Reportagem: Reinventar o negócio para (sobre)viver. Foi assim que estas 8 empresas fizeram

Perante a situação causada pela pandemia Covid-19, foram muitas as empresas que se viram obrigadas a mudar o enfoque do seu negócio. Mais do que reinventá-lo para chegar mais longe, trata-se de reinventar o negócio para sobreviver. E também para dar o seu contributo à sociedade. Dos eventos à moda, passando pela indústria automóvel, cervejeira ou de produção de brinquedos, até às tecnologias, beleza ou hotelaria, saiba o que estão a fazer.

 

Por Sandra M. Pinto

 

As empresas enfrentam renovados desafios a cada ano que passa. Mas nenhuma (nem ninguém) estava preparada para o que está a acontecer em 2020. Se as expectativas no início do ano eram de crescimento, passados quatro meses a realidade revela-se dolorosamente cruel e difícil.

Ao invés das crises anteriores, que tiveram como causa factores financeiros, aquela que agora nos atinge  a todos, a nível mundial – tem a sua origem num vírus mortal e na pandemia que daí adveio. Enquanto problema de saúde pública, e de modo a proteger a população, foi decretado o Estado de Emergência (a partir de amanhã Estado de Calamidade), com a consequente obrigação de confinamento. Esta obrigou à paragem de actividade de inúmeras empresas.

Lay-off e desemprego foram consequências imediatas, mas muitos empresários tomaram a decisão de olhar para dentro, perceber que outro potencial poderiam tirar da sua actividade, reinventando o negócio e adaptando as equipas. E também ajudando no combate a esta pandemia. Ana Sousa, Fiat Chrysler Automobiles, Grupo Vila Galé, Konica Minolta, L’ Oréal, Lisbon Awards Group, Science4you e Super Bock Group, contaram à Human Resources como o estão a fazer.

 

O impacto da pandemia

Há quem diga que esta é uma pandemia “democrática”, porque atingiu todos (ou quase) todos os países do mundo, colocando-os assim em pé de igualdade. Talvez na essência não seja assim, pois os mais desenvolvidos, supostamente, terão sempre melhores condições para a ultrapassar. A verdade é que, ao colocar todos no mesmo patamar no que à luta contra a Covid-19 diz respeito, a pandemia fez com que a economia parasse. O fecho de fronteiras decretou o impedimento de grande parte das exportações e das trocas comerciais, o que deixou “em maus lençóis” muitas empresas nacionais, enquanto, internamente, com o fecho dos espaços comerciais e o isolamento social, o consumo abrandou – quase parando por completo – e, com ele, a economia. A braços com uma situação complicada, muitas empresas tentaram de alguma forma minimizar o impacto da pandemia na sua actividade.

 

No caso da marca Ana Sousa, cujo trabalho consiste na produção de vestuário feminino e acessórios de moda, conseguiu-se conciliar a produção das suas marcas com marcas internacionais, sendo assim possível manter a actividade durante as duas primeiras semanas de Estado de Emergência. «Porém, fruto do encerramento administrativo de todos os espaços comerciais a nível Europeu, onde distribuímos e comercializamos as nossas marcas próprias, decidimos suspender a produção das nossas marcas, até conseguirmos perceber a data da reabertura das praças comerciais», revela fonte da empresa.

 

A área dos eventos foi uma das que mais rapidamente sofreu os efeitos da pandemia, sendo que será também das áreas que mais irá sofrer no médio e longo prazo. Isso mesmo faz notar João Gomes de Almeida, co-founder do Lisbon Awards Group: «Ou as empresas de eventos se reinventam ou então morrem. É duro de dizer, mas esta é a mais pura das verdades.» Para o responsável, os eventos digitais são o caminho no qual existem muitas oportunidades por explorar.

Foi precisamente a pensar nisso que lançaram o MYOS – Make Your Own Summit, que permite a qualquer empresa ter a sua própria conferência online, em regime chave-na-mão. «Tratamos da transmissão, oradores, apresentação, programa, redes sociais, publicidade e estratégia de PR», afirma João Gomes de Almeida, revelando que estão adaptar os seus prémios e eventos a esta nova realidade. Assim, «duas semanas depois do lock-off social já estávamos a entregar os Prémios Lusófonos da Criatividade por via digital. Esta é a vantagem de sermos ágeis, rápidos e nativos digitais», diz.

