Reportagem: UPSkill – Digital Skills & Jobs, um programa não só para qualificar, mas para garantir emprego

Já vai na segunda edição e o objectivo do programa UPSkill – Digital Skills & Jobs é formar pessoas para as Tecnologias de Informação e Comunicação. O grande factor distintivo? Fazê-lo depois de mapear as necessidades das empresas, formando assim à medida e assegurando quase total empregabilidade de pessoas que estavam em situação de desemprego. Ao mesmo tempo que ajudam as empresas a responder à actual escassez de talento.

 

Por Sandra M. Pinto

 

É poder-se-á dizer, unanimemente aceite que Portugal (como muitos outros países) vive o drama da escassez de recursos humanos. É transversal a diferentes sectores, mas onde mais se faz sentir será no tecnológico. A pandemia veio “obrigar” muitas empresas a acelerarem a transformação digital e a procura por profissionais qualificados nestas áreas aumentou. Parecendo não existirem em quantidade suficiente, muitas vezes a solução é ir “roubar ao vizinho”. Mas pode haver uma solução melhor – desde logo mais económica –, olhar para o que existe “em casa” e requalificar.

De acordo com dados oficias, o desempenho nacional em termos de competências digitais básicas é inferior à média da União Europeia. Curiosamente, é precisamente aí que as empresas estão mais disponíveis para investir na (re)qualificação dos recursos humanos. Com a finalidade de fazer crescer a percentagem de pessoas com competências digitais mais avançadas, têm vindo a ser implementadas diversas iniciativas, sendo que uma das que tem vindo a obter maior sucesso é o programa UPSkill.

 

Contexto: um mundo em mudança
Com a particularidade de ser feito à medida das necessidades do mercado, o programa UPSkill tem sido apontado como um caso de absoluto sucesso. Mas vejamos mais atentamente o cenário que levou a este resultado, regressando ao início de 2020, quando a escassez de talento era identificada como o principal desafio das empresas. Entretanto em Março deparamo-nos com uma pandemia.

Rogério Carapuça, presidente da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, salienta que «a COVID-19 expôs ainda mais as nossas fragilidades enquanto País, nomeadamente na utilização das ferramentas digitais básicas e na qualificação do capital humano. De forma geral – continua –, os estudos realizados já depois de algum tempo de pandemia mostram que teremos avançado pelo menos mais três ou quatro anos na transformação digital face ao que aconteceria se a pandemia não existisse».

Uma das grandes mudanças foi a forma de se trabalhar hoje. Com os confinamentos, quase de um dia para o outro as pessoas tiveram que passar a trabalhar de forma remota e o teletrabalho, um conceito que já se falava há muito, passou a ser a nossa nova realidade. «Nada disso teria sido possível sem as tecnologias de informação e comunicação [TIC], que foram críticas para a manutenção dos negócios de muitas empresas e até para a criação de novos negócios, assim como a manutenção das relações sociais durante os períodos mais críticos da pandemia», recorda. «O paradigma mudou e as organizações tiveram de acelerar exponencialmente os seus processos de transformação digital, estando a registar-se uma procura crescente pelo talento qualificado, sobretudo talento tecnológico.»

Importa então perceber em que ponto está hoje o processo de digitalização do mundo do trabalho. Para Rogério Carapuça a resposta é simples: «Está em evolução acelerada. Estava ontem, está hoje e estará no futuro, porque se trata de um processo que está intimamente ligado à nossa evolução, cada vez mais assente numa sociedade do conhecimento.»

Não obstante o facto de não ser uma realidade nova, é inegável que a pandemia acelerou exponencialmente esta dinâmica, pois, se antes se discutia o teletrabalho só como uma probabilidade, e em casos particulares, agora tornou-se uma realidade para (quase) todas as organizações onde essa possibilidade existe. Por outro lado, «até à pandemia, a relação através dos meios digitais entre as empresas e os clientes era já importante, mas agora ganhou uma enorme dinâmica. E tudo foi impulsionado pela crise que vivemos: o conceito de escritório já não voltará a ser o mesmo e a forma de gerir as empresas e de manter a sua cultura está num processo de forte transformação.»

Mais do que um gatilho a esse desenvolvimento, a pandemia foi pólvora um acelerador de tendências sobre as quais já se vinha a falar: já existiam as tecnologias e os meios estavam disponíveis, mas o processo de adopção estava a decorrer de uma forma muito mais lenta. Com a pandemia, de um dia para o outro, tudo mudou. E houve uma «profunda alteração na forma como as tecnologias passaram a ser olhadas», constata Rogério Carapuça. «As pessoas estão hoje muito mais preocupadas em adquirir e reforçar conhecimentos que lhes permitam uma maior utilização dos meios e plataformas digitais. Perante a emergência da pandemia, tiveram que pegar nas competências que tinham e transformá-las e usá-las, e quem não as tinha tratou rapidamente de as ter, pelo que hoje multiplicam-se os estudos que comprovam que os colaboradores preferem claramente os modelos de trabalho híbrido ou até 100% remoto.»

 

Uma solução para a escassez de talento
Se durante a pandemia as empresas – ou a maioria – congelaram as contratações, agora multiplicam-se os anúncios de recrutamento, e não é com uma ou duas vagas; em alguns sectores, são às centenas. Cada vez mais empresas indicam como uma restrição ao aumento do seu volume de negócios a falta de pessoas qualificadas – sobretudo em áreas tecnológicas – para preencher os postos de trabalho.

O presidente da APDC acredita que o programa UPSkill constitui neste momento uma boa prática naquilo que corresponde à formação em tecnologias digitais, ao mesmo tempo que gera emprego. «Não se trata de uma formação em que as pessoas ficam com um diploma e depois vão procurar emprego. Antes é uma formação à medida, de acordo com as necessidades concretas de recursos qualificados apontadas pelas empresas, e isso acontece porque o programa resulta de uma parceria entre empresas, os poderes públicos e as instituições de ensino superior, logo é uma parceria win-win-win.»

 

Leia a reportagem na íntegra na edição de Julho (n.º 139) da Human Resources.

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