Ricardo Nunes, Bring Global: «Espero que a guerra, interesses e intrigas políticas, sucumbam perante as mudanças urgentes de um mundo que evolui de crise em crise»

Ricardo Nunes, Human Capital director da Bring Global, acredita que «todos nós temos claro o que necessita de ser mudado e já. E se falharmos mais esta oportunidade, vamos definitivamente continuar neste vórtice de déjà vu dos que insistem em desculpar a incompetência e inacção… com mais uma nova crise que vai inevitavelmente surgir no horizonte.»

 

«No início de 2020, tomámos consciência da evidência clara de que estávamos no início de uma pandemia, com um futuro incerto, e que o mundo ia inevitavelmente mudar ainda mais rapidamente. Preparámos as nossas vidas e fizemos os inevitáveis ajustamentos.

Passados dois anos, e com a pandemia quase ultrapassada, surge mais outra improbabilidade: uma guerra à porta da Europa. De novo o mundo mudou repentinamente, e percebemos que, uma vez mais, teríamos de adaptar-nos e fazer novas reformas para ultrapassar mais uma série de crises.

Perante isto tudo, o que pensamos nós, trabalhadores, decisores e empresários?

Os resultados deste barómetro mostram-nos que temos todos uma percepção bem clara de que esta nova crise vai ser tão grande ou maior do que a anterior. E que, por conseguinte, as reformas que estávamos a colocar em prática se tornaram agora ainda mais urgentes, mas não necessariamente obsoletas.

É extraordinário perceber que as reformas consideradas prioritárias são as que vinham já a ser realizadas para enfrentar o pós-pandemia:

  • Modelos de trabalho;
  • Modelos de liderança e preparação para gerir num novo paradigma;
  • Processos e Sistemas de RH/Transformação Digital.

Acredito por isso que muitas empresas, como a minha, já estão a fazer estas reformas e que vão continuar a implementá-las. Obviamente, agora adaptadas às novas realidades, pelo menos as que podemos antecipar.

Uma das mais importantes questões é, sem dúvida, a lei laboral. Neste campo, destaco, pela sua relevância, os dois grupos de prioridades apresentadas:

1. Grupo (47%-50%):
a. Flexibilização dos modelos de trabalho;
b. Flexibilização dos vínculos contratuais/contratos de trabalho.

2. Grupo (22%-29%):
a. Flexibilização dos horários;
b. Flexibilização nos despedimentos;
c. Flexibilização da remuneração.

Ou seja, todos nós temos claro o que necessita de ser mudado e já. No entanto, os dados mais relevantes, embora não surpreendentes para mim, são os que mostram o grau de credibilidade que temos nos nossos governantes para levar em frente as referidas reformas na lei laboral no curto/médio prazo. Entre os inquiridos, o resultado sobre se, de facto, vamos ver estas reformas feitas é o seguinte:

  • 51% – Não;
  • 29% – Sim, mas nas áreas/temas menos relevantes.

Espero sinceramente que estas estatísticas venham a estar erradas e que, desta vez, o Governo (com maioria absoluta), o parlamento, os sindicatos e os patrões se entendam. Que a guerra, interesses e intrigas políticas sucumbam perante as mudanças urgentes de um mundo que evolui de crise em crise. A concorrência internacional não espera por nós e, se não ultrapassarmos esta cegueira política, não vamos sair do inevitável e pantanoso lugar em que estamos enterrados. Se falharmos mais esta oportunidade, vamos definitivamente continuar neste vórtice de déjà vu dos que insistem em desculpar a incompetência e inacção… com mais uma nova crise que vai inevitavelmente surgir no horizonte.»

 

Este testemunho foi publicado na edição de Outubro (nº.142) da Human Resources, no âmbito da XLIII edição do seu Barómetro.

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