Retalk: O que torna Portugal atractivo ao investimento estrangeiro é o seu talento

Portugal é a escolha de cada vez mais multinacionais para instalar os seus centros de excelência ou de competências. Philomène Dias, directora da AICEP, e José Pestana, senior manager de Outsourcing da Randstad, não têm dúvidas de que isso se deve sobretudo ao reconhecimento da qualidade dos profissionais portugueses.

 

Por Sandra M. Pinto

 

A (re) talk desta semana, uma parceria entre a Human Resources e a Randstad,  contou com a presença de Philomène Dias, directora da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, e José Pestana, senior manager de Outsourcing da Randstad. A conversa, moderada por Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources, teve como ponto de partida o tema “Portugal é multilingual” para percebermos o que torna Portugal um país atractivo em termo de termos de estratégia nearshore. Conheça a opinião dos participantes.

 

José Pestana, senior manager de Outsourcing da Randstad começa por esclarecer que o nearshore é um tipo de serviço procurado pelas empresas quando querem centralizar um conjunto de competências ou de serviços na mesma localização. «Os nearshore mais conhecidos são os de IT e serviços financeiros, entre outros, sendo que existem três modelos: o nearshore quando é feito num país próximo, dentro do mesmo fuso horário;  o offshore é feito noutro país, não necessariamente próximo, e onshore quando as empresas se deslocalizam dentro do próprio país.» . Esta classificação é importante pois serve ela de base à localização, por exemplo, de centros de excelência como aqueles que existem em Portugal, bastante procurado para os acolher.

Portugal tem assistido a um boom deste tipo de serviços ao ser cada vez mais procurado por empresas multinacionais que reconhecem no nosso país determinadas qualidades bastante solicitadas. «Ao nível de IT Portugal tem já uma grande tradição sendo que a Web Summit veio ajudar a que as empresas continuassem a fazer essa aposta, mas temos também apostas noutras vertentes», refere José Pestana, destacando a cada vez maior componente de contact centers, «uma vez que desde Portugal já começamos a dar apoio a muitos países estrangeiros no que refere a estes serviços».

Para Philomène Dias, directora da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, a atractividade de Portugal em termos de negócio está a crescer sendo que já é o segundo ano que o AICEP tem conseguido um crescimento ao nível da captação de investimento estrangeiro para Portugal. «Há de facto uma dinâmica muito forte de captação de investimento para Portugal», refere a responsável, «hoje em dia o principal factor que faz com que Portugal seja um sucesso é o talento, o reconhecimento da existência de talento em Portugal». Para a responsável o nosso país tem uma mão-de-obra cada vez mais qualificada, e a prova disso é o aumento do número de universidades portuguesas que fazem parte de ranking internacionais e o cada vez maior números de estudantes no ensino superior. A este factor juntam-se a estabilidade social do país, a proximidade aos centros de decisão e o facto de fazer parte da União Europeia.

 

Factores de atractividade

Salário, estabilidade profissional e ambiente de trabalho são as alíneas referidas pela OCDE para definir a atractividade de um país. Para Philomène Dias falar em salários é sempre subjetivo, «temos de observar esta questão enquanto qualidade/custo, e é assim que apresentamos o país», revela. «Na última vaga de investimento, 2014/2015, temos verificado que se criou um investimento mais qualificado, com ofertas de emprego também elas mais qualificadas e com remunerações superiores», sublinha a directora da AICEP, «parece-me que essa é a grande mudança, o facto de Portugal receber actividades com maior valor acrescentado».

No que diz respeito à fuga de talentos, a responsável é da opinião que depois da fuga verificada em 2015 «o que hoje se verifica é a criação de oportunidades de emprego para que essas pessoas regressassem a Portugal, além de nos apresentarmos como um país atractivo para o talento internacional».

Na opinião de José Pestana para Portugal ser bem sucedido tem de conseguir ter uma estratégia para acrescentar valor às empresas. «Temos de conseguir atrair as pessoas não só usando o salário, mas implementando uma estratégia de employer branding para que exista um correcto equilíbrio entre vida pessoal e profissional,  um bom ambiente de trabalho, que os colaboradores se sintam realizados e com boas perspectivas de progressão de carreira».

