Rita Cadillon, Primavera BSS: «É importante desmistificar que existem umas profissões para homens e outras para mulheres»

Ciente da dificuldade em trazer mulheres para o sector da tecnologia, a Primavera BSS associou-se ao projecto “Engenheiras por um dia”. O objectivo é desconstruir a ideia de que a área tecnológica é um domínio exclusivamente masculino. Mas a sua acção neste âmbito é bem mais abrangente e integra-se numa cultura de inclusão e diversidade.

 

Por Sandra M. Pinto

 

Criada em 1996 e sediada na cidade minhota de Braga, a Primavera BSS assume hoje, como no momento em que foi criada, a missão de simplificar a vida das organizações, aumentando a criação de valor. Isso mesmo fez questão de assinalar Rita Cadillon, HR head manager da tecnológica, salientando que, num mercado tão concorrencial como este, procuram marcar a diferença através de uma gestão centrada nas pessoas. «Somos uma empresa em que as lideranças se preocupam genuinamente com os seus colaboradores e em que há um forte investimento na formação e no desenvolvimento das suas carreiras» afirma. «Reconhecemos o esforço individual e colectivo e celebramos juntos os bons momentos, pelo que posso afirmar que existe na organização um óptimo ambiente de companheirismo e camaradagem.»

 

A escassez de pessoas
Sendo a falta de profissionais qualificados um dos maiores desafios no sector, também a Primavera tem sentido alguma dificuldade em contratar. «Tal como qualquer tecnológica actualmente, sentimos o problema da escassez de pessoas, sobretudo nos últimos anos, em que se instalaram em Portugal muitas empresas estrangeiras de TI que procuram perfis semelhantes», nota a responsável, revelando que «existem perfis em que essa escassez é mais sentida», principalmente na área do desenvolvimento de software e consultoria.

Para tentar reverter a situação, a empresa tem promovido e implementado um conjunto de boas práticas ao nível da gestão de Recursos Humanos, o que levou já ao seu reconhecimento como referência nacional nas políticas de promoção da igualdade, parentalidade e conciliação entre a vida profissional e familiar.

Outra forma de eventualmente colmatar esta escassez de profissionais na área tecnológica é atrair mais mulheres. Actualmente, a Primavera conta com 350 colaboradores em cinco mercados: Portugal, Espanha, Angola, Moçambique e Cabo Verde. Em Portugal, contam com uma média de 40% de colaboradores do sexo feminino, e Rita Cadillon confia estar a haver uma evolução positiva neste âmbito, com mais mulheres a integrar o sector tecnológico. «Continua a ser bastante difícil encontrar candidatas para algumas funções, designadamente as de Engenharia de Software, mas nota-se que existe uma consciência da sociedade para estas questões, como, por exemplo, através da criação de fóruns de recrutamento de mulheres para a área tecnológica.»

A HR head manager acredita ainda que existe hoje uma maior consciência para os temas da diversidade e para a implementação de iniciativas que visam aproximar as mulheres de um sector, à partida, mais masculino.

É, aliás, aceite por todos que há um longo trabalho a ser feito para que as engenharias tecnológicas se tornem atractivas para as mulheres. E, apesar do caminho até agora trilhado, o sector das tecnologias continua a ser parco no que se refere à presença feminina. São muitas as organizações e as empresas que visam mudar essa realidade com a implementação de iniciativas que têm ganhado terreno e destaque. E a Primavera é uma delas.

 

“Engenheiras por um dia”
O projecto “Engenheiras por um Dia” centra- se no combate e prevenção da intensificação da segregação das ocupações profissionais em razão do sexo e, em especial, na ausência das mulheres das áreas de Engenharia e Tecnologia. Visa promover, junto das estudantes de ensino não superior, a opção pelas Engenharias e pelas Tecnologias, desfazendo a ideia de que estas são domínios masculinos. Com ele pretende- -se combater os preconceitos e estereótipos sociais sobre o que supostamente é próprio e adequado para mulheres e raparigas, preconceitos esses que condicionam, ainda, as opções escolares e escolhas formativas e de carreira.

