Standby management: Esperar é estar em movimento

Como no mundo dos sistemas de informação, em que o modo de standby protege os dispositivos contra a perda de dados, também na gestão de uma organização pode ser preciso colocá-la em espera, ao invés de ser simplesmente fechada. Mas quando uma organização adopta um modo de gestão de standby, deve aproveitar para investir naquilo que é capital e diferenciador da empresa: as pessoas e os drivers da indústria 4.0.

 

Por Carlos Silva, professor auxiliar da Universidade Europeia, com Beatriz Pato, Maria Duarte, Pedro Ramalho Costa e Rute Inácio Silva, alunos do 1º ano de Gestão

 

Com o final da Guerra Fria, desenvolve-se nos EUA o conceito VUCA, percepcionando a turbulência no sistema e a consequente necessidade de fornecer incentivos ao empreendedorismo e de potencializar os ecossistemas em rede. O termo VUCA passou para o mundo dos negócios, onde é muito utilizado, sendo sempre extremamente importante a percepção de que o planeamento a longo prazo confere cada vez mais desafios. O termo VUCA é uma sigla de origem anglo-saxónica que simboliza quatro palavras-chave: V, de Volatility (Volatilidade) – devido às alterações frequentes; U, de Uncertainty (Incerteza) – resultado de dúvidas acerca dos acontecimentos; C, de Complexity (Complexidade) – pela existência de uma multiplicidade de dados ou elementos que estabelecem relações de tensão entre si; e A, de Ambiguity (Ambiguidade) – resultante da incerteza e da dúvida na análise das situações.

Perante esta inevitabilidade no sistema, dirigentes e organizações tentam actualizar-se regularmente, procurando a confiança, mitigando o risco e visando a facilidade de criar relações entre os seus elementos. Torna-se imprescindível incrementar uma elevada capacidade de reacção a situações inesperadas, pelo que as competências de liderança ganham importância e surgem em diversas dimensões, verificáveis em momentos críticos, difusos e inesperados.

No caso das startups, onde o êxito em ambientes VUCA suscita uma capacidade de análise delicada sobre a organização, e tendo em conta as aptidões relativas à transformação de cada colaborador a liderança ganha especial expressão, combatendo as tendências mais tradicionalistas.

O ambiente pandémico actual permite perceber uma afectação ultra-sistémica transversal onde muitos sectores saíram afectados e, de forma geral, o próprio mercado se ressentiu. Os processos de decisão foram modificados e acelerados, a fragilidade das redes foi percebida e muitas empresas tiveram de fechar permanentemente. Outras alteraram a sua missão para evitarem o fecho, aderindo a mecanismos adaptativos, o que também acabou por afectar directamente milhares de pessoas e, consequentemente, criar impactos a nível da gestão e sociedade.

Tudo isto acabou de certa forma por fazer com que as pessoas sedimentassem a ideia de que o mundo em que vivemos é volátil, incerto, complexo e ambíguo. O que hoje nos parece certo, pode não perdurar assim por muito tempo, e o acto de prever tornou-se mais dependente de variáveis menos controláveis. Torna-se imprescindível que consigamos ter bons métodos de análise, diagnóstico e instrumentos de gestão, de forma a estarmos mais bem preparados para acontecimentos futuros desafiadores, tal como os que vivemos actualmente e que refundam a própria sociedade e a economia.

 

Standby
O momento actual obrigou-nos a reflectir sobre estratégias e mecanismos utilizados e que permitam sobreviver. Ora, no mundo dos sistemas de informação, o modo de standby protege os dispositivos contra a perda de dados e mantém a disponibilidade da base de dados primária. Um dispositivo em standby está pronto a ser utilizado, uma vez que as capacidades do dispositivo estão preservadas.

Uma base de dados em standby é bastante mais viável do que um dispositivo de backup, uma vez que um dispositivo em standby está pronto a ser utilizado em qualquer altura. Um dispositivo de backup demora tempo a restaurar e entrar em acção e, durante esse tempo, o sistema do dispositivo não se encontra em funcionamento. O hardware pode também não estar logo disponível para a sua restauração, podendo causar atrasos.

Uma base de dados em standby não necessita de restauro em caso de avaria. A base de dados está sempre operacional, apenas adormecida. Numa questão de minutos é possível colocar uma base de dados em standby, de modo a permitir a continuidade do processo.

É nossa percepção que os sistemas socioeconómicos modernos trabalham muitas e necessárias vezes sem redundância, em extrema interdependência, e são sujeitos, por razões diversas, a situações em que o sistema depende da manutenção e eficiência dos seus subsistemas. Ainda assim, como dizem Amari & Dill, os subsistemas em espera (standby) são limitados e limitadores.

Na realidade, o momento especial e diferente que o mundo, os blocos regionais, os países, as regiões, as sociedades, as organizações e as pessoas atravessam reveste-se de um conjunto de bloqueios sistémicos e subsistémicos. Esses bloqueios foram originados pela prevalência de um elemento externo determinante na sobrevivência e desempenho do sistema e dos seus subsistemas tal como os concebemos e conhecemos.

Para o gestor, estar em espera não é propriamente a estratégia mais atractiva, mas é uma estratégia. Ainda assim, a natureza concebe muitas situações em que estar em espera é a estratégia dominante. Na gestão de uma organização, concebemos que também ela pode entrar em standby quando as circunstâncias assim o exigem e é necessário colocá-la em espera, ao invés de ser simplesmente fechada. Quando uma situação como a que se vive no momento actual passar, é necessário que a organização esteja pronta a recomeçar. Há elementos que devem estar activos para que posteriormente seja menos difícil recomeçar, desperdiçando o menor número de recursos. Sim, porque em espera também se assume a perda de recursos.

Nestas situações, a organização tem de estar pronta a começar a operar a qualquer momento, o que faz com que também seja necessário manter os colaboradores informados sobre as mudanças que vão acontecendo no sistema e no sector de actividade. A envolvência com os colaboradores é relevante para quando for o momento de retomar a actividade. Desta forma, é possível começar mais rapidamente a operar.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Julho (nº.127) da Human Resources, nas bancas. Pode também comprar online a versão em papel ou a versão digital.

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