Trabalho remoto, um falhanço ou um êxito? É complicado, dizem os especialistas

Muitas empresas estão a retroceder no modelo de trabalho remoto, exigindo que os colaboradores regressem ao escritório, embora muitos possam não querer fazê-lo, avança a Euronews.

 

Mais de três anos depois de o trabalho remoto se ter tornado regra durante a pandemia, trabalhar a partir de casa está a enfrentar “ataques” de todos os lados, com os líderes das big tech a condenarem abertamente este modelo de trabalho e várias empresas a pedir aos colaboradores que voltem ao escritório.

Em Maio, o CEO da OpenAI, Sam Altman, declarou que o trabalho remoto foi uma «experiência falhada», apelidando-o de um dos «maiores erros do sector de tecnologia nos últimos tempos» e alegando que a prática prejudica a criatividade, especialmente nas start-ups.

Já em Março, Elon Musk havia dito aos trabalhadores do ex-Twitter, actualmente X, que a presença no escritório «não é opcional».

Em Junho, a Google informou os seus funcionários que teriam de passar pelo menos três dias por semana no escritório, e a presença no escritório seria considerada positivamente nas suas avaliações de desempenho, tal como relatado pelo Wall Street Journal.

Vários jornais do mundo, como o New York Times, publicaram artigos de opinião a afirmar que o trabalho remoto está a prejudicar os profissionais jovens e a privar os trabalhadores da experiência de partilha num local de trabalho.

Mas estará realmente a falhar, como alegam as empresas?

«De todo», disse à Euronews Mansoor Soomro, professor de Sustentabilidade e Negócios Internacionais na Universidade de Teesside, no Reino Unido. «Com base em surveys, reuniões e entrevistas que estamos a levar a cabo, não falhou. O trabalho remoto não vai a lado nenhum», garante.

Então, o que se passa? Especialistas dizem que a situação é mais complicada do que dizer meramente se o trabalho remoto foi um falhanço ou um êxito.

Sentar à mesa das negociações

«O que aconteceu durante a Covid-19 levou a uma percepção inicial de que as coisas iam mudar significativamente após a pandemia, que não haveria possibilidade de voltar atrás no movimento do trabalho remoto», explicou Mark Stuart, professor da Leeds University Business School.

Embora muitos empregadores estivessem «relativamente confortáveis» com a ideia de os trabalhadores ficarem em casa, disse Stuart, nos últimos 12 meses assistimos a cada vez mais empresas a pedir aos seus funcionários que voltassem ao escritório.

«O que está a acontecer agora é um processo de renegociação entre os empregadores e a sua força de trabalho sobre como será o trabalho remoto no futuro.»

Os dois lados da moeda

Stuart acredita que esta renegociação vai levar a «alguns atritos» entre empregados e empregadores, resultando na tensão actual sentida por trabalhadores de vários sectores, que protestam contra a estagnação dos salários que não acompanharam a inflação.

«Muitos vão resultar em acordos, graças a gestores compreensivos. As chefias vão ter de se habituar a ter equipas e colaboradores que não estão o tempo todo no escritório e a trabalhar à distância, mas tem de haver uma espécie de aceitação mútua desta realidade.»

Stuart crê que é mais provável a renegociação do trabalho remoto levar a um compromisso entre o que os trabalhadores podem querer – mais dias a trabalhar a partir de casa – e o que os empregadores podem exigir – mais dias no escritório.

Soomro acredita firmemente que o trabalho remoto veio para ficar. «As pessoas mudaram-se e não querem passar o tempo em deslocações. Ajustaram-se à flexibilidade recém-descoberta e não querem abdicar dela.»

Para tornar o escritório mais apelativo para os trabalhadores, as empresas terão de melhorar os benefícios e «tornar o local mais acolhedor», disse Soomro, mas um regresso em massa de todos os trabalhadores parece improvável por enquanto.

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