Rui Cordeiro, CEO Critical TechWorks: Desafiar o presente para construir o futuro

A BMW apostou em Portugal para dar vantagem competitiva à empresa. É esse o propósito da Critical TechWorks, desafiar o presente para construir o futuro, sabendo que a chave para o alcançar são as pessoas. E não ter medo de «caminhar por caminhos nunca antes caminhados» na sua gestão.

 

Por Ana Leonor Martins

 

Durante os primeiros 16 meses de existência, a Critical TechWorks recrutou, em média, 30 pessoas todos os meses. Hoje, com cerca de ano e meio de existência, conta com perto de 800. Apesar da pressão pela necessidade de talento, nunca recrutam para “fazer número”, só quando encontram «as pessoas certas». Quem o garante é Rui Cordeiro, chief executive officer da joint venture entre a Critical Software e a BMW desde que foi criada, em Setembro de 2018. Mas prefere ser visto como chief purpose officer, porque espelha aquilo que acredita ser a sua responsabilidade e contributo maior para a empresa que representa. As pessoas certas, essas, são «pessoas apaixonadas pelo que fazem, que percebem que aquilo que sabem é muito menos do que aquilo que não sabem, e que sabem que, para chegar longe, temos de o fazer em conjunto».

 

Assumiu a presidência executiva da Critical TechWorks logo quando foi criada, depois de mais de 20 anos na Critical Software. Como encarou este desafio?
Apesar de ter tido outros desafios bastantes interessantes, percebi que o desafio de liderar a Critical TechWorks seria uma oportunidade que acontece uma vez na vida. O que me motivou foram, sem dúvida, duas coisas: a oportunidade de trazer para Portugal um centro de engenharia focado no desenvolvimento de tecnologia com impacto directo na vida das pessoas; e, percebendo a ambição da BMW para este centro de engenharia, a motivação de o tornar real.

 

O que lhe foi pedido, exactamente?
O desafio inicial passava por desenvolver uma estratégia que permitisse criar um centro de desenvolvimento de software que em 16 meses chegasse às 500 pessoas. Ultrapassámos esse número e chegámos às 640 pessoas no final de 2019, sendo que somos mais de 800 actualmente – de 30 nacionalidades diferentes –, distribuídos pelos escritórios de Lisboa e do Porto.

Este desafio incluía criar uma organização que fosse um exemplo no desenvolvimento de software, com o objectivo de contribuir para acelerar o processo de transformação da BMW para uma empresa de tecnologia.

 

O que assumiu como prioridades?
Apesar de o objectivo ser trazer a experiência e práticas de gestão da Critical Software para a Critical TechWorks, não nos limitamos a replicar modelos. Segui- mos os mesmos valores, mas estávamos conscientes de que tínhamos em mãos uma oportunidade de criar algo novo, sem grandes limitações e pressupostos. As prioridades centraram-se em fundar uma cultura baseada nos princípios agile e torná-los transversais a toda a em- presa. Centramo-nos também em definir uma estrutura que permitisse a em- presa crescer a um ritmo sem precedentes. Estamos a falar numa média de mais de 30 pessoas novas todos os meses, durante 16 meses.

 

Quais foram os principais desafios que encontrou quando chegou?
Os desafios foram de várias ordens porque tivemos de fazer diversas coisas em simultâneo. Nos primeiros tempos, com um número elevado de pessoas que entravam, éramos uma empresa nova todos os meses. Ao mesmo tempo que estávamos a recrutar, a fazer onboarding e a criar equipas para arrancar projectos, estávamos também a definir e a redefinir a empresa, a desenhar a cultura, a desenvolver o mindset colectivo, as formas de trabalho, os processos…

Um outro desafio foi a integração no ecossistema da BMW, sendo que é uma empresa com mais de 100 anos de história e com mais de 120 mil pessoas, e nós, sendo uma empresa pequena, acabada de nascer, que traz novos métodos e formas de fazer as coisas, teríamos de provar que merecíamos fazer parte deste ecossistema. E o desafio do recrutamento, sendo que a prioridade não foi simplesmente trazer pessoas, mas trazer as pessoas que queríamos.

 

Tinham anunciado que queriam atingir as mil pessoas até final do ano. Já reviram este objectivo?
Mantemos o objectivo, mas não é um objectivo que vamos atingir a todo o custo, só o faremos se conseguirmos encontrar as pessoas certas. É certo que há muita competição na procura de talento, e ainda bem que existe, significa que o mercado é bom e que há talento. A escassez faz com que as empresas procurem ser melhores, evoluam e criem melhores condições para as pessoas. Com isto, criamos um ecossistema mais forte e mais atractivo para pessoas de outros países.

 

Mas a situação de crise sanitária que hoje vivemos, com o impacto que terá nas economias em geral e nas empresas em particular, vai alterar a dinâmica que se vinha a verificar…
A crise provocada pelo novo coronavírus está a impor várias mudanças e ninguém sabe ainda a dimensão das mesmas nem o impacto que vamos enfrentar. Para já, os nossos planos mantêm-se, continuamos a recrutar e a fazer o onboarding de novas pessoas. Estamos a fazê-lo de
forma remota, o que representa um cenário novo para nós, mas o pior que podemos fazer neste momento é parar.

 

Que perfis procuram, essencialmente?
Actualmente, estamos a recrutar perfis mais seniores, pessoas já com alguns anos de experiência. Continuamos também atentos a pessoas recém-licenciadas que demonstrem a motivação e entusiasmo para trabalhar na indústria automóvel e que estejam alinhadas com o nosso conceito de empresa.

 

As tais “pessoas certas”. Nesse sentido, que características privilegiam?
Regra geral, procuramos pessoas que partilhem os nossos valores. Pessoas apaixonadas pelo que fazem, que percebem que aquilo que sabem é muito menos do que aquilo que não sabem, e
que sabem que, para se chegar longe, temos de o fazer em conjunto. Queremos construir uma empresa que não depende de ninguém em particular nem está limitado a uma mente brilhante, mas que depende de todos.

As competências técnicas avaliadas quando estamos a recrutar são importantes, mas não são determinantes. Nós acreditamos profundamente, e sem reservas, na capacidade de as pessoas aprenderem. Não é tão importante o conhecimento individual, que será sempre limitado. O que nos interessa é o conhecimento que somos capazes de criar em conjunto, um conhecimento dinâmico, que se desafia constantemente e que está em contínuo crescimento.

 

Leia a entrevista na íntegra, na edição de Abril da Human Resources, nas bancas.

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