“Recursos Humanos deveriam ser chamados de Activos Humanos”

Eric McNulty, professor da Universidade de Harvard, apresentou-se no Encontro de Alumni da AESE para falar sobre “A Call for ARTful Leadership: Coping with a Turbulent World”. Um tema que celebra a Arte e a Criatividade como instrumentos para aumentar a capacidade de adaptação, resiliência e confiança dos dirigentes, na linha da utilização da energia e do “know-how” criativo da arte, no âmbito dos desafios empresariais.

Em entrevista à Human Resources, o professor americano explica-nos o papel dos Recursos Humanos na sociedade actual e como as lideranças por esse mundo fora se devem adaptar às circunstâncias globais.

Por Manuel Louro

 

No mundo tão instável em que vivemos, especialmente na Europa, qual é o papel da área dos Recursos Humanos nas diferentes organizações?

Os Recursos Humanos têm um papel crucial a desempenhar. Muitas vezes, os RH focam-se no cumprimento e execução das regras. Em vez disso, gostaria de os ver como um departamento que defende o investimento nas pessoas e que assegura que as nossas organizações são humanas – e manter a restante direcção sénior com os compromissos que fazem. As pessoas precisam de se sentir psicologicamente seguras, de maneira a se empenharem em pleno no trabalho – ter a certeza sobre o ponto de vista da organização e se a maneira como as tratam proporciona a certeza que as vão ajudar a combater a turbulência do mundo. Gostava que renomeassem “Activos Humanos”, porque se cultiva valor através dos activos enquanto se extrai valor dos recursos. É uma grande diferença no pensamento e na prática.

  «Gostava que renomeassem [os Recursos Humanos] “Activos Humanos”, porque se cultiva valor através dos activos enquanto se extrai valor dos recursos».

A maneira como se gere as pessoas terá de ser alterada perante a mudança de paradigma que temos vindo a assistir?

A administração está sempre a evoluir. Não sei se a prática acompanha ainda as mais recentes alterações. Penso é que precisamos de fazer entender que o trabalho é “uma casa longe de casa” para muitas pessoas. Uma das necessidades aí é entender o grau de parentesco – fazer parte da equipa. Os executivos precisam de tratar as pessoas como verdadeiros companheiros. Isso significa que podem contar consigo e que pode contar com eles. Isso significa promover a confiança entre os stakeholders. Em tempos turbulentos é possível criar alguma certeza através da transparência de processos, valores e critérios de decisão, mesmo quando não se garantem resultados.

A Arte e Criatividade são, para si, ferramentas fundamentais para aumentar a adaptação e a confiança dos gestores. Em termos práticos, como poderão os líderes de hoje criar mecanismos para se adaptarem e prepararem-se para enfrentar mercados tão voláteis?

Não tome a “arte” de forma demasiado literal. Quando falo de “ARTful leadership”, refiro-me à capacidade de adaptação, resiliência e confiança. Capacidade de adaptação é o conforto e a facilidade em relação à mudança – optimizar para o fluxo de ideias e energia, tal como bens, serviços e fundos. As pessoas que desempenham várias funções demonstraram que tanto tornam o trabalho da linha da frente mais envolvente como promovem a excelência operacional. A resiliência  ajuda a avançar através das adversidades – praticar o falhanço, aprender e recomeçar. Como é lógico que não se quer erros com grandes consequências, mas é necessário ter uma tolerância alta para erros de baixa importância. É assim que as pessoas melhoram. A confiança é a porta de entrada para uma cultura baseada em valores. Quando se assimilam a cultura e valores certos, as pessoas tomam decisões e acções proactivamente. Isso é essencial em mercados em rápida evolução.

«A confiança é a porta de entrada para uma cultura baseada em valores».

O que é para si um líder perfeito actualmente?

Não há nenhum. Os melhores são emocionalmente inteligentes o suficiente para saber quando avançar para se afirmar e humildes o suficiente para recuar. Ninguém é a pessoa certa para liderar em todas as situações.

 

Temos vindo a assistir a um enorme desenvolvimento tecnológico e digital nas últimas décadas. De que maneira pode ser esse desenvolvimento aproveitado para benefício das lideranças?

Temos agora uma capacidade fenomenal, através da tecnologia, para nos conectarmos uns com os outros, para entender melhor os nosso mercados e clientes, e para discernir melhor o nosso contexto operacional. O truque é recordar que a liderança tem a ver com factores humanos. Por exemplo, uma CEO de uma multinacional onde trabalhei enviou um email geral no seu primeiro dia de trabalho. Incluiu uma fotografia sua, informal e sorridente, juntamente com um pedido para que toda a gente ajudasse a ultrapassar os obstáculos e a encontrar novas oportunidades. E incluiu o seu endereço directo. Quando as pessoas lhe escreviam, ela respondia. Rapidamente ficou conhecida como alguém aberta e receptiva a novas ideias. Ajudou-a a identificar os talentos dentro da organização e criou um ambiente de “nós” em vez de “ela”, que seria responsável pelo sucesso. Isto é como se utiliza a tecnologia para complementar e ampliar a humanidade, em vez de ser um substituto.

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