Reportagem: Como é que elas lideram num mundo de homens

 E em Portugal, como é que as lideres mulheres encaram a tarefa de liderar num mundo que, à partida, não estaria “talhado” para as receber? Essa foi a premissa que nos levou a falar com seis mulheres, lideres num mundo de homens: Ângela Brandão, vice-Presidente da Primavera BSS, Dina Duarte, directora-geral da Montiqueijo, Matilde Coruche, directora de Recursos Humanos da AstraZeneca Portugal, Marta Casimiro, administradora e directora do Departamento de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da Panidor, Virgínia Saraiva, vice-presidente dos PBH – Portugal Best Holiday e Ana Pinto, Manufacturing Manager da Nestlé Professional.

Por Sandra M. Pinto

 

Em 2020, 37 empresas da lista da Fortune 500 tinham CEO femininas e mais mulheres foram eleitas para altos cargos no mundo inteiro. Desde 1946, 65 países tiveram uma chefe de estado ou governo do sexo feminino, de acordo com o Índice de Poder das Mulheres do Conselho de Relações Exteriores.

São muitos os estudos e os especialistas que defendem que líderes mulheres não só são tão ou mais competentes do que líderes homens, como traz melhores resultados. Tomas Chamorro-Premuzic, professor de Psicologia Empresarial na University College London (Reino Unido) e na Columbia University (Estados Unidos) afirmou, a propósito desta questão, num artigo publicado na Harvard Business Review, que «em vez de incentivar as mulheres a agirem como líderes homens, devíamos pedir àqueles que estão no comando que adoptem alguns dos comportamentos em liderança mais eficazes, comumente encontrados nas mulheres. Isso criaria um grupo melhor de modelos a serem seguidos, preparando o terreno para que, tanto homens como mulheres, progridam». Mas, então, porque há (muito) menos mulheres em cargos liderança?

 

O caminho e os desafios até à liderança 

«Quando optei por Engenharia Informática não tinha noção que estava a ingressar numa área tipicamente masculina», conta Ângela Brandão, vice-Presidente da Primavera BSS. «Naquela altura, era uma nova engenharia e a minha escolha baseou-se nas áreas científicas que mais me agradavam: por um lado, a matemática – de que gostava desde criança – e por outro, a engenharia que me atraía pela sua componente mais prática. Só quando cheguei à universidade é que percebi que eramos meia dúzia de alunas numa turma de mais de 50». E admite que no início ficou preocupada, «mas integrei-me rapidamente e procurei aproveitar o melhor possível o facto de estar numa nova área».

A vice-Presidente da Primavera BSS recorda a experiência académica como muito positiva, tendo culminado num projecto de investigação em Bristol, na Inglaterra, o qual lhe permitiu desenvolver também competências transversais de comunicação e adaptação. «Estávamos no início dos anos 90, o programa Erasmus estava no seu início e foi uma experiência extremamente valiosa e que marcou o resto do meu percurso profissional.»
«No fim do projeto, quis experimentar o mundo empresarial e regressei a Portugal para trabalhar na Bosch, num ambiente industrial tipicamente liderado por profissionais masculinos, mas encarei essa realidade como natural e durante 10 anos tive oportunidades de aprendizagem, crescimento e desenvolvimento enquanto líder de equipas, também elas maioritariamente masculinas». Depois optou «por abraçar um novo projecto na Enabler, empresa tecnológica da Sonaecom dedicada à implementação de soluções para grandes retalhistas a nível mundial». Também essa foi «uma experiência muito positiva» onde teve oportunidade de trabalhar com profissionais extraordinários, e desenvolver competências comerciais e de relacionamento com clientes». Esta empresa foi mais tarde adquirida pela Wipro, um dos maiores grupos indianos de tecnologia, onde Ângela Brandão desempenhou funções de direcção de centros de competência internacionais. Mais tarde, surgiu a oportunidade de me juntar à Primavera BSS, tecnológica especializada na produção de software de gestão, sendo actualmente vice-presidente e responsável pelas áreas de consultoria, sector público, formação e suporte a clientes e parceiros tecnológicos.

