
Requalificar para o futuro: Competências essenciais para além do digital
De acordo com dados do World Economic Forum, 71% do talento profissional, em Portugal, terá de obter novas competências até 2030, contra uma média global de 58%. O trabalho mudou, e as empresas enfrentam diversos desafios para fazer face aos novos modelos de trabalho e para dar resposta às necessidades advindas de um mundo em grande transformação. Neste Executive Breakfast, promovido pela NCN e pela revista Human Resources, empresas do sector da indústria expõem as questões mais impactantes do seu dia-a-dia e as dificuldades que sentem no recrutamento em áreas tão importantes para a sociedade e tantas vezes esquecidas.
Fotos Egídio Santos
A Europa enfrenta um grande desafio: adaptar-se às mudanças tecnológicas e à transição verde para manter a sua competitividade global. Muitos dos sectores que impulsionam o crescimento económico exigem, assim, competências avançadas e novas formas de trabalho. Nesse sentido, o desafio não é apenas saber se os europeus precisam de novas competências, mas como é que a Europa, e cada país, os irá preparar para essa transformação.
A mudança já está a acontecer e os dados são claros. Mais de 70% da força trabalhadora do nosso país terá de adquirir novas competências para poder ser integrada numa sociedade em que a transformação digital vai alterar substancialmente o mundo do trabalho como o conhecemos até hoje.
Além disso, os jovens movem-se, actualmente, por experiências e carreiras horizontais, deixando de lado o conceito de um trabalho para a vida. A par disso, também as gerações anteriores começam a olhar para a sua carreira de outra forma e, na busca de novas oportunidades de crescimento dentro da organização, acabam por equacionar novas posições e projectos diferentes.
A requalificação é, assim, essencial para o futuro do trabalho. Se nos pequenos-almoços anteriores, o foco recaiu nos perfis técnicos e digitais, neste Executive Breakfast, desenvolvido pela revista Human Resources e a New Career Network (NCN), o sector da indústria trouxe para cima da mesa a contextualização do mercado, as dúvidas e a forma como pretendem dar resposta às necessidades mais prementes do segmento, partilhando as suas perspectivas sobre desafios e oportunidades na requalificação.
Da parte da NCN estiveram presentes, no Hotel Porto Palácio, na cidade do Porto, Marta Cunha, Head of Transformation da Sonae e Executive Director da R4E Portugal; Carla Alves Sousa, manager na New Career Network Portugal; e Marta Ribeiro, Partner Relations Specialist na NCN.
Além disso, estiveram presentes representantes de diversas empresas e sectores – da indústria têxtil, automóvel, construção, engenharia e energia –, como Alexandra Godinho, Head of HR, da Corticeira Amorim; Ana Barbosa, People Development Manager no Super Bock Group; Carla Oliveira Regina, Corporate Director of Human Resources da Brasmar; Cristiana Matos, HR Manager da Siemens Gamesa; Daniela Brioso, Corporate People Development da Salvador Caetano; Marta Costa, Senior HR Business Partner da Borgwarner; Nuno Roque, Secretário-Geral da APIRAC – Associação Portuguesa das Empresas dos Sectores Térmico, Energético, Electrónico e do Ambiente; Sofia Miranda, Directora de Recursos Humanos do Grupo Casais; e Sylvie Rocha, Adjunta RH, responsável pela formação e desenvolvimento da Riopele.
O encontro teve como foco principal a troca de experiências sobre requalificação e desenvolvimento profissional, enfatizando a importância da colaboração entre empresas para enfrentar os desafios do mercado de trabalho, destacando-se a necessidade de mão-de-obra qualificada para sectores essenciais, mas pouco visíveis e apelativos para a sociedade.
Desafios do sector
Uma das empresas convidadas, que representa a cadeia de valor da refrigeração e climatização, começou por chamar a atenção para este sector, nem sempre visível quanto outros produtos no mercado, mas essencial para a vida moderna.
«A refrigeração e a climatização estão presentes em quase tudo: garantem conforto e produtividade no trabalho, seja em fábricas ou em casa, possibilitam estadias agradáveis em hotéis e são fundamentais para a conservação de alimentos, medicamentos e centros de dados», defende. No entanto, e apesar da sua importância, o sector enfrenta uma grande escassez de profissionais qualificados, quer na engenharia, quer nas funções operacionais. Num mundo onde o ambiente e a energia são desafios cruciais, é essencial encontrar soluções para capacitar novos talentos e atender à crescente demanda das empresas.
Do lado do sector automóvel, outra organização expôs a dimensão da empresa: «Temos três fábricas em Portugal, duas em Viana do Castelo e uma em Lisboa, e somos cerca de 1500 pessoas. Temos alguns desafios e oportunidades para a requalificação e esperamos hoje aqui aprender, levar algumas boas práticas, e partilhar coisas que nós também já fizemos», referiu.
Outro desafio é o envolvimento dos jovens nos dias de hoje. «No sector da refrigeração e climatização, por exemplo, há uma grande dificuldade em atrair jovens, pois em Portugal não existe uma estratégia consistente para promover a educação e formação tecnológica. Os jovens escolhem carreiras com base nas suas percepções sobre o futuro, influenciados pelos meios audiovisuais e pela crescente relevância das novas tecnologias», começa por constatar um dos convidados, acrescentando, de seguida, que na sua geração as opções pareciam mais limitadas a áreas como Engenharia, Advocacia, Economia, Gestão e Arquitectura. «Hoje, a tecnologia domina as escolhas, mas áreas fundamentais como a energia térmica passam despercebidas, mesmo oferecendo excelentes oportunidades de progressão de carreira e futuro», acrescenta.
Esta é, aliás, outra das questões do sector. Nem sempre as pessoas percebem a facilidade de progressão de carreira ou a alavancagem salarial em áreas de serviços essenciais, mas encarados como “menos apelativos”. «Neste sector, da climatização e refrigeração, nenhum computador ou inteligência artificial pode substituir o trabalho humano na detecção e reparação de falhas nesses sistemas que servem milhares de pessoas, tornando este um campo promissor e indispensável.»
Na realidade, existe uma necessidade de desmistificar ideias pré-concebidas sobre algumas profissões que são efectivamente necessáris. E se os jovens não conseguem perceber as oportunidades de carreira nestas áreas, a verdade é que os próprios pais não entendem que há uma orientação quase massiva para determinadas possibilidades de carreira que são muito imediatas e transmitidas através do audiovisual. «É necessária uma estratégia que me parece importante que seja desenvolvida, em que a comunicação não seja apenas dirigida aos jovens, mas também aos encarregados de educação, para que o futuro não se esgote», adianta.
A falta de recursos nestas áreas levanta outra problemática: «As empresas tentam arranjar profissionais nas outras empresas, e isto é péssimo para o funcionamento do mercado.» Esta constatação exige aquilo que outra empresa ressalva: «Precisamos de alimentar o mercado, sobretudo com jovens, e temos de fazer uma renovação geracional.»
Cinquenta anos após o 25 de Abril, é chegado o momento de a sociedade se renovar. «Houve uma geração que construiu o País e nos trouxe até este ponto. Nós somos os filhos dessas pessoas, e elas estão a chegar ou já chegaram ao fim da carreira profissional. E sobretudo em áreas que sejam mais de economia familiar, nas empresas de pais que supostamente passariam para os filhos. A verdade é que os filhos não querem agarrar no negócio dos pais.»
Leia o artigo na íntegra na edição de Março (nº. 171) da Human Resources, nas bancas.
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