Salário mínimo perde poder de compra pela primeira vez em nove anos

Pela primeira vez desde 2013, os trabalhadores a receber o salário mínimo (705 euros brutos) vão perder poder de compra este ano, interrompendo-se a tendência de crescimento a que se assistiu nos últimos anos. E mesmo que, em 2023, se concretize o aumento de 6,4% prometido pelo Governo e a inflação fique nos 5,1%, como prevê o Conselho das Finanças Públicas (CFP), o ganho não será suficiente para recuperar a perda registada no corrente ano, revela o Público.

A evolução do salário mínimo nacional (SMN) será um dos pontos em cima da mesa na reunião da Comissão Permanente de Concertação Social marcada para esta quarta-feira, onde o Governo se comprometeu a apresentar a sua proposta para um acordo de rendimentos e competitividade, com o objectivo de atingir um salário mínimo de “pelo menos” 900 euros e de aumentar o rendimento médio por trabalhador em 20% até ao final da legislatura.

A publicação revela que, durante o período da Troika, o salário mínimo esteve congelado nos 485 euros, o que se reflectiu numa perda de poder de compra em 2011, 2012 e 2013. Depois desse período, fixou-se uma trajectória de aumentos do SMN que subiu, em média, 4,8%, dando aos trabalhadores ganhos de poder de compra acima dos 3%, em resultado das baixas taxas de inflação registadas nos últimos anos.

O ano de 2022 marca a interrupção desde ciclo de crescimento e, pela primeira vez em nove anos, o SMN perde poder de compra. A remuneração mínima aumentou 6% mas, caso as previsões de inflação do Governo (7,4%) e do CFP (7,7%) se confirmem, isso vai traduzir-se numa perda entre 1,4% e 1,7%.

Em 2023, quando se prevê que o SMN aumente 6,4% (para os 750 euros), até é possível que isso se traduza em ganhos 1,3% acima da inflação, mas serão insuficientes para compensar a perda verificada no ano anterior e estarão muito distantes dos ganhos médios de 3% registados nos anos anteriores.