
Se não compreendermos as pessoas, dificilmente compreenderemos os negócios…
Por Catarina Quintela, director of Corporate Solutions na Porto Business School
Num contexto de mudança constante, o verdadeiro diferencial competitivo reside na forma como as organizações mobilizam e valorizam o potencial humano. É um dado adquirido que a tecnologia avança a um ritmo vertiginoso e os dados são fundamentais para a tomada de decisão. Ainda assim, por detrás de cada transformação, de cada estratégia e de cada inovação estão sempre as pessoas. Agora, mais do que nunca, se não compreendermos as pessoas, dificilmente compreenderemos os negócios e, consequentemente, teremos dificuldade em gerir aquilo que desconhecemos.
Perceber de pessoas é, hoje, um fator distintivo que cria uma cultura que gera valor e que pode ser um verdadeiro game changer para qualquer negócio. As empresas que reconhecem isso não se limitam a gerir processos ou a medir resultados numéricos. Elas criam ambientes onde as pessoas sentem que têm voz, onde são respeitadas e encorajadas a trazer o seu melhor para a mesa. Essa cultura de confiança e compromisso faz toda a diferença nos momentos em que é necessário inovar, superar desafios e crescer.
Observa-se, cada vez mais, um movimento em que os CEOs assumem hoje diretamente o pelouro de gestão de pessoas. Esta decisão não é casual. Reflete a perceção clara de que o sucesso organizacional depende, em última análise, da capacidade de atrair, envolver e desenvolver pessoas. Mais do que um mero departamento funcional, os Recursos Humanos são agora vistos como parceiros estratégicos na criação de valor para o negócio. E quando um CEO se envolve diretamente, sinaliza que as pessoas não são apenas “um recurso”, mas antes um agente ativo, com vontade própria, com capacidade de decisão, criatividade e opinião pessoal.
A tecnologia existe e está disponível, pronta para automatizar processos e fornecer insights valiosos. Mas a questão que se coloca não é sobre a tecnologia em si, mas sobre como preparamos as pessoas para lidar com esta nova realidade. A Inteligência Artificial, por exemplo, tem potencial para libertar tempo, aumentar a produtividade e até apoiar decisões estratégicas, mas não substitui a criatividade, a empatia, a compaixão e a capacidade de adaptação, que são competências profundamente humanas que as organizações precisam de nutrir e desenvolver. Preparar as pessoas para lidar com a inteligência artificial implica dotá-las de ferramentas e mindset para colaborar com a tecnologia e não para a temer.
Enquanto quem opta apenas pelo controlo e pelo foco nos números trabalha sempre para resultados de curto prazo, sem impacto verdadeiro ou duradouro, quem compreende as pessoas constrói negócios com propósito e resiliência. As organizações que percebem que o crescimento e a mudança acontecem com as pessoas – e não contra elas – criam bases sólidas para prosperar num mercado em constante mutação.
A mudança, inevitavelmente, gera desconforto. Muitas empresas ainda veem a mudança como um processo “contra as pessoas” que deve ser imposto de cima para baixo. Mas a verdadeira mudança e o crescimento sustentável só acontecem quando são feitos com as pessoas. Quando ouvimos as suas ideias, preocupações e sugestões, quando as envolvemos como cocriadoras de soluções. É nesse diálogo autêntico que surgem as melhores respostas para os desafios que enfrentamos.
Por isso, é essencial que líderes e gestores desenvolvam competências de escuta ativa, de comunicação autêntica e de empatia. Que entendam que liderar não é apenas gerir processos, mas sobretudo inspirar pessoas a serem melhores e a contribuírem para o sucesso do negócio. Porque, no final do dia, levar as pessoas a resultados com um brilho no olhar é o que faz a diferença.