Sob a tutela da Secretaria de Estado da Cidadania e a Igualdade e integrado na Estratégia Nacional para a Igualdade e Não Discriminação – Portugal Mais Igual e no Plano de Acção para a Transição Digital, o projecto “Engenheiras por um Dia” é coordenado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) em articulação com a Carta da Diversidade (APPDI), o Instituto Superior Técnico e a Ordem dos Engenheiros.

Recentemente, a Primavera decidiu aderir ao projecto. Rita Cadillon explica porquê: «Esta iniciativa governamental pretende combater a ausência das mulheres das áreas da Engenharia e Tecnologia. Ao promover junto das alunas do ensino secundário a opção pelas engenharias e pelas tecnologias, vai-se desconstruindo a ideia de que estas são domínios puramente masculinos, e isso para nós é de extrema relevância, daí termos optado por aderir. » E acrescenta: «É importante associarmo-nos às causas defendidas pela Comissão de Cidadania e Igualdade, cujos valores defendemos e procuramos praticar no dia-a-dia da empresa. Queremos ter mais diversidade nas nossas equipas, e sentimos que é o parceiro certo para nos apoiar nesse objectivo.»

Na visão desta empresa tecnológica, atrair as jovens estudantes para as áreas tecnológicas é vital. «Temos de desmistificar que existem umas profissões para homens e outras para mulheres, e a área tecnológica pode beneficiar, e muito, se tiver formas diferentes de ver as coisas e se implementar novas abordagens nas suas equipas.»

 

Uma política inclusiva
A política de Gestão de Pessoas da Primavera assenta no reconhecimento das competências e do desempenho, independentemente do género. «Procuramos um equilíbrio nas equipas, embora, como já foi referido, exista dificuldade em recrutar mulheres para as áreas tecnológicas.» A empresa tem actualmente cerca de 30% de mulheres em posições de liderança, «muito por “culpa” das políticas de gestão de tempo que dão flexibilidade para conciliar o trabalho com a vida familiar».

De facto, com a pandemia, o tema da conciliação entre vida profissional, familiar e pessoal saltou para a ordem do dia. Na Primavera, o modelo de trabalho é flexível e ajustado à realidade de cada colaborador, contemplando tempo presencial e tempo remoto. «Queremos que os nossos colaboradores tenham uma vida equilibrada e procuramos apoiá-los, oferecendo flexibilidade na gestão de tempo, implementando programas e benefícios na área de saúde e bem-estar, dias adicionais de férias, etc.», exemplifica a responsável.

Ao nível do recrutamento, a organização tem implementado uma política inclusiva, usada para integrar pessoas com incapacidade e oriundas de múltiplas nacionalidades. Já «a política de compensação e benefícios rege-se por critérios de desempenho e posicionamento em bandas salariais, sendo aplicada da mesma forma para todos os colegas», garante.

As boas práticas da Primavera não têm passado despercebidas no mercado e as distinções que têm recebido são «um orgulho », porque significa que são reconhecidos «pelo trabalho feito na Gestão de Pessoas. Mas nunca nos damos por satisfeitos, estamos sempre a procurar melhorar os nossos processos e a inovar nas nossas práticas para que os nossos colaboradores se sintam cada vez mais felizes e realizados », salienta Rita Cadillon. Considera serem «de facto, uma boa empresa para se trabalhar», principalmente pela aprendizagem contínua que proporcionam e pelas oportunidades de desenvolvimento e de progressão na carreira.

Para o futuro olham com «muita esperança e optimisto. Acreditamos que este ano vamos superar as dificuldades que a pandemia nos trouxe e que vai ser um ano fantástico», conclui.

 

Este artigo foi publicado na edição de Maio (nº.137) da Human Resources, nas bancas. Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

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