 

Transversal a toda a sociedade, a crise causada pela Covid-19 revelou-se de alguma forma motor para a transformação. Em alguns casos podia até já estar pensada, mas ainda em fase embrionária de aplicação, ou à espera do momento certo. Vejamos o caso da Konica Minolta Portugal, empresa que actua no sector das Tecnologias de Informação (TI). Oferecendo aos clientes uma gama de equipamentos, soluções de impressão, gestão documental e infraestruturas de TI, quando a pandemia começou a ser uma realidade na Europa, deu imediatamente inícioa à estruturação de campanhas direccionadas para o teletrabalho, revela Patrícia Pereira, directora de Recursos Humanos da empresa, concretizando: «Serviços de impressão, segurança, plataformas colaborativas, soluções de gestão documental e mais recentemente câmaras de segurança com sensores térmicos, eram soluções já constavam da nossa oferta, pelo que o nosso enfoque foi a realização de campanhas sobre o mote do teletrabalho.»

 

Já no Turismo, o impacto foi brutal, com a hotelaria a ser tremendamente afectada. No caso do Grupo Vila Galé, a pandemia obrigou a fechar a maioria dos hotéis em Portugal e no Brasil. Mas a Vila Galé não parou. «Lançámos novos serviços, como o take away e delivery nas quatro unidades que estão abertas – Vila Galé Porto, Vila Galé Coimbra, Vila Galé Ópera, em Lisboa, e Vila Galé Évora -, e também na nossa pizzaria Massa Fina, na Praia da Galé, em Albufeira», partilha Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo hoteleiro, revelando ainda que a Vila Galé está agora a trabalhar no lançamento de mercearias físicas nestas unidades e também na versão online. «Obviamente, que também estamos já a planear a reabertura de hotéis, assim que a situação sanitária o permita», assegura. «Em breve vamos apresentar um plano sobre isso, com base nas directivas de segurança e higiene da OMS [Organização Mundial da Saúde], DGS [Direcção-Geral da Saúde] e do Turismo de Portugal, através do selo ‘Safe & Clean’.»

 

O Super Bock Group converteu álcool de produção de cerveja em desinfectante e cedeu as suas redes sociais para a divulgação de iniciativas de combate à pandemia. Miguel Araújo, director de Comunicação e Relações Institucionais da cervejeira, refere que ambas as acções se inserem na responsabilidade que a empresa assume para com a sociedade. «Sempre tivemos um papel muito activo e participativo nas comunidades que nos rodeiam e, nessa medida, face a esta grave situação de saúde pública que estamos a viver em Portugal, tínhamos também de agir.» Fizeram-no através de um conjunto de iniciativas, nomeadamente na ajuda ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde se enquadra o fabrico do álcool gel desinfectante para as mãos, num processo que decorre da produção da cerveja sem álcool, que agora se encontra num pack especial – o “Super Doc” – numa homenagem a todos os profissionais de saúde. «Através das nossas marcas, procurámos dar um contributo no combate à pandemia», afirma Miguel Araújo. «Têm vindo a ser desenvolvidas acções que nos permitem apoiar parceiros, como acontece com o Bock in Business, direccionado para o canal horeca.»

 

Na actual conjuntura, mais do que nunca o digital assumiu uma grande relevância de proximidade das marcas com os consumidores. É isso que defende Sandro Cardoso, director-geral da Divisão Cosmética Activa da L’ Oréal  «Procurámos responder às novas necessidades apostando ainda mais nos formatos digitais, nomeadamente através de conteúdos que respondessem às preocupações e interesses dos portugueses neste período de confinamento.» Nesta tarefa, a organização tem contado com a colaboração de especialistas, como dermatologistas e farmacêuticos, que desmistificam vários tópicos relacionados com a saúde da pele, o bem-estar e a beleza. «Considero que iniciativas como estas aproximam as marcas aos consumidores e ainda humanizam a sua comunicação. Por outro lado – continua -, procuramos dar ferramentas às farmácias portuguesas para que dinamizem o seu negócio, numa altura em que as visitas físicas dos consumidores à farmácia se têm reduzido.»

