Temos super-profissionais, que fazem avançar qualquer negócio, mas sentem-se frustrados. Por que será?

Respeito à individualidade: não nos podemos tornar numa IA.

Por Diana Silva – Consultora Funcional na Create IT

 

Estamos viciados em informação. A tornamo-nos numa “Inteligência Artificial” (IA) que absorve e capitaliza o máximo de informação para ter respostas rápidas e eficazes. Cada vez mais conectados para agregar valor aos nossos contextos, nomeadamente profissionais. Em contrapartida, nunca se falou tanto em empatia, colaboração, envolvimento e tantas outras formas de expressão do contacto humano.

O que acontece é que estamos a tentar conciliar universos diferentes que foram projetados ao longo do tempo para não convergirem (profissional e pessoal), o que nos traz uma carga emocional e psicológica (reprimidas) muito intensa.

Essa mudança de paradigma, de juntar o que é “carne e osso” ao que é “mecânico-tecnológico” marca a evolução dessa geração, mas traz consigo consequências imediatas de lidar com algo para o qual não está preparada.

A evolução que a tecnologia tem trazido corre muito mais acelerada do que o desenvolvimento do perfil psicológico-social do ser humano.

Percebemos uma evolução que trouxe altos níveis de stress, depressão, ansiedade, frustração e baixa auto-estima.

Temos super-profissionais altamente qualificados, líderes de alta performance, excelentes decisores que conseguem fazer avançar qualquer negócio. Contudo, estes mesmos super-profissionais, ao deitarem-se na cama sentem-se frustrados por não terem sido “pessoas”, por não terem verdadeiros amigos e sim grandes conexões, por não poderem ser vulneráveis porque ser forte é fundamental.

Chora-se o lado humano, quase como um luto. E assim surgem as formas de compensar a perda. Iniciativas de acolhimento nas empresas para que se volte a ter o foco humano a prestações, já que não se pode ser humano a tempo inteiro.

Para mim, a expressão mais simples e mais comum de se ouvir, que mostra essa exaustão de ser “um perfil profissional”, uma IA orgânica, é a clássica: Enfim é sexta-feira!

A sexta-feira tornou-se o dia de desligar enquanto máquina e voltar a ser humano, enquanto a segunda-feira é sempre o retorno ao calvário.

Até onde essa disrupção tecnológica é uma grande vantagem quando falamos em individualidades?

Tornamos as máquinas mais “espertas” que as pessoas e as pessoas desesperadas para compensar isso para não se sentirem inúteis.

A verdadeira disrupção é conseguirmos chegar ao estágio evolutivo em que não há obrigações. A vida profissional não rouba 40 horas semanais de vida (pessoal) ou mais, mas sim passa a ser uma parte entrelaçada da nossa paixão pela vida de tal forma que os resultados sejam mais importantes do que o tempo. Onde a informação é uma aliada e não uma exigência para garantir competências e cargos.

O facto de termos de trabalhar 40 horas semanais (ou mais) não nos define em produtividade. Estar ali por obrigação contratual, a fazer coisas cuja motivação principal é o ordenado, sob stress e ansiando que o dia acabe, torna o trabalho muito menos produtivo do que trabalhar nas horas em que realmente se tem paixão e disposição. Uns são mais produtivos durante o dia, outros à noite. Uns têm melhores ideias quando estão em movimento, a praticar desporto, outros precisam de um banho quente e um chá… Cada ser humano tem o seu próprio ritmo e essa individualidade é o que na generalidade não se observa quando falamos de contextos profissionais.

Hoje tratamos cada vez melhor a inclusão (de género, de cor, de sexualidade, etc), mas nem tanto a individualidade no sentido de respeitarmos o tempo orgânico de cada indivíduo, permitindo que ele desenvolva as suas atividades no seu melhor momento.

Num processo em que a informação aliada à tecnologia tem sido o grande propulsor da ascensão da sociedade a essa nova realidade, é fundamental o conhecimento da biologia, fisiologia e psicologia humanas para que essa evolução seja assente no respeito à nossa condição de não-máquinas e preserve o que é o imperativo diferenciador da tecnologia: criatividade.

Por isso há que procurar o sentido, o verdadeiro propósito daquilo que estamos a fazer. Entender o valor e o impacto do nosso trabalho para quem vai recebê-lo e para nós mesmos. Fazê-lo com empatia, como se o valor gerado fosse para nós. Ter o sentimento de que “eu faço/fiz a diferença” na vida de alguém e que não sou simplesmente uma fábrica de tarefas. Faço o meu melhor, quando sou mais produtivo e quando tenho mais gozo. Assim, a recompensa maior passa a ser a satisfação pessoal de fazer parte de algo maior, respeitando a si mesmo.

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