
Rogério Canhoto: E se o futuro for os humanos fazerem… nada?! O sucesso dependerá da forma como pessoas e máquinas coexistem, colaboram e se potenciam
Na abertura da 30.ª Conferência Human Resources, que aconteceu ontem no Museu do Oriente, o keynote speaker Rogério Canhoto, Chief Revenue Officer da Automaise, foi além de mostrar como a Inteligência Artificial está a transformar o trabalho, defendeu – e mostrou – como juntar afectos e algoritmos será decisivo para o sucesso futuro.
A apresentação “Preparar Hoje o Sucesso de Amanhã” começou com uma citação de Sundar Pichai, CEO da Alphabet, que considera que a Inteligência Artificial vai ter um impacto maior na humanidade do que a electricidade e o fogo. Rogério Canhoto partiu daí para fazer notar que somos privilegiados, porque estamos a assistir, em primeira mão, a uma transformação da nossa sociedade.
O orador não mascarou o desconforto dessa revolução, recordando que vai mudar a humanidade, mas é algo para o qual não fomos de todo preparados. Mantendo o tom, lançou uma frase provocatória, de modo a paralisar a sala: “Stop hiring humans”. «Achei que era muito adequada para um congresso dedicado aos Recursos Humanos», acrescentou com humor. «Um segundo só para absorverem a pertença desta frase. Tipicamente, quando alguém precisa de fazer crescer a sua empresa, aumentar a sua competitividade, crescer as suas vendas, o que é que fazemos? Contratamos pessoas. Mas “Stop Hiring Humans” foi uma frase viral no primeiro trimestre deste ano, que circulava nos Estados Unidos, e não só nas redes.»
Era uma campanha da Artisan, empresa de agentes de Inteligência Artificial, que permite potenciar as capacidades comerciais das equipas, ou, por outro lado, «permite substituir as equipas comerciais das vossas empresas. Na realidade, está nas vossas mãos». O executivo destacou ainda que esta frase exemplifica como a tecnologia desafia pressupostos e práticas que antes eram consideradas naturais.
O paradoxo da libertação ameaçadora
Essa campanha “Stop Hiring Humans” não pairava no vácuo: era o eco de um furacão que Rogério Canhoto trouxe directamente das manchetes. «Quando comecei a preparar esta apresentação, fui procurar notícias sobre Inteligência Artificial», revelou, antes de apresentar quatro casos de grandes empresas que anunciaram reduções de milhares de colaboradores graças à IA: Accenture, Goldman Sachs, Amazon e Nestlé. «Nunca a tecnologia esteve tão disponível para nos libertar e fazermos coisas que nunca fizemos. Mas, ao mesmo tempo, ameaça tudo aquilo que tínhamos como pressuposto e a continuidade de algumas pessoas.»
A raiz desse abismo é a produtividade que a IA desperta. «Porque é que isto acontece? Estamos agora na Era de assistentes de Inteligência Artificial – ChatGPT, Perplexity, Copilot, Notebook LMS… Há cinco anos não usávamos estas ferramentas. Hoje aumentam a produtividade e, como consequência, estas quatro notícias surgiram. Vai obrigar-vos a tomar decisões difíceis para as quais não fomos treinados. Work smarter, not harder. Está a acontecer. As we speak.»
O orador sublinhou também que a velocidade de evolução das ferramentas de IA é astronómica, citando Sam Halperin, CEO da OpenAI: «Estamos a entrar numa fase em que os agentes de Inteligência Artificial vão ser os vossos próximos colegas de trabalho. Isto vai alterar a vossa rotina e, acima de tudo, reformular indústrias inteiras.»
Preparar pessoas e organizações
O desafio é preparar-nos para a coexistência digital. Rogério Canhoto destacou cinco questões-chave para Recursos Humanos:
- «Quais os novos perfis e competências que devemos contratar para enfrentar esta realidade?
- Como avaliar a performance quando metade do trabalho é feito por IA?
- O que fazer com colaboradores cujas funções vão desaparecer?
- Como gerir trajectórias de carreira profissional com agentes de IA a ocupar 20, 30, 40% das equipas?
- E como preparar os líderes das empresas para gerir equipas híbridas, de pessoas e IA?»
Exemplos práticos reforçaram a mensagem, com a facilitação em áreas que vão da programação à integração nas equipas de desenvolvimento, automatização de entrevistas de emprego e mudanças estratégicas no recrutamento. Canhoto destacou casos concretos, como o GitHub Copilot ou o HireVue, demonstrando como a IA já está integrada no dia a dia das empresas.
Os estudos que apresentou confirmam a urgência: um relatório da McKinsey revelou que, em Portugal, 1,3 milhões de postos vão precisar de requalificação até 2026. Outro relatório, da Adecco, indica que apenas 3% dos profissionais portugueses estão preparados para o impacto da IA, quando globalmente a média está em 37%. Já a Gartner estima que 80% da força de trabalho global necessitará de upskilling até 2027.
Também existiu tempo para o humor, com a fictícia Nothing University, num anúncio que parodia o mundo corporativo: «O que será o nosso futuro? Algo que os humanos finalmente conseguirão fazer durante todo o dia. Nada». Com diploma e tudo, este curso intensivo sublinhou a necessidade de flexibilidade e criatividade frente à mudança.
Para Rogério Canhoto, a conclusão é evidente: «O sucesso de amanhã não depende apenas dos algoritmos, mas da forma como humanos e máquinas coexistem, colaboram e se potenciam.» E a mensagem ficou clara: é hora de agir, hoje, para ganhar o amanhã.