 

No ramo automóvel os efeitos foram também significativos. Nas palavras de Sara Bravo, directora de Relações Públicas da FCA Portugal (Fiat Chrysler Automobiles), este momento criou inúmeros novos desafios. «Num primeiro momento, no início da propagação da epidemia, a nossa principal preocupação colocou-se nas medidas de protecção dos nossos colaboradores e na forma como podíamos utilizar os nossos recursos em prol de iniciativas de combate à pandemia, pelo que implementámos diversas iniciativas nesse sentido».

Numa fase posterior, esta situação «representou uma excelente oportunidade para as marcas e para os concessionários repensarem o processo de venda e promoverem mais etapas deste processo de uma forma digital», conta. E o resultado foi o programa “Car@Home”, com o objectivo de garantir o contacto com os clientes e potenciais interessados nas marcas Alfa Romeo, Fiat, Fiat Professional, Jeep e Abarth. De acordo com Sara Bravo, este programa, permite manter os concessionários abertos virtualmente, para prestarem todos os esclarecimentos, apoiarem na escolha de um automóvel e apresentarem propostas de aquisição. «As equipas comerciais estão disponíveis através de videoconferência com o Google Hangouts Meet, ferramenta de comunicação online intuitiva, que permite a visualização de arquivos, fotos e vídeos por meio de vídeochamada, permitindo gerir o contacto remotamente de modo a garantir a relação de confiança e de consultoria entre o vendedor e o potencial cliente.»

 

Readaptação a um “novo normal”

Com o país em confinamento há cerca de um mês e meio, as empresas que não fecharam sentiram absoluta necessidade de se readaptarem a um, chamemos, “novo normal” (a expressão não é de hoje mas no último mês assimiu um sentido literal sem precedentes). Com as lojas físicas fechadas, a marca Ana Sousa centrou a sua atenção nas vendas online. «Fizemos um esforço de realocar os stocks que estavam adstritos às lojas físicas para serem vendáveis também online e, simultaneamente, criamos a possibilidade das clientes comprarem as colecções outlet também no website, uma vez que essa possibilidade, até à pandemia, estava circunscrita às cinco lojas físicas que detemos nesse regime de venda».

Neste período em que as lojas estão encerradas, a empresa decidiu compensar os seus clientes com a oferta de portes gratuitos em todas as encomendas, alongou o prazo de devolução dos habituais 15 dias para 30 dias. «Esperamos com este incentivo contribuir para que diminua a sensação de confinamento das pessoas, fazendo chegar até elas as peças que desejam adquirir.» No que diz despeito às equipas, fonte da Ana Sousa afirma estarem estas a ter uma boa adaptação, «com flexibilidade, criatividade e empenho. Desde o início que aplicámos as melhores estratégicas de segurança e de higienização em todos os postos de trabalho, com diminuição dos contactos entre trabalhadores e uma execução escrupulosa do plano de contingência pelo departamento de Recursos Humanos», ressalvou-se.

 

Perante a situação causada pela pandemia originada pela Covid-19, também a Science4you se viu obrigada a mudar o enfoque do seu negócio. «Nunca é fácil uma empresa reinventar-se no seu negócio, ainda para mais num momento de crise», confessa Miguel Pina Martins, CEO da empresa nacional de fabrico de brinquedos didáctivos. «Para nós, existe um privilégio enorme que é a existência de uma fábrica com 10.000m2 que permite uma readaptação dos conteúdos a produzir.» Desta forma, para minimizar o impacto da pandemia na actividade da empresa, a Science4you iniciou a produção de óculos de protecção individual e o enchimento de frascos de álcool gel.

Esta nova situação levou a uma readaptação das equipas ao novo negócio, tendo a empresa que garantir uma reorganização ao nível de espaços e das áreas de produção. «O principal objectivo da adaptação dos colaboradores está no sentido de se garantir a salvaguarda da higiene e da segurança de todos», assegura Miguel Pina Martins. Foi necessário aumentar, por exemplo, o espaço de trabalho entre as pessoas de modo a diminuir ao máximo qualquer risco de contágio. «Este momento de crise é mundial e passamos a mensagem que todos temos de nos adaptar e vimos nas nossas equipas uma excelente atitude de adaptação.»