Questionada sobre os principais desafios que tem vivido nesse percurso, Ângela Brandão afirma que «têm sido provavelmente os mesmos da maior parte dos profissionais que trabalham neste sector tecnológico, onde a evolução e a inovação acontecem a grande velocidade». O mundo tem mudado de forma rápida e disruptiva nos últimos anos, por via das tecnologias, «e tem sido um privilégio fazer parte desta enorme transformação. Tal obriga a uma aprendizagem contínua, a uma grande capacidade de adaptação e a um grande investimento pessoal. Por isso, é necessário também alguma disciplina para procurar manter o equilíbrio pessoal de forma a conseguir o espaço e tempo necessário e insubstituível para a família e para os amigos.»

Ângela Brandão recorda que no início da carreira considerava que o facto de ser portuguesa era também um desafio por sermos um país pequeno e periférico, afastado do centro da Europa. «Actualmente esse já não é um problema», garante. «Os portugueses são reconhecidos como muito bons profissionais, em particular na área da tecnologia, e as próprias empresas portuguesas gozam também dessa credibilidade.»

 

Dina Duarte, directora-geral da Montiqueijo revela à Human Resources que o seu interesse por esta área de negócio surgiu de forma muito natural porque ajudava a sua mãe a fazer queijos, a tratar dos animais e a cuidar da horta desde os meus 3 ou 4 anos.
A gestora nasceu num meio rural. «A minha família retirava os seus rendimentos do trabalho no campo e o meu percurso escolar foi sempre feito em paralelo com a actividade que os meus pais desenvolviam. Fui crescendo e evoluindo dentro da própria empresa, da mesma forma que acompanhei o crescimento da mesma.»

Os principais desafios sentidos por Dina Duarte surgiram à medida que o tempo foi passando e as exigências foram aumentando, a nível da regulamentação da actividade de determinados sectores, «o que nos obrigou a ir acompanhando as necessidades do mercado e a crescer com ele. Porém, penso que foi a paixão por aquilo que faço que tornou possível ultrapassar todos os desafios que me foram sendo apresentados, ao longo da minha vida. Uns mais fáceis do que outros, naturalmente. A paixão e o amor são grandes catalisadores de energia e que quando os temos presentes naquilo que fazemos, tudo se torna mais fácil», afirma.

 

Marta Casimiro, administradora e directora do Departamento de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da Panidor, revela que o seu interesse por esta área vem deste os tempos de escola secundária onde estudou Química Alimentar, disciplina na qual teve «uma professora muito inspiradora preponderante na escolha» do seu percurso futuro nesta área. «O meu percurso foi pouco convencional dado que, por motivos familiares, a minha única experiência profissional foi nesta empresa», tendo passado dentro da organização por praticamente todos os departamentos, à excepção do Financeiro e dos Recursos Humanos. «No início, na produção, aprendendo as técnicas e os processos com quem sabia mais do que eu, depois iniciando e fazendo evoluir os departamentos de Gestão da Qualidade e de Controlo da Qualidade da empresa, da qual fui directora vários anos», recorda. Marta Casimiro foi depois responsável pela implementação de raiz do departamento de Investigação, Desenvolvimento e Inovação, «do qual ainda faço parte e, neste momento, numa área e em funções mais estratégicas na gestão e liderança da empresa».

Relativamente aos principais desafios, Marta Casimiro refere a superação, «uma competência que tive que adquirir visto nesta organização ter encetado e ter implementado de raiz vários departamentos, tarefa árdua, com muita responsabilidade, porque o importante era criar as condições necessárias para dar resposta ao mercado e aos clientes».

 

Olhando para trás, Matilde Coruche, directora de Recursos Humanos e Comunicação da AstraZeneca Portugal, destaca que desde que se lembra que gosto do contacto com as pessoas, e por isso a área de Recursos Humanos foi um passo natural quando escolheu o  percurso académico. Explica: «Trabalhar em recursos humanos é não só contactar diariamente com as pessoas, apoiando-as nas mais diversas questões do dia-a-dia mas é, sobretudo, potenciar o seu crescimento profissional. Conhecer uma pessoa e perceber como a posso ajudar a maximizar o seu desempenho e a alcançar os seus objectivos é o desafio mais gratificante que posso ter. Apoiá-la a perceber que skills deve desenvolver ou identificar o candidato certo para determinada função é realmente o que gosto de fazer.»
Matilde Coruche começou o seu percurso como estagiária na Philip Morris. Depois foi consultora no Grupo SHL e já na Danone foi Gestora de Recursos Humanos. Foi na EDP Renováveis que a profissional teve a sua primeira experiência internacional, quando rumou a Madrid como International Gestora de Recursos Humanos. Ainda em Espanha, assumiu a direcção da área de Recursos Humanos para a região EMEA da Zimmer Biomet e, posteriormente, na mesma empresa, passa a directora de Recursos Humanos da América Latina, no Brasil, regressando a Portugal, em 2018, para integrar a equipa da AstraZeneca Portugal.

