Sandra Brito Pereira, DRH do Montepio: «Estando longe, nunca estivemos tão perto»

«As hierarquias nas empresas têm vindo a esbater-se e as equipas, líder incluído, estão a trabalhar cada vez mais em conjunto».

 

Sandra Brito Pereira, directora de Recursos Humanos do Banco Montepio

 

 

«A importância de uma gestão assente no cliente, numa filosofia de customer centricity começou no Marketing e chegou também ao cliente interno das organizações. Hoje, procuramos soluções customizadas e flexíveis, numa lógica de racionalização económica, de grande exigência e competitividade, o que pode parecer uma equação impossível e, não sendo, é seguramente muito desafiante para quem trabalha nesta área.

A Gestão de Pessoas conquistou também um lugar próximo da estratégia das organizações. Actualmente, é muito raro ver uma grande empresa que não tenha sentado no seu board um responsável máximo de Recursos Humanos, o que, há 10 anos, não acontecia com frequência. Hoje, creio que existe a consciencialização de que nenhuma estratégia poderá ser bem-sucedida sem o envolvimento, alinhamento e direcção das Pessoas. As boas lideranças são cruciais nas organizações e a sua permanente formação e desenvolvimento são nevrálgicas para o sucesso.

Nos últimos 10 anos, mudou o paradigma desta gestão, porque mudou a forma como as relações se estabelecem dentro das empresas, especificamente o modelo de hierarquia e as competências necessárias na liderança. Assistimos cada vez mais a relações de trabalho colaborativas, com líderes mais coordenadores e menos impositivos. Ou seja, as hierarquias nas empresas têm vindo a esbater-se e as equipas, líder incluído, estão a trabalhar cada vez mais em conjunto.

O líder é, cada vez mais, coordenador e criador de pontes entre os elementos da sua equipa, valorizando a complementaridade e a diversidade das competências existentes, partindo do pressuposto de que é com base nessa inteligência colectiva que se conseguem sustentar as vantagens competitivas das empresas e perpetuar os seus factores críticos de sucesso.

Os colaboradores são mais exigentes quanto ao seu envolvimento na missão e estratégia da empresa, e nesse sentido a Gestão de Recursos Humanos deve acompanhar e responder a essa necessidade, alavancando iniciativas de gestão integrada de talento e consolidando o employer branding através da visibilidade positiva de modelos e projectos inovadores na atracção, desenvolvimento e retenção desse talento.

A pandemia veio provar-nos que, com as pessoas motivadas e devidamente alinhadas, é pouco relevante o local, horário e demais condições com que desempenham as suas funções. Efectivamente, os nossos colaboradores demonstraram à evidência que souberam continuar a entregar, em alguns casos, até com mais qualidade, e a atingir os objectivos propostos.

Vou fazer agora em Julho a reunião semestral de balanço com a minha equipa, em zoom, e com a inclusão de um teambuilding como é tradição, e constacto que os objectivos a que nos propusemos para o primeiro semestre, com a excepção de algumas iniciativas que exigiam o presencial, foram todos cumpridos. E algumas matérias como o flexiwork foram alvo de propostas muito mais audaciosas do que teria sido possível há quatro meses atrás.

No caso do Banco Montepio, esta fase veio efectivamente confirmar o potencial de todos os colaboradores para cumprirem qualquer objectivo a que se proponham, porque se encontram alinhados e envolvidos com a estratégia da instituição. Com o estabelecimento do Estado de Emergência, foi necessário, no espaço de uma semana, colocar em teletrabalho cerca de 1400 colaboradores dos serviços centrais, e manter sensivelmente o mesmo número na rede de balcões a prestar o serviço essencial às famílias e empresas portuguesas. E, estando longe, nunca estivemos tão perto. Conseguimos manter as pessoas em teletrabalho a produzirem e a contribuírem para o sucesso da nossa operação, e assegurámos as condições de higiene e segurança para que, quem está na linha da frente, possa desempenhar as suas funções com o devido conforto.

Curiosamente, temas como a aceleração digital, a legitimação de lideranças informais, a menor hierarquização e formalidade na comunicação e o sentido de emergência e coesão permitiram-nos também ver um “lado B” de muitos colaboradores, verdadeiros “tesouros escondidos”, que em tempos de incerteza demonstraram ter o carácter e a capacidade de liderança que talvez só estas circunstâncias atípicas e excepcionais que estamos a viver nos permitissem fazer emergir e identificar.

Após esta fase, penso que há aspectos no mundo do trabalho que vão mudar para sempre. Um deles tem a ver com a ideia pré-concebida sobre o teletrabalho. Perderam-se os estigmas de menor produtividade e ligação com a empresa, e saiu reforçada a ideia de que o teletrabalho tem vários benefícios, quer para os colaboradores, na sua motivação, quer para as empresas, com a maior necessidade de foco na estratégia e objectivos, maior responsabilização das pessoas e possibilidade de, com este modelo de trabalho, repensarem também a sua estrutura de custos fixos, como edifícios e frota automóvel. O Banco Montepio, tal como muitas empresas, está a estudar a maior flexibilização do trabalho para o futuro.»

Este artigo faz parte do tema de capa da edição de Julho (n.º 115) da Human Resources.

Ler Mais