Também há um lado positivo nesta crise e “ganhos” que não devemos perder, nomeadamente na Gestão de Pessoas (com vídeo)

RE(TALK)

Sem esconder que a actual pademia mais parece um filme de ficção e de terror, Joana Queiroz Ribeiro, directora de Pessoas e Organização da Fidelidade, e Mariana Canto e Castro, directora de Recursos Humanos da Randstad Portugal, responderam ao desafio de identificar “O Lado B da Crise”, sobretudo no que respeita à gestão de pessoas, em mais uma re(talk).

 

A oitava re(talk) – iniciativa da Randstad Portugal em parceria com a Human Resources realizou-se na passada sexta-feira, dia 24 de Abril. E o mote para a conversa foi dado por Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources e moderadora da conversa entre Joana Queiroz Ribeiro Mariana Canto e Castro. «Já todos conhecemos o lado A desta crise, que é medido em números que diariamente vemos nas notícias, números de de vidas perdidas, de empresas paradas, de desemprego a aumentar. Não é uma situação positiva, não vale a pena esconder, mas de quase todas as situações é possível retirar algo de positivo, e é nisso que vamos tentar focar-nos hoje».

Mas a directora de Pessoas e Organização da Fidelidade não quis deixar de começar por lembrar que , «infelizmente, muitas pessoas estão já a viver muito mal por causa disto. Estamos a passar por uma situação que mais parece um filme de ficção, quase de terror», afirmou, defendendo ainda que «numa situação adversa destas, também é importante percebermos e aproveitarmos o momento para olharmos para as nossas vidas e para o caminho que as nossas vidas estavam a levar, e perceber como é que podemos, cada um, individualmente, sermos mais responsáveis por encontrar caminhos diferentes que nos levem a melhores portos. Devemos, todos juntos, encontrar caminhos que nos levem a sociedades mais sustentáveis, devemos pensar menos na palavra eu para passarmos a pensar mais na palavra nós, e sermos muito mais colaborativos uns com os outros.»

Concordando com Joana Queiroz Ribeiro, Mariana Canto e Castro reforça que «temos de ter consciência de que estamos a viver uma situação única, não pela positiva mas pela negativa». Para a directora de Recursos Humanos da Randstad Portugal este é claramente um momento para parar e pensar. «Temos de reflectir em muitos aspectos da nossa vida, desde a forma como a sociedade está organizada até à forma como o trabalho e as empresas funcionam, passando pela forma como cada um de nós, de forma individual, se comporta e age com os outros. É preciso que as pessoas tomem consciência de que o eu não funciona, mas o nós pode funcionar, pelo que se nos queremos juntar no lado de lá disto tudo, é importante que caminhemos juntos. Há uma necessidade gigante de humanização e de humanidade para conseguimos ultrapassar isto, com os menores danos possíveis.»

Salientou ainda que, ao contrário do que se temia antes da pandemia, a tecnologia acabou por não nos dominar, mas antes ajudar-nos a que nos apresentemos mais humanos e mais próximos uns dos outros. «Foi o avanço da tecnologia que permitiu às empresas colocar em sistema de teletrabalho muitos colaboradores num curto espaço de tempo. Só desta forma nos foi possível colocar as nossas equipas em ambientes muito mais seguros.»

 

Acima de tudo a segurança

Enquanto gestora de Pessoas, foi importante para Joana Queiroz Ribeiro assegurar desde o primeiro momento o bem-estar e a saúde dos colaboradores. «A nossa prioridade foi garantir que as nossas pessoas se sentiam bem, que estavam seguras e protegidas. Desde o primeiro momento quisemos perceber a realidade de cada uma das pessoas para as conseguir acompanhar melhor, de forma a continuar também a servir os nossos clientes.» Na Fidelidade todas as pessoas estão em teletrabalho, e mesmo as que tinham crianças para acompanhar revelaram a vontade de continuar a trabalhar desde casa. «Foi muito interessante perceber a dinâmica da organização, pois as decisões foram sempre muito focadas no humanismo, e fomos suficientemente criativos para encontrar soluções certeiras.»

Também na Randstad a primeira preocupação foi com as pessoas, com a sua segurança e bem-estar. «Enquanto equipa de gestão tomámos a decisão  de colocar a empresa toda em teletrabalho ainda antes de ter sido decretado o Estado de Emergência, pois percebemos a gravidade da situação em termos de saúde pública, garantindo desta forma a segurança não apenas dos colaboradores directos da organização, mas também dos trabalhadores temporários alocados nos clientes», relembra Mariana Canto e Castro.

«Essa mesma segurança deve estar subjacente aquando da retoma e do regresso ao trabalho. Seja em que modalidade for esse regresso, temos de ter sempre como primeira preocupação a segurança das pessoas. Não pode acontecer nenhum regresso sem ter a segurança como prioridade.»