As empresas referem como grande elemento de atratividade a grande qualificação técnica dos profissionais portugueses, reforça Philomène Dias, mas a este elementos acrescentam o facto de serem profissionais com um mente muito aberta e disponíveis para aprender, arriscar e inovar. Como achega José Pestana refere ainda a grande facilidade em falar línguas estrangeiras, «a verdade é que o inglês é já hoje um dado adquirido, mas os profissionais nacionais têm vindo a alargar os seus conhecimentos para outros idiomas».

 

A aceleração causada pela COVID-19

Há muitas empresas que já não ponderam tanto a sua localização pois com a pandemia perceberam que, através do trabalho remoto, podem ter os colaboradores em diferentes geografias. Será que esta nova realidade vai se revelar benéfica para Portugal? O senior manager de Outsourcing da Randstad acha que sim, «o trabalho remoto é muito vantajoso até para aquelas pessoas que gostavam de ter uma experiência internacional sem sair do conforto de casa», afirma. Para o responsável a Covid-19 veio demonstrar que a localização não é tão relevante como se imaginava, «isto abre um procedente para que nós possamos ter funções especializadas a trabalhar fora das empresas, e isto faz tanto sentido para o mercado nacional como para o mercado internacional».

Philomène Dias analisa o tema de uma forma um pouco diferente, «ficamos muito satisfeitos quando vimos empresas a contratar directamente aqui o nosso talento, porque assim estão a contribuir de facto para a fixação da população activa, mas o ideal é que a empresa esteja efectivamente cá instalada pois dessa forma vai criar mais postos de trabalho e mais investimento», defende, «quando mais fixa estiver uma empresa maior é o efeito de arrastamento sobre os agentes locais».

Simultaneamente, a Covid-19 veio provocar uma aceleração digital pelo que importa perceber de que forma podemos tirar melhor partido desta aceleração de forma a não ficarmos para trás. «A pandemia veio acelerar uma tendência que já vinha sendo sentida», relembra Philomène Dias, «perante a situação inesperada as empresas tiveram de acelerar, o que foi um ganho muito grande». Na opinião da directora da AICEP não vai acontecer nenhum recuo, «até pelo grande investimento que já foi feito, mas também pela demonstração dos benefícios que a transição digital trouxe não só às empresas como à própria sociedade».

No caso da Randstad a própria cultura organizacional mudou, refere o senior manager de Outsourcing da consultora. «A nossa forma de comunicar mudar muito, pelo que sentimos que cada vez mais o factor humano é mais valorizado». Ao nível da transformação digital, a empresa passou por uma mudança de paradigma, «seja pela adopção do modelo de trabalho remoto na própria organização, seja pela deslocalização com sucesso dos contact centers e pela mudança conseguida ao nível de processos organizacionais».

 

A aceleração digital

Com a aceleração digital, será que as empresa vão perder ao nível da sua própria cultura, ou tudo depende de uma readaptação à nova realidade? «A questão do modelo de trabalho híbrido faz aqui todo o sentido», defende José Pestana, «será ele, efectivamente, o futuro, sendo que as empresas vão ter obrigatoriamente de se adaptar». 

«O remoto funciona, disso já ninguém duvida», reforça Philomène Dias, «pelo que as empresas tem de se adaptar pois com o “novo normal” vão ter de integrar o trabalho remoto».

 

Quando ao futuro, não podemos esquecer que Portugal tem demonstrado ao longo dos anos que sabe dar resposta às crise, superando-as, «com a crise actual vamos continuar a ser atractivos pois vamos saber nos adaptar», acredita Philomène Dias.

A confiança na marca Portugal é evidente nas empresas e nos investidores, refere José Pestana, «a estratégia de Portugal deve ser a de repensar alguns modelos e metodologias actuais de trabalho, como o já referido nearshore, que tem revelado excelentes resultados pelo que pode e deve ser expandido para outras áreas».

 

(re) Veja aqui a conversa, na íntegra.

 

Pode ver todas as retalks anteriores aqui.

 

Ler Mais