Susana Silva, El Corte Inglês: «A requalificação é o factor-chave do sucesso das equipas»

O El Corte Inglés tem vindo a trabalhar «temas tão importantes como a igualdade, a inclusão, a diversidade, a formação profissional, a educação, a sustentabilidade e o ambiente». E isso, acreditam, torna a empresa atractiva para trabalhar.

 

Por Sandra M. Pinto

 

A 23 de Novembro completam-se 19 anos desde que os primeiros Grandes Armazéns El Corte Inglés abriram ao público em Lisboa. Nessa mesma ocasião, o Grupo celebra os 79 anos de actividade. Em Portugal, tem cimentado, desde 2001, uma trajectória de crescimento e de investimento, que começou com a inauguração da primeira loja, em Lisboa, prosseguindo com a abertura dos Grandes Armazéns de Gaia Porto, cinco anos depois, ao mesmo tempo que tem sabido desenvolver a sua relação comercial com centenas de fornecedores nacionais. Neste momento, o grupo espanhol conta com cerca de três mil colaboradores em Portugal, repartidos por Lisboa, Sintra, Coimbra, Vila Nova de Gaia, Porto e Braga.

«Actualmente, a empresa pretende contribuir para um comércio justo e de excelência, com uma ampla oferta de produtos e serviços de elevada especialização, garantia e qualidade, baseado nos princípios de honestidade, integridade e transparência, em que devolvemos benefícios à sociedade», garante Susana Silva, directora de Pessoas do El Corte Inglés. Assim, e com o «dia-a-dia e uma forma de trabalhar assente na ética, confiança, garantia, atenção, dignidade, igualdade, sustentabilidade, proximidade e solidariedade», destaca, como um dos pilares da Gestão de Pessoas, a defesa e implementação da igualdade de género.

Neste âmbito, o El Corte Inglés assinalou o Dia Internacional da Igualdade Feminina com a assinatura do Plano de Igualdade de Género e com a adesão aos princípios Womans Empowerment traçados pela Organização das Nações Unidas. «Esta assinatura representa o nosso compromisso enquanto empresa com a promoção da igualdade e não descriminação entre homens e mulheres», sublinha Susana Silva. «Criámos um comité interno que irá elaborar e implementar medidas que promovam a igualdade de género e que medirá e avaliará o seu progresso.»

 

Várias faces da mesma moeda
O Plano de Igualdade de Género do El Corte Inglés tem em vista a promoção da igualdade e da não discriminação entre homens e mulheres, a conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal e a protecção da maternidade e paternidade. «Visa ainda reforçar os mecanismos de encorajamento, reconhecimento, acompanhamento e divulgação de práticas promotoras da igualdade entre mulheres e homens, consolidando estes domínios no quadro da responsabilidade social corporativa», reforça a directora de Pessoas do El Corte Inglés.

No seguimento da política de implementação da igualdade de género dentro da organização, o El Corte Inglés aderiu igualmente aos Princípios de Empoderamento das Mulheres. Na visão da responsável, «estes princípios vão, assim, orientar a empresa para a adopção de medidas no ambiente do trabalho, mercado de trabalho e comunidade, de modo a delegar poder às mulheres, com a finalidade de beneficiar a nossa empresa e sociedade».

Esses princípios – explica Susana Silva – passam pelo «estabelecimento de uma liderança corporativa de alto nível para a igualdade de género, pelo tratamento de todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, pelo respeito e apoio dos direitos humanos e da não discriminação, pela garantia da saúde, da segurança e do bem-estar de todos os trabalhadores e trabalhadoras, pela promoção da educação, da formação e do desenvolvimento profissional das mulheres, pela implementação do desenvolvimento empresarial e das práticas da cadeia de suprimentos e de marketing que empoderem as mulheres, pela promoção da igualdade de género através de iniciativas e defesa comunitária, e, finalmente, pela medição e publicação dos progressos da empresa para alcançar a igualdade de género».

Actualmente, o El Corte Inglés tem, em cargos de chefia, 55% de homens e 45% de mulheres. Conscientes de que a maternidade pode por vezes condicionar as mulheres a alcançar (ou considerar) cargos de topo, a empresa não descura este tema. «Desde a 22.ª semana de gravidez que a colaboradora tem 15 minutos de descanso a cada duas horas de trabalho e parqueamento gratuito nos nossos parques de estacionamento», exemplifica Susana Silva, especificando que, desde a 30.ª semana de gravidez, é implementada a flexibilidade de horário a todas as mães que o solicitem, desde que trabalhem em regime de full-time, com a possibilidade de redução de jornada laboral para acompanhamento de familiar ou filhos, calculando-se o proporcional. Após o nascimento, é atribuida às colaboradoras do El Corte Inglés uma mala para a maternidade, com produtos para o bebé e para a mãe, destacando ainda Susana Silva, «a não descriminação de aumento salarial por se ter ausentado por maternidade e/ou gravidez de risco». De referir ainda que, nas situações de casais a trabalhar na empresa, é permitida a conciliação de horários, férias e folgas.

