Sim, há gestão de pessoas no digital. Ageas e Randstad partilham como a estão a fazer

RE(TALK)

Cerca de mil pessoas assistiram ontem (em directo e em diferido) à primeira re(talk), uma iniciativa da Randstad em parceria com a Human Resources. Os convidados foram Catarina Tendeiro (Grupo Ageas Portugal) e Nuno Troni (Randstad), que partilharam como, em menos de uma semana, colocaram perto de 1300 e 450, respectivamente, a trabalhar em casa. E também como estão a gerir esta nova realidade, as dificuldades, as vitórias e as incógnitas.

 

Catarina Tendeiro, directora de Recursos Humanos do Grupo Ageas Portugal e Nuno Troni, director da área de Professionals da Randstad Portugal partilharam as suas experiências e perspectivas sobre o actual contexto, bem como quais os desafios que a actual situação trouxe à gestão de pessoas e como lhes estão a dar resposta, numa conversa, em directo, moderada por Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources.

Com surgimento dos primeiros casos em Portugal, as empresas começaram a perceber que tinham que agir, preventivamente, e por isso, ainda antes da declaração do Estado de Emergência, começaram o colocar os colaboradores em teletrabalho. Nuno Troni reconhece que foi um «processo abrupto. Apesar de na Randstad termos a prática de trabalhar a partir de qualquer lado, e de termos trabalho remoto implementado, pelo menos duas vezes por semana,, o que aconteceu foi que, de um dia para o outro, literalmente, toda a gente do escritório teve de passar a trabalhar desde casa .

No caso da Randstad, e depois de uma semana e meia de adaptação, todos os colaboradores internos, cerca de 430, ficaram a exercer funções em regime de teletrabalho, sendo que será também esse o objectivo relativamente a todos os colaboradores que estão alocados a clientes, «também estes, sempre que possível e cujas funções o permitam, ficarão a trabalhar a partir de casa», garantiu, acrescentando acredita que todas as empresas o estão a fazer. «As empresas viram esta situação como uma absoluta necessidade, pelo que, com maior ou menor dificuldade, todas têm implementado o sistema de teletrabalho».

Reconhecendo que todo este processo constitui uma aprendizagem para todos, tanto para as empresas como para os colaboradores, porque «ninguém estava preparado para esta realidade, pois uma coisa é ter medidas de flexibilidade, outra é por toda a gente a trabalhar em casa. E isso aplica-se, não só à forma como estamos a trabalhar, como à própria dinâmica do negócio em que as empresas estão a travar investimentos e contratações. Foi, de facto, um verdadeiro terramoto o que aconteceu».

Para tentar assegurar a normalidade possível do negócio, Nuno Troni defende ser fundamental garantir quais são as prioridades e os objectivos. «Temos de saber o que queremos alcançar e o que é prioritario. Só assim, podemos depois definir como é que vamos montar e executar o processo para o alcançar.»

 

Já no caso da Ageas, o processo foi feito em várias etapas e fases, até porque parte importante da equipa trabalha no contact center. Catarina Tendeiro revelou que, mesmo antes de declarado o Estado de Emergência, já tinham em casa os chamados casos de risco e os pais com filhos em idade escolar. «A estes seguiram-se os colaboradores que tinham computadores portáteis e depois todos os outros, a quem a empresa conseguiu, no espaço de uma semana,  instalar tudo o que era necessário, inclusive o contact center da Seguro Direto. «Neste momento temos 1300 colaboradores em teletrabalho», partilha.

No decurso deste processo, e enquanto preocupação para a empresa, a parte técnica sobressaiu num primeiro momento, «mas agora é a gestão emocional de cada pessoa e a gestão das equipas aquilo que nos preocupa e que procuramos melhorar».

Assim, e para dar resposta a este desafio, a  Ageas dividiu a sua actuação em quatro áreas: «Desde logo a comunicação e o alinhamento com a gestão de topo para definir estratégias e perceber como as equipas se estão a sentir; depois o apoio aos gestores, seguido de uma terceira acção, transversal a toda a empresa, com iniciativas como o médico online, o acompanhamento de programas de saúde e bem-estar, a criação de um mail próprio onde os colaboradores podem tirar dúvidas, assegurando que existe contacto com os colaboradores, um a um, para tentar manter a proximidade. Por fim, e em conjunto com a Fundação Ageas, criámos várias iniciativas, de entre as quais se destaca “Adopte um avô”, através da qual os voluntários podem ajudar os idosos  que estão retidos em casa.»

