Transição digital e “novo normal”: panaceia para a produtividade?

Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy

 

“Nada vai ser como antes” ou “viveremos um novo normal”. Frases repetidas até à exaustão e que serão devidamente comprovadas conforme avançamos no desconfinamento. Ficaremos a saber se é mero discurso político, simples retórica ou se a realidade. Na sua essência é um argumento de (auto)convencimento para a necessidade de mudança. Muito se alterará e será diferente do passado, mas muito continuará semelhante? Talvez seja um bom estudo para as Ciências Comportamentais, mas mais que tudo desafios atuais.

Há muito que se discutia o teletrabalho, uma Escola cada vez mais digital, experiências cada vez mais robustas de e-learning, fortes investimentos na Telemedicina. A Transição Digital é sem dúvida uma via sem retorno e com uma imensidão de oportunidades e vantagens. Mas a verdade é que as Pessoas continuam a ser o elemento essencial.

Falar de Transição Digital é obrigatoriamente falar de desenvolvimento de Pessoas. De outra forma transformamos investimento em custo. Não só financeiro, mas depauperando a oportunidade de evoluirmos e contribuirmos para o crescimento do País.

Estudos muito recentes apontam para o aumento da produtividade em contexto de teletrabalho. Mas do que estaremos mesmo a falar? Falar de produtividade, é falar de melhoria nos processos, formação das pessoas e níveis de qualidade elevados. Foi verdadeiramente isto que aconteceu, ou apenas se registou aumento de produção? Confundir produção com produtividade tem o risco de um equívoco entre o efémero e o sustentável.

Acreditemos que os estudos contemplaram a eficiência de processos e de equipas. Será inequivocamente um sintoma que temos empresas preparadas para o tal “novo normal”. Mas, por outro lado, verificam-se preocupações acrescidas ao nível da Saúde Mental. Mais uma vez coloca-se a dicotomia entre o efémero e o sustentável. Ler a produtividade, sem se analisar o bem-estar das Pessoas pode ser uma leitura enviesada.

A Transição Digital faz-se para as Pessoas e com as Pessoas! Será a garantia de aumentarmos os tais indicadores de Produtividade, mas se descurarmos o bem-estar das pessoas corremos o risco de aumentarmos a infelicidade de quem trabalha e corroborarmos estatísticas verdadeiramente assustadoras no âmbito da Saúde Mental: a cada 40 segundos morre uma pessoa por suicídio no Mundo, 165 milhões de pessoas apresentam sintomas de perturbações anualmente na Europa e, em Portugal, mais de 22% de pessoas sofre de perturbações mentais, sendo que as doenças mentais e de comportamento representam 11,8% da carga global das doenças no nosso País, só suplantadas pelas cérebro cardio-vasculares (13,7%).

Ganha-se a batalha pandémica com medidas sanitárias rigorosas e medidas sócio-económicas de excelência. A Transição Digital é uma via poderosa de melhoria dos indicadores de produtividade. Mas nada resultará se não se gerarem condições de desenvolvimento das Pessoas, oportunidades sustentáveis de trabalho e soluções de bem-estar. O “novo normal” é percecionado como retórica e como incerteza, ou mesmo insegurança. Há que o operacionalizar como uma ESPERANÇA sustentável!

Ler Mais