“Responsible Business”. Não há outro caminho!
Por Nuno Moreira da Cruz, director executivo do Center for Responsible Business & Leadership na Católica-Lisbon School of Business & Economics
Acredito que, a longo prazo, a vida neste planeta se está a tornar insustentável em várias áreas, desde o ambiente aos direitos humanos, da ética à discriminação por género e raça, da pobreza às condições de trabalho. Do ponto de vista do ambiente, a ciência tem feito o seu trabalho e ofereceu provas incontestáveis de que o clima mudou drasticamente, e o futuro do planeta está em risco. Aqueles que ainda tentam argumentar contra, perderão em breve a sua última gota de credibilidade. E do ponto de vista social, as assimetrias viram-se ainda mais agravadas com a pandemia.
A consciência destas realidades e o reconhecimento da insustentabilidade do planeta estão globalmente aceites, e os fenómenos da globalização e das novas tecnologias continuarão a incrementar essa consciência.
Neste contexto, as empresas têm um papel fundamental a desempenhar, no sentido em que têm os recursos, capacidades e processos para operar as mudanças necessárias.
O que nos leva à pergunta chave para o envolvimento definitivo das empresas: existe de facto um “Business Case” para uma aposta estratégica na Sustentabilidade?
Como em qualquer “Business Case” a criação de valor tem de resultar de menor custo, aumento de preço ou aumento de volume. Ou, no mínimo, que com esse Business Case se evite a destruição de valor, sobretudo quando está em risco a reputação da empresa.
Sobre a relação direta entre estratégia de Sustentabilidade e melhores resultados, há cada vez mais estudos credíveis que o provam. E se há gestores que ainda o duvidam, resta uma única questão: qual é a visão longo prazo em que acreditamos? Que probabilidade atribuímos a um cenário de um consumidor e cidadão cada vez mais disponível para acompanhar (leia-se: para comprar e recomendar) empresas que genuinamente se preocupem com estes temas?
Se atribuirmos uma alta probabilidade a esse cenário futuro então tudo ganha claridade. Claridade que os grandes investidores já têm, que a gestão das grandes empresas já tem, e com isso arrastarão todo o ecossistema das pequenas e medias empresas que gravitam à sua volta.
No futuro, a criação de valor só será sustentadamente conseguida quando os interesses de todos os “stakeholders” relevantes forem tidos em conta na definição da estratégia de empresa. A atual preocupação quase exclusiva com o interesse dos acionistas tenderá a esbater-se.
Estes novos desafios significam que os clientes (e “stakeholders” em geral) não estarão disponíveis simplesmente para comprar produtos e serviços, mas sim para comprar produtos e serviços sustentáveis (no sentido holístico do conceito).
Temos um sério problema de liderança política em todo o mundo (com poucas exceções), é difícil continuar a acreditar que governos e políticos serão capazes de inverter este trajeto e ritmo nefasto. Chegou a hora para os consumidores depositarem a confiança e esperança em líderes e empresas “responsáveis”. Estudos de mercado indicam uma tendência dos consumidores para comprar produtos e serviços de empresas que reconhecidamente estejam a fazer a diferença na sustentabilidade. E este círculo virtuoso irá capacitar cada vez mais essas empresas para impulsionar a agenda de sustentabilidade.
E termino parafraseando algo já ouvido algures: “Acredito que, se as empresas não se transformarem em empresas social e ambientalmente mais responsáveis porque é o melhor para o mundo em que vivemos, então devem fazê-lo porque é o melhor para os seus negócios”.