 

A situação que atingiu o sector hoteleiro levou a uma quebra na operação, o que levou o Grupo Vila Galé a recorrer ao lay-off simplificado de cerca de 85% das suas equipas. «Desde logo, e nas funções que o permitiam – sobretudo administrativas e dos serviços centrais -, recorremos ao teletrabalho, que muito rapidamente implementado e tem tido bons resultados», garante Gonçalo Rebelo de Almeida. «Quanto às equipas dos hotéis que se mantiveram a trabalhar, reforçámos ainda mais todos os cuidados de limpeza e desinfecção, seguindo as melhores praticas para assegurar a segurança de colaboradores, clientes e parceiros de negócio.»

 

No Lisbon Awards GroupCom a adaptação está a ser «boa, embora com algumas saudades do trabalho em contexto de escritório», admite João Gomes de Almeida. Quanto ao negócio, o responsável afirma que «todos já perceberam – e deixámos isso bem claro – que agora todos, independentemente da função, temos que estar 100% focados em gerar negócio, pois se antes tínhamos três comercias, hoje, como somos todos comerciais, temos 12. A palavra de ordem é facturar.»

 

Perante a necessidade de assegurar o contacto e a relação do ecossistema em que opera, a Divisão Cosmética Activa L’Oréal  conseguiu trabalhar num modelo ainda mais próximo, que acredita que potenciará novos métodos de trabalho no futuro. «Recorremos a diversas ferramentas que encurtam, virtualmente, a percepção de distância entre equipas, e que nos permitem continuar a trabalhar e a potenciar ao máximo as oportunidades», afirma Sandro Cardoso. Perante os desafios do  momento, o responsável afirma: «Estamos todos a remar no mesmo sentido perante a adversidade, pelo que sinto que somos agora uma Divisão ainda mais forte e unida.»

Com os olhos postos no futuro e no “novo normal”, a organização olha para os objectivos e propósitos de forma ainda mais criativa. «Temo-nos reinventado diariamente, utilizando a tecnologia e os meios digitais, nunca esquecendo a importância e o papel de cada equipa, que em muito contribuem para um todo de forte coesão, que se tem espelhado nos resultados encorajadores que temos conseguido.»

 

A Covid-19 foi, sem dúvida, um agente na transformação dos métodos de trabalho nas organizações. A Konica Minolta estava desde o início do ano com um projecto piloto para avançar com flexibilidade horária e teletrabalho. «Quando, a meio do mês de Março, nos vimos forçados, devido a toda esta situação, a avançar com teletrabalho para a maior parte dos colaboradores, já havia um caminho traçado, pelo que foi um processo bastante rápido, necessitando apenas de se adequar algumas ferramentas tecnológicas para o efeito», relembra a directora de Recursos Humanos da empresa.

Patrícia Pereira sublinha que foi um processo bastante simples, pois os colaboradores já estavam habituados às várias plataformas, sendo o maior desafio adaptar a forma de trabalhar e a comunicação no dia-a-dia entre colegas e a chefia. «Posso afirmar que foi bem mais simples do que ao início imaginámos. Algo de positivo que a Covid-19 nos trouxe foi perceber que, de futuro, podemos alargar o teletrabalho a mais equipas do que as que estávamos a equacionar aquando do desenvolvimento do nosso projecto piloto.»

 

Perante esta realidade absolutamente excepcional e nova para todos, o director de Comunicação e Relações Institucionais do Super Bock Group considera que, globalmente, houve a melhor adaptação possível por parte das suas equipas. «A nossa primeira prioridade foi a protecção das pessoas», assegura Miguel Araújo. De entre as medidas adoptadas logo no início de Março, encontrava-se a migração para regime de teletrabalho de todos os colaboradores cuja função assim o permitia, assegurando as ferramentas necessárias à manutenção das suas tarefas. «Trata-se de um modelo de trabalho flexível de que já disponibilizávamos na empresa, embora não a esta dimensão», reconhece. «Para os colaboradores que se mantêm em operação nas unidades da empresa, pelas necessidades inerentes à operação, foram tomadas medidas acrescidas de protecção e de higiene individual, incluindo rotinas de alternância de equipas».

 

Com a produção automóvel de certa forma limitada, alguns construtores investiram meios e tecnologia em novas frentes. Foi assim com a FCA. «Temos investido em recursos técnicos, logísticos e de produção na criação de equipamentos médicos e de protecção individual (EPI)», diz Sara Bravo. Máscaras faciais têm sido produzidas em diversas fábricas do grupo, que tem apoiado empresas que produzem ventiladores e outros equipamentos médicos, doando estes equipamentos a socorristas e profissionais de saúde e hospitais em todo o mundo. «O apoio social tem merecido muita da nossa preocupação, por isso têm sido fornecidos serviços de alimentação a milhões de pessoas», afirma a directora de Relações Públicas.

