se completamente perdidas e sem um caminho, sem um futuro. E nesses casos a reconversão acaba por ser necessária para garantir que Portugal não vai ter uma taxa de emprego muito maior. Devemos observar as áreas onde há necessidade e procura. E para as empresas é uma forma de manter os profissionais. Actualmente é muito comum as empresas pagaram cursos na Ironack aos colaboradores para que estes sejam reconvertidos», partilha.

Já Pedro Passos não tem dúvidas de que a reconversão de profissionais é claramente uma necessidade, sobretudo nas áreas tecnológicas, porque não há técnicos suficientes no mercado para responder à procura. «São milhares e milhares de empregos de tecnologias de informação (TI) que estão por preencher, não só em Portugal. É uma tendência europeia e mundial. Há uma dificuldade cada vez maior de encontrar as pessoas certas para as funções certas. Daí que a reconversão de pessoas que estavam noutras funções seja uma necessidade. Pode ser considerado também uma tendência, porque algumas pessoas têm consciência que o mercado de TI paga acima da média. Mas diria que mais do que uma tendência, em termos de mercado, é uma necessidade», reitera.

Por outro lado, com a pandemia, empresas de todos os sectores foram obrigadas a desenvolver a vertente digital do negócio, provavelmente sem ter os profissionais mais qualificados para a desenvolver. Questionados sobre se as empresas estão a requalificar as pessoas que já têm na equipa ou a ir buscar ao mercado os profissionais, Pedro Passos afirma que a tendência continua a ser ir buscar ao mercado, porque as empresas procuram profissionais com um elevado grau de autonomia e capacidade nestas áreas tecnológicas. «Reconverter pessoas em informáticas é uma necessidade, mas as empresas nem sempre estão abertas a isso porque  têm necessidade de trabalho imediato. Obviamente quando há espaço, é uma mais valia, mas diria que as empresas procuram tendencialmente no mercado, pessoas já com alguma experiência», apesar de «o custo de reconversão ser muito inferior ao de ir buscar uma pessoa sénior ao mercado».

 

Ainda há preconceito

Munique Martins concorda e acrescenta que as empresas querem um profissional sénior, mas pagar um salário de júnior. E que ainda há um certo preconceito em relação à requalificação. «Uma empresa ao contratar uma pessoa requalificada está a apostar que o talento português fique cá, em pessoas que podem ter soft skills interessantes, pessoas que vêm de outras áreas e podem ser uma mais-valia. Sem contar que não temos pessoas suficientes em Portugal para estas áreas tecnológicas e temos de trazer pessoas de fora para trabalhar aqui e os portugueses vão para fora.» Ou seja, a reconversão acaba por ser uma forma de atracção e retenção de talento. «Os nossos dois professores de data e web estavam fora de Portugal porque não encontravam um sítio onde o ordenado fosse compatível com as funções», exemplifica.

Sobre as razões pelas quais persiste o preconceito em relação à requalificação, o responsável da Randstad acredita que esse receio das empresas será apenas equivalente ao tempo que durar até as pessoas se tornarem produtivas. «O mundo do IT é sempre muito dinâmico e exigente e quando as empresas contratam, querem profissionais para ontem e não daqui a dois meses. Temos de os fazer ver que é um investimento que vai compensar a longo prazo. Mas é verdade que há ainda alguma resistência inicial das empresas para este género de perfis», até porque podem não conhecer bem as soluções de reconversão disponíveis no mercado e os seus resultados. Mas, por norma, «a experiência da Randstad diz que uma vez que as empresas experimentam este tipo de soluções ficam satisfeitas. Têm é de perceber que não vai ser um retorno imediato mas a longo prazo e que em termos de custos também será benéfico.»

Já os cursos da Ironhack têm empregabilidade quase a 100%. A responsável pelo campus de Lisboa considera que isso tem a ver com o facto de oferecerem o que o mercado procura e as universidades não dão resposta. «A Ironhack procura as áreas e linguagens de que há necessidade no mercado e actualiza as linguagens que ensina para que os alunos estejam a par do mercado. Por exemplo, temos um curso de data que se foca  em pyton e data visualisation, que sabemos que são das áreas que mais têm crescido no mercado. E assim a reconversão está alinhada com as necessidades do mercado. O próximo curso será em cibersegurança, outra área em crescimento.»