 

O mais difícil de gerir

Mariana Canto e Castro acredita que em situações de grande tensão e de grande crise, equipas e pessoas revelam ou o seu melhor ou o seu pior. E partilha que, no caso da Randstad, «assistimos a uma equipa que revelou o seu melhor. Notámos um nível de engagement superior ao registado antes da crise, o que revela uma aproximação entre as pessoas. Assistiu-se na organização a um grande espírito de entreajuda», congratula-se.

Também na Fidelidade se sentiu que as pessoas ficaram mais unidas, pois, como refere Joana Queiroz Ribeiro, todos queriam ficar seguros. «A forma como a Fidelidade tratou o assunto foi realmente extraordinária, o que teve de facto um grande impacto nas pessoas que, estando com muito medo e muito inseguras, sentiram segurança, pois perceberam que a empresa ia cuidar delas. E isto gera confiança. Quando damos de nós aos outros, quem está à nossa volta começa a confiar mais». Assim como o niível de engagement aumentou, também o nível de confiança cresceu de forma natural. «Cá está um lado B», identifica. «Porque não aproveitarmos este momento e alavancarmos em cima desta plataforma de confiança? Não podemos de modo nenhum perder esta oportunidade.»

Na opinião da directora de Pessoas e Organização da Fidelidade, o mais difícil de gerir foi mesmo o medo que se criou. «O medo que se sentia era medo por cada um de nós e por cada elemento da nossa família. As pessoas tinham medo e queriam muito proteger os seus, e foi muito difícil de gerir as emoções.»

Mariana Canto e Castro chama a atenção para o ponto de equilíbrio que é preciso estabelecer entre aquilo que é a vida pessoal e a vida profissional. «Estamos numa situação de teletrabalho que não é uma situação de teletrabalho normal, pois estamos confinados aos espaços das nossas casas, o que torna de facto complicado gerir o tempo de pausa, e que é nosso, com o tempo em que temos de estar a trabalhar. Este ponto de equilíbrio tem de existir, e exige uma autodisciplina muito grande.»

 

E o regresso?

De quem esteve a assistir em directo, chegou a pergunta sobre como pensam que os colaboradores vão encarar o regresso ao trabalho e de que forma vão as empresas ajudá-los a superar o medo. Na Fidelidade, o regresso será feito com muita calma. «A empresa não quer acelerar a ida dos colaboradores para as suas instalações, pois não temos razão nenhuma para acelerar esse processo», afirma Joana Queiroz Ribeiro. «Estamos todos a trabalhar, pelo que queremos muito dar primazia ao que mais convém a cada uma das nossas pessoas.» Nas instalações, o objectivo é criar a máxima segurança, mas «tão cedo não terão todas as pessoas de regresso ao espaço físico da Fidelidade. Vamos criar um coeficiente máximo de pessoas nas instalações, para assegurar a distância».

Simultaneamente a seguradora vai olhar para as necessidades de cada uma das suas pessoas. «Há aquelas que têm filhos e que eventualmente terão que acompanhá-los à escola, há as pessoas de risco que têm de ficar em casa resguardadas, outros com menores ou idosos a cargo… Existe uma necessidade enorme de olhar para cada uma das pessoas de modo e assegurar um processo muito sereno, para que o medo que todos sentimos possa ser, de alguma forma, suavizado.»

Numa mensagem mais abrangente, Joana Queiroz Ribeiro lembrou que, sendo uma sorte para todos os que estão a trabalhar, é «importante não esquecer a necessidade de descansar, pois são tempo muito exigentes e as pessoas estão muito cansadas».

 

Ainda do público chegou uma questão relacionada com o inevitável crescimento da taxa de desemprego, perguntando-se de que forma espera a Randstad que as empresas se comportem em termos de recrutamento ao longo deste ano. Para Mariana Canto e Castro, ainda é cedo para se fazerem previsões, revelando no entanto que tem continuado a haver recrutamento, «um recrutamento diferente, em sectores distintos, mas que existe e está a acontecer com um crescimento nos últimos 10 dias».

Não esconde no entanto que a taxa de desemprego está a aumentar, e vai continuar a crescer. «Basta ver os números divulgados.» Mas acredita que vai acontecer um momento proporcionalmente inverso, «quando retomarmos a uma certa e nova normalidade, vai haver procura por parte das empresas de muitos profissionais competentes». A especialista vê, «num curtissímo espaço de tempo a taxa de desemprego a aumentar, num curto prazo a travagem dessa subida e, a médio/longo prazo, uma recuperação, talvez não com a velocidade que desejamos, mas vamos ter um mercado cheio de oportunidades, e é neste horizonte que temos de nos focar».

(re)Veja aqui, na íntegra:

 

Texto: Sandra M. Pinto

 

 

 

 

 

 

 

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