Paralelamente, a FCA está envolvida na disponibilização de frotas de veículos para apoiar nos serviços dedicados à população mais vulnerável da sociedade. Com uma cultura empresarial muito aberta à mudança, onde se fomenta a capacidade de gestão de momentos de crise, na FCA acredita-se que depois de um momento de dificuldade, se renasce mais forte, com uma grande capacidade de adaptação. «Não minimizando o que este momento representa de desafio para todos, desde o primeiro momento que implementámos novas técnicas de produção em várias fábricas, para permitir um maior espaço entre os funcionários nas estações de trabalho, em todas as unidades ampliámos a limpeza, higienização e disponibilidade de máscaras, e nos nossos escritórios, aceleramos a implementação do trabalho remoto que rapidamente se tornou o “novo padrão”», revela Sara Bravo. «Claro que ferramentas e formação foram aspectos fulcrais para uma rápida adaptação das nossas equipas».

 

Equipas e novas competências

Se equipas tiveram de se adaptar a novos locais de trabalho, na sua própria casa, outras houve que se viram na contingência de adquirir novas competências. No caso da Science4you todos se tiveram de ajustar à nova realidade, sendo que ao nível de trabalho passaram a ser realizadas mais reuniões de feedback.  «A nova realidade passou ainda mais por aumentar a troca de e-mails e de telefonemas diários para acompanhamento de quaisquer necessidades», partilha Miguel Pina Martins. Da parte das suas equipas, o CEO da empresa diz sentir uma grande entrega e um enorme sentimento de compaixão perante o momento de crise mundial. «Acreditamos que esta onda ainda vai durar, infelizmente o vírus é bastante letal, mas temos a certeza que todos temos a capacidade de nos reinventarmos a fazer o negócio progredir.»

 

Na empresa Ana Sousa houve a necessidade de alguma adaptação, que esteve relacionada com alguns requisitos técnicos a cumprir na produção dos uniformes que a marca ofereceu a hospitais e instituições de saúde. «Estamos habituados a seguir certos procedimentos, uma vez que temos uma linha de produtos que se dedica à inovação e onde esses processos de cumprimento de requisitos técnicos e testes laboratoriais, têm de ser cumpridos. Somos bastante rigorosos nos processos produtivos, sendo que o mesmo aconteceu na produção dos uniformes», afirma-se.

Perante as novas exigências, as equipas da organização «revelaram não só grande flexibilidade, mas também com enorme responsabilidade», estando a marca focada agora em preparar o regresso à actividade, implementando um conjunto de medidas de segurança na empresa e nas lojas. «Todos os períodos de crise acabam por trazer também coisas positivas, que se continuadas ficarão a fazer parte da rotina diária de todos.»

 

No Lisbon Awards Group aprendeu-se a trabalhar ainda mais como uma equipa. «Tivemos todos que ganhar rapidamente competências comerciais e novas hard skills digitais», confessa João Gomes de Almeida. Com uma equipa extremamente jovem, a reacção dos colaboradores foi muito boa. «Esta geração, no pré-covid, não queria saber da estabilidade profissional, queria viver a vida, viajar, aproveitar o que bom a vida nos dá e trabalhar em algo onde se sentissem valorizados», diz, acrescentando que «que esta geração só sobreviverá ao novo contexto se voltar ao “work hard” e colocar de lado o “work-life balance”». No Lisbon Awards Group entrou-se em teletrabalho no dia 12 de Março, não tendo havido despedimos nem recurso ao lay-off. «Acho que, mais do nunca, os nossos colaboradores sabem que o seu trabalho e esforço individual é vital para a sobrevivência do colectivo.»

 

Não sentindo necessidade de alterar competências, a Konica Minolta decidiu promover o auto-desenvolvimento, colocando à disposição dos colaboradores que estão em teletrabalho a possibilidade de realizarem micro-formações, na plataforma de e-learning da empresa. «O nosso principal objectivo é ajudar a enfrentar esta situação, com temáticas que vão desde a saúde mental, ao trabalho remoto, dando ainda formações relacionadas com a pandemia e o coronavírus, segurança e desenvolvimento pessoal», revela Patrícia Pereira.