Pedro Passos corrobora que as linguagens de programação são muito procuradas e que, com esta especialização, a garantia de empregabilidade é praticamente assegurada. «Também a  área de cibersegurança é cada vez mais procurada, assim como tudo o que tenha a ver com big data, pois é cada vez mais fulcral para as empresas saberem usar a massiva quantidade de dados de forma inteligente. »

Com a pandemia, há empresas que antes eram pouco o nada digitais  a promover essa mudança, o que tem feito crescer as áreas de ecommerce, de fintech e blockchain», completa Munique Martins.

No mesmo sentido, o especialista da Randstad constata que «a pandemia trouxe um conjunto de oportunidades que as empresas tardavam em apostar. O ecommerce era uma tendência já mundial e continua a ser. No entanto, todos os clientes continuam a investir nas áreas de informática, uns com maior ou menor dimensão, mas esse investimento é global e é transversal a todos os sectores.»

 

Serão todos os profissionais reconvertíveis?
Na opinião de Pedro Passos, todas as pessoas têm competências que são aproveitáveis, no entanto deixa claro que, falando na área que conhece, que é «converter profissionais não programadores em programadores, nem toda a gente se pode tornar programador. Há um conjunto de competências base, é preciso um raciocínio lógico e matemático, que é quase obrigatório. Isto não tem tanto a ver com a formação de base, mas tentamos que as pessoas tenham uma base de matemática por trás, porque é fundamental», sublinha.

Munique Martins concordou, revelando que na Ironhack os candidatos têm que fazer uma prova de raciocínio matemático. «O grande erro talvez seja pensar que a reconversão é só mesmo para programador nato e não é. O que a Ironhack está a fazer, é abrir mais cursos e ter mais áreas onde as pessoas se podem requalificar. É importante a expectativa, não queremos alunos que façam o curso e não consigam ter emprego, até porque para nós é importante os alunos entrarem no mercado e conseguirem ter um bom desempenho. Mas também é importante descobrir que caminhos há dentro da reconversão porque o mundo do digital é grande, e não é só programação

Ligado a este tema acaba por estar o do ensino mais tradiconal que muitas vezes não dá resposta às necessidades do mercado. Pedro Passos é peremptório: «O ensino de hoje em dia ainda é o ensino que se criou, talvez há 40 ou 50 anos atrás, e já não faz sentido para o mundo moderno. A escola ensina bases interessantes, matemática, português, inglês, mas falta a componente tecnológica», defende. E acrescenta: «Em relação cursos universitários, quem tira o curso de engenharia, por exemplo, ganha um conjunto de bases que lhe podem servir para o dia-a-dia. Mas há pessoas que, sem andar na universidade, conseguem chegar a níveis ou patamares tão ou mais altos. É preciso conseguir avaliar as pessoas quando são contratadas ou durante o tempo em que estão nas empresas para valorizar quem tem esse potencial, que não está propriamente associado a um curso superior.»

A responsável pelo campus de Lisboa da Ironhack concordou e afirmou que a principal falha nos cursos superiores está relacionada com a falta de competências importantes para o mercado de trabalho. «É  necessário haver uma mudança na educação e garantir que as pessoas estão a ser bem preparadas para depois de quatro ou cinco anos de curso terem as competências e a experiência necessárias para ingressar no mercado de trabalho.»

Em conclusão, estamos convertidos aos reconvertidos? Pedro Passos está, mas tem consciência de que, «enquanto sociedade ainda vamos estar. E os casos de sucesso vão ajudar.» Munique Martins  concorda e partilha que, desde que a Ironhack foi criada, já houve um salto», por isso há motivos para estar confiante.

 

(re)Veja aqui, na íntegra.

As re(talks) são uma iniciativa da Randstad em parceria com a Human Resources, promovida desde Março, e estão todas reunidas aqui.

 

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