Com vista à promoção da Política de Igualdade Salarial na empresa, o El Corte Inglés iniciou, em 2019, um plano para corrigir desigualdades, tendo em consideração o género, a antiguidade e a categoria profissional.

Mais, é também disponibilizado a todos «formações sobre a igualdade de género e assédio laboral, além da criação e formação de um código de ética que promove o respeito e a integração deste tema na empresa e de um canal ético a que as pessoas podem recorrer para fazer denúncias, promovendo a isenção total no tratamento da informação». Para medir o impacto destas medidas, a organização promove estudos de clima e bem-estar.

 

Outras prioridades e iniciativas na Gestão de Pessoas
Relativamente a outras boas práticas, Susana Silva destaca a majoração de três dias de férias adicionais em função da assiduidade; a dispensa de até cinco dias para processos de adopção e para dadores de medula óssea; a possibilidade – nas funções em que isso é possível – de trabalhar desde casa, integrado num sistemas híbrido; a flexibilidade de horários de entrada e saída nos colectivos de serviços; a atribuição de um dia por ano para se dedicar a uma tarefa de voluntariado organizada pela empresa; a entrega de bolsas escolares aos filhos dos colaboradores e a possibilidade de estudarem nas instalações da empresa, no âmbito dos Programas Qualifica, «muitas das vezes em horário de trabalho», faz notar.

No que respeita a prioridades na Gestão de Pessoas, ganha relevo a preparação das pessoas com as competências necessárias para desempenharem da melhor forma a sua função. A responsável assegura que «a formação, que é essencial e, nesta fase, a requalificação das competências são o factor-chave no sucesso das nossas equipas, sendo que estamos com um processo de melhoria tecnológica que teve impacto em todas as lojas e conseguimos garantir a formação adequada e necessária em tempo útil», garante.

Para além da formação e desenvolvimento e da também já destacada promoção da igualdade de oportunidades e a conciliação, a política de Recursos Humanos do El Corte Inglés tem como principais pilares a atracção, a selecção e a retenção de talento; a compensação e os benefícios sociais; a segurança e a saúde; a inclusão e a diversidade; e a comunicação interna.

Susana Silva acredita que, sendo uma «empresa que tem vindo a destacar-se em temas tão importantes como a igualdade, a inclusão, a diversidade, a formação profissional, a educação, a sustentabilidade e o ambiente», é atractiva enquanto empregadora. «Não menos importante, é o incentivo que fazemos à meritocracia, ao crescimento profissional interno e a uma formação especializada, aliada a uma cultura de proximidade, transparência e confiança», acrescenta, partilhando: «Uma das nossas preocupações nos últimos anos é mostrar aos nossos stakeholders o que fazemos de melhor, sendo que e, para isso, criámos um departamento de Employer Branding e começámos a olhar de outra forma para os benefícios internos. Temos feito um grande investimento nesta área.»

 

Desafios do futuro
Sobre os principais desafios de gerir pessoas numa grande empresa do sector da distribuição, a directora de Pessoas revela que, na sua opinião, a maior dificuldade por vezes é a «dimensão, que dificulta a agilidade que é necessária para implementar processos novos. Conseguem fazer-se, claro, mas, por vezes, com mais esforço», admite.

Com todo este “novo normal” trazido pela pandemia, e questionada sobre as tendências que se irão evidenciar a curto e médio prazo, na gestão de pessoas, nomeadamente no El Corte Inglés, Susana Silva não hesita: «A continuação da promoção de uma cultura de igualdade, inclusão e sustentabilidade. Continuar a assegurar percursos de educação e formação dos colaboradores através do estímulo e reforço dos domínios da literacia digital e das competências digitais é essencial, assim o como é continuar a apostar na progressão de carreira dos nossos colaboradores, com programas de assessement», reitera.

Não obstante o actual contexto, que inegavelmente trouxe grandes condicionalismos à generalidade das empresas, Susana Silva assegura que o El Corte Inglés «encara o futuro com tranquilidade», mas «sempre muito atentos» aos que os rodeia. E o foco da empresa, esse não muda: «Temos os mesmos princípios de sempre: garantia, qualidade, especialização, confiança e aposta na inovação.»

Leia o artigo na íntegra na edição de Outubro (nº. 118) da Human Resources.

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