«Durante o período em que estive fora de Portugal, o mais desafiante foi a adaptação às diversas culturas decorrente das responsabilidades internacionais que fui assumindo», afirma a responsável. «Foi uma experiência muito enriquecedora, mas que exigiu um esforço de adaptação rápido».E destaca o facto de ter assumido uma posição de liderança ainda muito jovem e num país diferente do seu, o que exigiu «constantemente provar a qualidade» do seu trabalho e o seu know-how. Posteriormente, e depois de tantos anos fora de Portugal, «regressar ao mercado nacional foi, talvez, o maior desafio pela readaptação cultural», partilha.

Como todas as áreas, e especialmente em cargos de gestão, o turismo, e a hotelaria em particular, foi sendo dominado pelos homens, chama a atenção Virgínia Saraiva, vice-presidente dos PBH – Portugal Best Holiday, para quem este paradigma tem vindo a mudar. «Há hoje muitas mulheres a assumirem cada vez mais cargos de gestão e decisão, seja de topo, seja de suporte», refere, revelando que «o meu percurso profissional iniciou-se na área jurídica, mas, por questões familiares, mantive sempre o olhar no turismo, pois é o sector onde o meu marido desenvolvia a sua principal actividade empresarial». O marketing acaba por fazer parte da vida Virgínia Saraiva como área vocacional, muito ligada às tecnologias e ao mundo digital. «É hoje, sem sombra de dúvida, a minha área de eleição», confessa, «após o curso de direito, senti necessidade de aprofundar esta área pelo que fui investindo em formações até surgir a oportunidade de, na nossa estrutura familiar, assumir o marketing e a comunicação e, mais tarde, a vice-presidência do grupo».

Na visão desta profissional, um dos maiores desafios com que se tem confrontado tem sido a constante evolução do sector e das tendências do mercado, especialmente na área do marketing digital. «O mundo hoje gira em torno da economia da atenção», sublinha, «pelo que temos que estar muito atentos ao que se passa à nossa volta, estar em constante formação». Um outro desafio apontado por Virgínia Saraiva «é a conquista e confiança dos que connosco trabalham, das equipas e dos administradores das outras áreas». A vice-presidente dos PBH – Portugal Best Holiday acredita que «nada se faz sozinho, temos que ter equipas coesas para sermos mais fortes, num sector tão competitivo como o turismo e as equipas têm de acreditar em quem as guia, caso contrário, as rodas dentadas (a equipa numa visão macro) não funcionam».

«O meu interesse pela área de produção surgiu no final da faculdade, quando terminava o curso de Engenharia Química». revela Ana Pinto, Manufacturing Manager da Nestlé Professional. «Queria muito entrar no mercado de trabalho para a indústria alimentar e consegui entrar na Nestlé onde tenho feito o meu percurso profissional». É na linha de produção, no “terreno” que gosta de estar, «ali onde tudo acontece, onde tudo se transforma para obtermos os melhores produtos para os nossos consumidores». Em Novembro de 2019, assume a função de manufacturing manager e NCE. confessa que tem sido um grande desafio gerir uma equipa de 64 pessoas. «O dia-a-dia na fábrica é diferente todos os dias, apesar de termos rotinas para garantir que atingimos os objectivos nas diversas áreas», refere, «estou a aprender todos os dias e isso deixa-me muito satisfeita. O meu foco são as pessoas, pois são elas que fazem o sucesso de uma empresa».

