Segunda Guerra Mundial, Pandemia e Gestão de pessoas

Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia

Durante um dos conflitos mais marcantes da humanidade, a Segunda Guerra Mundial, grandes foram as provações que todos tiveram de passar. Como Churchill depois concluiria, nunca devemos desperdiçar uma crise, e foi precisamente isso que aconteceu naquela época, de muitas formas, mas com lições de que nunca devemos esquecer-nos. Recordamos neste texto uma dessas lições e a sua importância para os nossos dias, para a gestão em geral e para a gestão de pessoas em particular.

Durante os conflitos, os Aliados assinalavam com tinta vermelha os buracos das balas nos aviões que tinham sido atingidos por fogo nazi. Nesse trabalho indicavam as zonas do avião mais atingidas, o que permitia às equipas de engenharia reforçar essas áreas, para que os aviões ficassem mais resistentes e prontos para novas batalhas. Todo este trabalho servia de base para a recuperação dos aviões que tinham sido atingidos, mas também na preparação dos outros para serem menos vulneráveis.  Mas Abraham Wald, um matemático radicado nos Estados Unidos, conseguiu olhar para esta situação de uma forma diferente: Contrapondo-se à dedução lógica de que o foco estaria nas áreas mais afetadas, Wald chegou à conclusão que para perceber os pontos de vulnerabilidade não se devia olhar para os aviões que voltavam, mesmo baleados, mas para aqueles que nunca regressavam – esses sim, levavam os tiros fatais. As áreas que deveriam ser reforçadas seriam precisamente aquelas que não tinham qualquer sinal de bala, pois esses seriam os locais que inviabilizavam que o avião regressasse à sua base.

Este episódio alerta-nos para os “desvios de sobrevivência” que consistem em nos focarmos numa parte visível de um fenómeno, muitas vezes a mais evidente, e não considerar as outras partes do mesmo fenómeno, por falta de visibilidade.  No caso dos aviões dos Aliados da II Grande Guerra, olhava-se para os aviões sobreviventes e esquecia-se os que não resistiam.

E para quem gere pessoas, que relevância tem este episódio? Toda, pois estamos a referir-nos a todas as perdas que esta pandemia nos trouxe, com que estamos (ainda) a aprender a lidar e a procurar ultrapassar. Mas não se limitam estas perdas ao volume de negócios, aos clientes, aos trabalhadores, ou mesmo às próprias empresa, pois são bastantes as que têm sucumbido. Referimo-nos às gargalhadas que já não ouvimos na copa, ao abraço que não damos para celebrar uma conquista, ao momento da “piada interna”, e a tantos momentos que são irrepetíveis e se vivem nas empresas. Num período em que procuramos, paulatinamente, retomar as atividades económicas, as rotinas e as transações, é tempo de perceber se estamos a “olhar” para o ângulo certo. Estamos a olhar para as perdas (que devemos sempre honrar e nunca esquecer) e que eventualmente até poderemos recuperar, ou realmente para aquilo que podemos e devemos fazer? Parece relativamente frequente que as decisões, financeiras por exemplo, sejam tomadas e depois se analise o impacto nas pessoas e as opções sobre as mesmas, ponderadas. Ou que se façam opções de negócio e depois se mude o que precisa ser mudado ao nível das pessoas. Não deveria mudar-se de ângulo? Não deveria ser tudo mais articulado? Foco, mas na direção certa, é fundamental.