 

Num sistema de teletrabalho nem sempre é fácil manter a proximidade entre equipas, sendo que, na Randstad, isso tem sido feito através das ferramentas tecnológicas, «obviamente fundamentais», reconhece Nuno Troni.  O contacto é mantido através da realização de reuniões diárias, «mas também através da celebração conjunta de sucessos e de boas notícias, algo que efectivamente aproxima as pessoas. Na verdade, não é por estarmos distantes que não mantemos o contacto», garante.

Catarina Tendeiro concorda, e admite até que, nesta situação, acaba por falar mais com o sua equipa, uma vez que o contacto é diário. Mas reconhece que é um grande desafio manter a normalidade e a dinâmica da empresa, ao mesmo tempo que é preciso estar atento a cada pessoa, à sua nova dinâmica familiar. «É preciso estar atento a cada pessoa e à sua realidade, ao mesmo tempo que queremos uma certa flexibilidade. É, de facto, difícil combinar isso com a vida de cada colaborador. E à medida que as semanas vão passando, manter o propósito diário de cada um dos colaboradores é absolutamente essencial.»

 

O director da Randstad acredita que as pessoas estão muito conscientes do momento que estamos a passar, mas ressalva que ainda é cedo para perceber se está de facto tudo a correr tudo bem. «Só passaram 15 dias, é cedo para fazer balanços ou avaliações sobre a situação, apesar da boa vontade que se sente da parte de todos em colaborar.»

 

Por parte de quem assistia, chegou uma pergunta: “E quando tudo passar, será que voltamos ao normal ou seremos todos mais digitais?” Nuno Troni perspectiva que o mundo do trabalho vai mudar. «Profissionalmente, vamos viajar muito menos e as empresas vão perceber que trabalho remoto é, claramente, uma hipótese.» Mas, acima de tudo, o responsável defende que é sobretudo importante que passe a haver maior equilíbrio entre a presença física no escritório e o trabalho remoto.

Catarina Tendeiro concorda. «Na verdade, ninguém sabe muito bem como é que tudo vai ser, nem agora, nem depois quando voltarmos à normalidade, pois é tudo novo». Outro aspecto focado pela directora de Recursos Humanos do Grupo Ageas Portugal reside no facto de toda esta situação ter acabado por vir dissipar algumas dúvidas relativamente a aspectos como flexibilidade e trabalho remoto. «Agora já sabemos que até call centers conseguimos ter em trabalho remoto», afirma.

 

E como ficam os planos e estratégias definidas para 2020. Terão as empresas a agilidade para os adaptar, mantendo, dentro do possível, o prosseguimento dos objectivos definidos?

Nuno Troni frisa que é importa perceber o imediatismo da situação que estamos a viver e. distingui-lo, do que é a actuação de uma empresa a longo prazo. «Importa fomentar a agilidade da empresa, pois aquelas que não o conseguirem ser, seguramente não vão sobreviver a um momento como este. Mas, no imediato, importa sobretudo garantir que as empresas não páram e que continuam a sua actividade e que depois conseguem ter a agilidade suficiente para poderem perceber como é que se vão poder adaptar e como é que vão sobreviver».

«É de facto impressionante como o ser humano tem capacidade para se adaptar a estas situações», faz notar Catarina Tendeiro. «Provámos a nós próprios a agilidade que conseguimos ter através da rapidez com que estamos diariamente a tomar medidas.»

 

Ou seja, à pergunta que serviu de tema a esta primeira re(talk) – “Há Gestão de Pessoas – a resposta é sim. «Apesar de toda a incerteza que se vive hoje, temos passado por situações gratificantes, em que temos colaboradores a mostrar verdadeira felicidade por puderem, por exemplo, falar mais vezes com o seu gestor», partilha Catarina Tendeiro. «E isto acontece porque as pessoas estão realmente empenhadas em ajudar a que tudo corra bem.»

 

Esta foi a primeira de 10 re(talks) que vão acontecer até final de Maio, todas as terças e sextas-feiras, às 15h00. A segunda acontece já dia 3 de Abril, tendo como protagonistas João Zúquete da Silva, administrador da Altice, e pedro Empis, executive business director, da área de Outsourcing da Randstad. O tema será “Agilidade: como mantenho a performance da minha equipa?”. Inscreva-se aqui.

(re) veja a primeira talk, na íntegra, aqui.

 

Texto: Sandra Pinto

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