Para Ana Pinto os desafios têm sido diferentes nas várias funções que tem vindo a desempenhar. «Inicialmente foi conseguir obter resultados através das equipas, sem ter responsabilidade direta na sua gestão. Depois, ajudar a criar um ambiente e cultura de mudança de mentalidade, implementando diferentes formas de trabalho para obter melhores resultados», afirma, «é um desafio constante promover o potencial individual de cada colaborador, pois cada um tem características e necessidades diferentes, mas é através da diversidade, da capacitação e da motivação dos colaboradores que conseguimos melhores resultados». Contudo, para a responsável, o maior desafio até agora, tem sido a gestão da equipa na situação actual de pandemia. «Ainda me estava a adaptar ao novo cargo de responsável de produção, quando quatro meses depois surge este grande desafio», relembra, «foi possível gerir e superar as inquietudes e receio do desconhecido, trabalhando em conjunto com as equipas, estar presente diariamente na fábrica, ouvindo os colaboradores para conseguir apoiar e dar resposta às suas expetativas e anseios».

 

De mulher para mulher 

Perante mulheres bem sucedidas em posições de liderança em universos tradicionalmente masculinos, interessa perceber não só como o conseguiram, mas que conselhos deixam a outras mulheres que tenham interesse por estas áreas e queiram evoluir na carreira.

«Em primeiro lugar, é fundamental terem paixão e amor por aquilo que fazem», refere Dina Duarte. «Depois, é muito importante ter sempre como base do seu trabalho os seguintes valores: humildade, coragem, resiliência e sinceridade.»

O principal conselho de Ângela Brandão «é que escolham as áreas de conhecimento de que mais gostam e que procurem ser as melhores na sua área de especialização, mas que não se fiquem por aí». A gestora defende que, em paralelo, devem procurar conhecer outras áreas complementares «para ganharem versatilidade e conseguirem ser mais eficazes no trabalho em equipa». Sublinha também a importância da autoconfiança. «Não desistam e acreditem que são capazes de chegar aos seus objectivos pelo seu valor profissional e nunca por questões de género.» E acrescenta: «rodeiem-se dos melhores profissionais e apostem em construir equipas de excelência, pois como diz o provérbio: quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas chega mais longe quem for acompanhado.»

Persistência e a resiliência são fundamentais para Matilde Coruche. «É muito importante ter sempre o foco nos nossos objectivos e na melhor forma de os atingir e conseguir, mas ter ao mesmo tempo, um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.» Paralelamente, assinala como importante «a aposta na aquisição de novos skills e competências que nos ajudam a crescer, em qualquer fase do nosso percurso profissional: a vida é uma aprendizagem constante, não podemos nunca esquecermo-nos disso».

Marta Casimiro sublinha que nesta, como em muitas outras carreiras, «as mulheres, infelizmente, ainda estão sub-representadas, principalmente na liderança, pelo que é essencial haver um enorme arrojo, equilibrado com simpatia e paciência».

Questionada sobre os conselhos a dar a outra mulher, Virgínia Saraiva responde «os mesmos que dou à minha filha». Para esta profissional, «o caminho faz-se caminhando, com muito trabalho e dedicação, sendo que o importante é determinar objectivos e depois, trabalhar, trabalhar muito, sem nunca perder o foco». «Questionem, provoquem o conflito com aquilo que vos pareça desajustado», desafia Virgínia Saraiva, para quem «a sensação de inadequação, de desconforto, de não pertença é absolutamente necessária à nossa evolução: como elemento feminino e como líderes». A vida é uma corrida de fundo, nada se consegue sem esforço, reforça, «os dissabores e as frustrações fazem parte do crescimento, mas não há nada mais gratificante do que chegar à meta», garante Virgínia Saraiva.

O principal conselho que Ana Pinto deixa às outras mulheres é terem grande determinação, empenho, rigor e disponibilidade, com vista à prossecução do propósito e valores da empresa e que vão ao encontro dos seus próprios objetivos e valores. «Estarem abertas à mudança, pois estas trazem sempre novos desafios, coisas novas que temos de aprender e que nos obrigam a sair da nossa zona de conforto, mas que nos ajudam a crescer», sublinha, «à medida que vamos evoluindo na carreira, a complexidade vai aumentando e temos de estar preparadas para sermos assertivas e eficientes, bem como ter humildade para incorporar novos ensinamentos». A responsável defende «uma liderança visível, baseada na transparência, comunicação e confiança», e acredita «numa cultura de proximidade com a equipa, na participação activa com todos os colaboradores, na capacitação e desenvolvimento de competências como foco principal para termos uma equipa de alto rendimento e continuamente motivada».

 

 

Maior igualdade de género: uma missão por concretizar?

Todos temos a consciência de que há muito por fazer no tema igualdade de género. Mas, na visão destas mulheres lideres o que é preciso para ter maior igualdade de género nas suas e noutras áreas, algumas “ditas masculinas”, e em cargos de topo?

