
Um colaborador da Tesla criou um site a protestar contra Elon Musk. Não imagina o que lhe aconteceu uns dias depois
Matthew LaBrot conduz um Cybertruck e formou os colaboradores da Tesla sobre como vender carros eléctricos em toda a América do Norte. E tinha o emprego de sonho, noticia o Business Insider. Porém, nos últimos dois anos, o desencanto foi desaparecendo, nomeadamente com o CEO.
Os seus sentimentos começaram a mudar após a compra do Twitter e pioraram quando Elon Musk começou a trabalhar com Donald Trump. A 24 de Abril, LaBrot criou um site de protesto contra a liderança de Musk na Tesla. Embora tenham ocorrido centenas de protestos em frente às instalações da Tesla por todo o país, os responsáveis da Tesla têm evitado falar publicamente sobre o assunto. LaBrot quer mudar isso.
Pró-Tesla, anti-Musk
LaBrot juntou-se à Tesla em 2019, depois de passagens pela Best Buy, Starbucks e pelo mercado imobiliário. Cresceu rapidamente na empresa, chegando a assumir uma função de gestão de programas de formação de vendas e entrega na América do Norte.
Sentiu-se inicialmente atraído pela empresa porque acreditava na missão da energia sustentável. Os produtos da Tesla e as pessoas que lá trabalham sempre o impressionaram. Também lhe proporcionou oportunidades: subiu na hierarquia, e o excelente desempenho das acções da empresa ajudou-o a comprar a primeira casa em 2022.
Começou a questionar a liderança de Musk depois de o bilionário ter comprado o Twitter em 2022. «Infelizmente, nessa altura, escolhi o caminho de simplesmente enfiar a cabeça na areia.» Porém, foi mais difícil ignorar quando Musk gastou cerca de 277 milhões de dólares em donativos para a campanha de Trump e outros candidatos republicanos antes das eleições.
Ficou especialmente ofendido com uma saudação feita por Musk durante a cerimónia de tomada de posse de Trump, em Janeiro, que LaBrot e outros críticos acreditaram ser uma saudação nazi. «Quando o teu CEO toma uma destas decisões, leva a empresa atrás», disse LaBrot.
Em Outubro de 2024, Musk disse que não achava que as suas actividades políticas afectassem a Tesla, afirmando que as vendas estavam em máximos históricos. «Penso que as pessoas se preocupam realmente com a qualidade do produto, e não com as opiniões políticas do CEO», disse.
A experiência no terrenoo de LaBrot não corrobora a previsão de Musk. «Na altura das eleições, começámos a perceber que os clientes que esperávamos não apareciam.» O final do ano é normalmente o período em que as vendas da Tesla atingem o pico, acrescentou, e disse que a empresa estava a tentar superar os fracos números de entregas no Verão no quarto trimestre.
A equipa de formação de vendas da Tesla foi informada de que era mais importante do que nunca conquistar cada cliente que entrava nos stands. A Tesla começou a promover mais promoções de vendas e incentivos, o que era invulgar, garantiu LaBrot. A equipa de vendas tinha normalmente de lidar com uma grande quantidade de clientes; se alguém decidisse não comprar, havia alguém pronto a ocupar o seu lugar. Agora, os vendedores estavam a lutar para fechar todas as reservas.
LaBrot estava habituado a lidar com os obstáculos típicos dos veículos eléctricos: ansiedade de alcance, desinformação, erro do utilizador. Mas este era um desafio totalmente diferente. «Não tivemos de lidar com muitas objecções porque aqueles clientes simplesmente deixaram de vir.»
No início deste ano, a equipa de vendas da Tesla atingiu outro nível de pânico quando os veículos eléctricos começaram a acumular-se nos parques de estacionamento dos stands, recorda LaBrot. Em Abril, a empresa informou que os números de entregas no primeiro trimestre caíram 13% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Segundo os analistas, há vários factores em jogo, incluindo a alienação do cliente devido às opiniões políticas de Musk, a linha de veículos antigos da empresa, o aumento da concorrência de empresas estrangeiras e o mercado geral de veículos eléctricos dos EUA.
No início de 2025, LaBrot sentia-se cada vez mais frustrado com a empresa e descontente com a falta de comunicação interna sobre como as opiniões políticas de Musk poderiam estar a afectar os números de vendas, bem como com a pouca orientação sobre como os vendedores deveriam lidar com protestos e vandalismo. «Estão a falar sobre vendas fracas e como aumentar a taxa de fecho, sem abordarem este enorme elefante na sala.»
Com o passar dos meses, LaBrot começou a expressar mais as suas preocupações com os colegas de trabalho. O ponto de viragem ocorreu a 22 de Abril, quando Musk anunciou que iria passar menos tempo no DOGE e voltar a sua atenção para a Tesla. Dois dias depois, LaBrot pôs o seu o seu site – anónimo – no ar com uma carta aberta a pedir que a Tesla encontrasse um novo CEO. «Quando foi para o ar, senti-me muito aliviado, como se um peso me tivesse sido retirado. Foi uma sensação muito boa.»
Embora a carta aberta tenha sido escrita como se tivesse vindo de vários trabalhadores da Tesla, LaBrot disse que era o único autor — mas que alguns colegas de trabalho exprimiram sentimentos semelhantes aos seus. Em conversas com mais de uma dúzia de actuais e antigos colaboradores, muitos disseram ao BI que estavam preocupados com a liderança e o foco político de Musk. Outros ignoraram o comportamento do CEO.
No dia 25 de Abril, LaBrot grafitou o seu Cybertruck com informações sobre o seu site e o slogan “Pro Clean Energy Pro Sustainability Pro EV Pro Tesla Anti Elon” e exibiu-o no exterior da Tesla. A seu ver, era o próximo passo lógico.
No dia seguinte, recebeu uma chamada do departamento de Recursos Humanos, a comunicar que o seu contrato de trabalho tinha sido rescindido por utilizar recursos da empresa para criar um site que não se coadunava com a perspectiva da empresa. LaBrot negou ter usado recursos da Tesla para construir o site.
Desde a sua demissão, LaBrot continua a participar nos protestos da Tesla e diz que recebeu apoio de alguns ex-colaboradores da empresa. Deixar a Tesla foi uma decisão difícil de aceitar, disse, mas compreendeu os riscos quando lançou o site. «Não estava a planear trabalhar em mais lado nenhum. Era muito feliz no meu emprego e poderia ter continuado a trabalhar nessa função durante toda a vida.»