Salvaguardada a saúde das equipas, a preocupação da empresa direccionou-se para o bem-estar e a saúde mental dos colaboradores, tendo sido criado um plano de comunicação mensal. Numa altura em que o governo prevê aliviar as medidas impostas, de forma a regressar à normalidade. «A nossa preocupação prende-se, por um lado, com a segurança de poder regressar sem correr riscos de contágio, por outro, a questão familiar, na medida em que os filhos poderão ter de continuar em casa, o que lhes proporciona uma ansiedade ao nível de como poderão conciliar e gerir toda esta situação», refere a directora de Recursos Humanos.

 

Tendo vindo a investir, desde há vários anos, na digitalização de processos e ferramentas, e promovendo a renovação de competências dos colaboradores, o Super Bock Group tem conseguido cumprir processos e partilhar informação, com total segurança. «A empresa já tinha implementados procedimentos que permitiram adoptar determinadas medidas com bastante celeridade, como sucedeu com o regime de teletrabalho», refere Miguel Araújo, para quem os maiores desafios serão, sobretudo, de contacto, de interacção e relacionamento, bem como de motivação, mas também de flexibilidade para gerir a vida profissional com a pessoal.

«Existem duas prioridades no Super Bock Group: proteger os nossos colaboradores e a empresa; e assegurar a sustentabilidade do negócio no futuro», afirma o responsável. «Posto isto, e perante as estimativas que apontam para um cenário de recessão global, incluindo Portugal, procuramos reduzir especulações, gerar tranquilidade e segurança junto de todos os colaboradores.»

 

Já Sandro Cardoso destaca que os colaboradores da L’ Oréal «têm sido um exemplo no que toca ao foco e determinação, o que nos deixa extremamente orgulhosos». Ainda que cada um esteja a cumprir o seu isolamento, o responsável assegura que as equipas estão mais do que nunca alinhadas entre si e a trabalhar para atingir os seus objectivos, não só ao nível de vendas, mas também de responsabilidade social, tão importante num momento como este. «Vários colaboradores aproveitaram ainda este período para fazer upskilling das suas competências, nomeadamente digitais, através de diversas formações online que a L’Oréal dispõe.»

 

Neste momento excepcional, a FCA tem tentado direccionar as competências dos diversos colaboradores no sentido de ajudar a sociedade de diversas formas. «As equipas de engenharia e produção em Itália, ajudaram a Siare Engineering, uma das poucas empresas fabricantes de ventiladores, a mais do que dobrar sua produtividade, e os recursos de algumas fábricas de diversos continentes foram canalizados para a produção de milhões de máscaras por mês», relembra Sara Bravo, para quem a conexão humana foi fundamental para produtividade e motivação das equipas.

«Com a maioria de funcionários a trabalhar remotamente, mostramos uma simplicidade e um bom humor típico da FCA para permanecermos ligados e envolvidos uns com os outros». A directora de Relações Públicas não esconde que este é um momento de incerteza, «mas enquanto aguardamos um retorno progressivo ao trabalho é importante focarmos em como tornaremos esse retorno rapidamente eficaz, definindo por vezes diversos planos para cada iniciativa, sabendo que se o caminho não for viável pelo plano A, teremos o B definido, ou até o C, para evitarmos perder tempo», assegura.

 

Com elevados padrões de segurança e higiene, a Vila Galé não teve de fazer propriamente grandes alterações ao nível do comportamento das equipas. Para Gonçalo Rebelo de Almeida a alteração mais evidente foi a adaptação de equipamentos de protecção individual como máscaras, luvas ou viseiras pelos colaboradores dos quatro hotéis que estão abertos. Mas garante que os «colaboradores demonstram querer regressar ao trabalho assim que seja possível. A comunicação interna, através de newsletters, webinars e até por telefone, tem sido uma ferramenta essencial para assegurar a proximidade entre todos», estando o grupo a lançar manuais e sessões de formação para preparar a reabertura, «para que todos se sintam e estejam seguros».