«Acredito que um bom sistema de educação pode mudar o mundo», defende Ângela Brandão. «Temos de investir mais num modelo público de educação moderno e diversificado, onde todos tenham as mesmas oportunidades e sejam incentivados a seguir os seus sonhos e objectivos.» Para a vice-Presidente da Primavera BSS é importante a partilha directa de experiências por parte de profissionais de referência de diferentes sectores de actividade, sejam cientistas, polícias ou astronautas, «para que possam ser vistos como modelos de referência pelos nossos jovens e assim cada vez mais se mudem alguns estereótipos». E garante: «não existem profissões melhores para homens ou para mulheres, existem melhores profissões para os profissionais certos, independentemente do género».

Matilde Coruche refere ter o privilégio de ser responsável de Recursos Humanos de uma empresa que defende a diversidade e a inclusão. «Para nós, a igualdade de género é uma pedra basilar. Cinco dos 10 cargos de direcção são neste momento ocupados por mulheres, e, ao nível das chefias intermédias, mais de metade são mulheres.» Para a directora de Recursos Humanos e Comunicação da AstraZeneca Portugal, na indústria farmacêutica, a igualdade de género é já uma realidade. Mas reconhece que «noutros setores em que isto ainda não se verifica. Considero que as mulheres não devem desistir, devem apostar sempre nos seus sonhos e na melhor estratégia para os alcançar.»

Na opinião de Dina Duarte, «hoje em dia as mulheres, de uma forma muito natural, já conseguiram garantir o seu papel e evoluir nas áreas “ditas masculinas”». A directora-geral da Montiqueijo acredita que «a partir do momento que se mudou o paradigma da sociedade, onde a mulher deixa de ser simplesmente a dona de casa, cuidadora dos filhos e passa a poder estudar e entrar no mercado de trabalho, temos a prova viva de que a mulher consegue gerir e desempenhar vários papéis ao mesmo tempo: mulher, mãe e profissional».

«Uma liderança coesa e eficiente consegue-se com uma enorme capacidade de trabalho, espírito encorajador e capacidade de criar sinergias com os que estão à nossa volta, de nos colocarmos do lado da outra pessoa», afirma é Marta Casimiro, para quem «esta capacidade de conseguir ver e compreender o outro é essencial para ver as características pessoais e profissionais do outro, e não apenas o género». A administradora e directora do Departamento de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da Panidor, defende que «a elasticidade mental que caracteriza as mulheres é essencial, assim como uma característica que considero ser de ambos os géneros: a curiosidade». E relembra a frase “quem não é curioso é o novo analfabeto”, para referir que a mesma se aplica plenamente na área de IDI. «Também a procura incessante por informação importante e actualizada sobre tudo o que pode fazer sentido para o nosso negócio é essencial. É necessário foco, no momento e em toda a trajetória», conclui.

O feminino, para existir, precisa de se manter alheio ao lugar comum, precisa resistir, encontrar constantemente linhas de fuga, faz questão de defender Virgínia Saraiva. «O não compactuar com o cenário patriarcal ainda existente, mas felizmente não predominante, faz-nos estar sempre sujeitas ao deslocamento, empurra-nos para fora da nossa zona de pertença. E esse é o desafio», reforça. Na opinião da vice-Presidente dos PBH – Portugal Best Holiday, os desejos por transformação desequilibram os alicerces do ego: as necessidades de controle, apreciação e segurança. «A meu ver, novas aptidões e conhecimentos são a chave para progredirmos nesta suada e longa conquista, assim como reformulações nas formas de ser, pensar e agir», assegura.

«Acredito que é preciso quebrar o preconceito, consciente ou inconsciente, de que não existem funções destinadas a homens e funções destinadas a mulheres», refere Ana Pinto, «existem sim funções para profissionais e o profissionalismo é independente do género, e é preciso criar esta cultura desde o início, com a educação e a formação». Numa empresa o mais importante são as qualificações e as competências das pessoas, independentemente de ser homem ou mulher, reforça. «Considero que as empresas podem combater as desigualdades apostando na formação sobre diversidade e inclusão e criando opções para equilibrar a vida pessoal e profissional, de forma a criar um ambiente de trabalho verdadeiramente inclusivo», conclui.

 

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