 

Olhar para o futuro

O futuro é, neste momento, bastante incerto. «Encaramos o futuro com muita esperança e assim como esta crise se manifestou de forma acentuada, esperamos que a retoma possa também ser em modelo V, com um crescimento logo bastante significativo no arranque», afirma fonte da Ana Sousa. «Temos de inovar a cada instante, ser criativos, ter flexibilidade, pois são esses atributos que nos farão sair desta crise ainda mais fortes e com uma consciência global do mundo mais assertiva.»

Miguel Pina Martins garante que a Science4you vai continuar a lutar e a investir ao máximo na protecção individual e na segurança dos cidadãos. «Neste momento estamos muito focados na responsabilidade social e na solidariedade nacional», assegura.

Na opinião do responsável do Lisbon Awards Group, devido às crises recentes que Portugal viveu, «nós gestores, já sabemos com o que vamos contar e já temos experiência para antever cenários, projectar resultados e traçar estratégias de crescimento, mesmo em contexto de profunda crise».  Relativamente ao sector, João Gomes de Almeida defende que a palavra de ordem é transformação digital, «é aí que o Lisbon Awards Group irá meter todas as suas fichas, uma vez que neste momento, parar é morrer».

De um ponto de vista da estratégia comercial, no futuro a Konica Minolta continuará a apostar em ofertas que permitam o trabalho remoto, com um especial foco na segurança da informação, porque, como refere Patrícia Pereira, o trabalho remoto será certamente para ficar. «Iremos manter o plano de comunicação que consideramos fundamental para manter o engagement dos colaboradores, assim como os conteúdos ajustados aos tempos que passamos e, logo que possível, retomaremos as actividades presenciais de saúde e bem-estar que, certamente, nesta fase os nossos colaboradores já sentem falta.»

Na L’ Oréal acredita-se que o futuro da beleza reside na saúde, na ciência, e na eficácia. «Acreditamos que a beleza assume nesta altura um papel muito relevante, por permitir que mesmo em casa, nos sintamos melhores connosco mesmos e aproveitemos para cuidar de nós, tornando estes cuidados no primeiro passo para facilitar, dentro do possível, este momento difícil por que estamos todos a passar», defende Sandro Cardoso, assegurando ser objectivo da empresa «continuar a trilhar este caminho lado a lado com as farmácias e parafarmácias portuguesas, com os dermatologistas, farmacêuticos e sempre com o propósito de oferecer os produtos e serviços de pele mais relevantes para os consumidores portugueses». Relativamente ao futuro, a responsável afirma que o mesmo terá de acontecer através de um caminho conjunto de reinvenção constante, de forma a poder continuar a merecer a confiança de consumidores, parceiros e colaboradores. «Se no período pre-Covid já era importante, agora é imperativo, este é o momento em que podermos, realmente, continuar a fazer a diferença.»

Olhando para o futuro, Miguel Araújo afirma que é tempo de ir preparando a retoma, que acontecerá de forma lenta e progressiva. «No Super Bock Group estamos cientes de que há muitas incógnitas, mas continuamos a trabalhar para garantir a sustentabilidade da nossa operação», refere o director de Comunicação e Relações Institucionais. «Perante uma conjuntura que poderá alterar os hábitos e os comportamentos dos consumidores, e com isso trazer novas tendências, procuramos identificar novas oportunidades para as nossas marcas, assim como novos modelos de negócio».

Para Gonçalo Rebelo de Almeida, nesta conjuntura, não é fácil fazer previsões. «De qualquer forma, acreditamos que, a manterem-se as condições de redução quanto aos números da Covid-19, poderá surgir alguma procura do mercado interno e eventualmente até do mercado espanhol». Mas o administrador da Vila Galé perspectiva que esta será sempre uma retoma lenta, muito gradual e faseada. «As taxas de ocupação serão significativamente mais baixas do que num Verão normal, uma vez que, até que tenhamos um medicamente ou uma vacina, teremos de contar com alguma imprevisibilidade e instabilidade quanto à procura turística.»

Focados em garantir que a FCA surja mais forte do que nunca, Sara Bravo confessa que a empresa tem pensado sobre os efeitos positivos que esta pausa pode produzir no negócio normal. «Todos temos uma nova perspectiva sobre que actividades são fundamentais para o negócio e quais não adicionam valor. Vamos usar este tempo não apenas para nos prepararmos para retornar ao negócio, mas para retornar melhores.»

 

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