Um propósito que envolve, une e transforma

Mais de dez oradores, uma ideia em comum: foi um propósito que levou à criação do Rock in Rio, é o propósito que mantém o negócio sustentável, e é o propósito que orienta o futuro daquele que é muito mais do que um festival de música. Foi esta a ideia que se “repetiu” na Rock in Rio Academy.

 

Por Ana Leonor Martins

 

No passado dia 27 de Junho, a Cidade do Rock, no Parque da Bela Vista, voltou a abrir portas a executivos e empreendedores e a transformar-se num laboratório de gestão, em mais uma edição da Rock in Rio Academy. Realizada em parceria com a Sfori, reuniu centenas de profissionais que puderam ouvir, na primeira pessoa, o que torna o Rock in Rio não só o maior festival de música e entretenimento do mundo mas também um negócio sustentável.

Nesta segunda edição, em Portugal, a palavra-chave foi “propósito”. E os participantes tiveram oportunidade de conhecer histórias, exemplos e aprofundar o modelo de negócio e conceitos de gestão, directamente no local em que estes são colocados em prática, recorrendo a uma metodologia de living case experience., tendo assim acesso privilegiado às boas práticas que fazem do Rock in Rio uma organização de vanguarda, que constantemente acrescenta valor à sociedade e a todos os stakeholders.

O dia começou com a intervenção de Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio (RiR), sobre «Propósito e Cultura como alavanca do negócio», que relembrou como tudo começou, com um sonho do seu pai, Roberto Medina, que, após um longo período de ditadura, queria criar um movimento que juntasse milhares de pessoas em paz e liberdade, no mesmo sítio, usando a música como linguagem de união de um país e mostrando um juventude forte e capaz de promover o Rio de Janeiro como destino turístico. O desafio era caro e era preciso criar um modelo de negócio que viabilizasse o sonho, baseado no propósito de juntar pessoas. A cerveja Brahma precisava rejuvenescer a marca e Roberto Medina, sendo publicitário, propôs que o RiR fosse usado como plataforma de comunicação.

A vice-presidente partilhou depois como o sonho concretizado foi evoluindo, fazendo notar que, «o grande desafio é manter vivo o propósito, por um mundo melhor e, a cada edição, não abrir mão dos valores da marca, mantendo-se fiel aos princípios, mas com a liberdade para ser criativo e inovar, assegurando o rigor. «É um modelo ainda único no mundo e isso tem a ver com os valores que estão na sua génese», afirmou.

A agenda do dia continuou com dois convidados especiais, os oradores Allan Costa e Arthur Igreja, fundadores de uma multiplataforma focada em disrupção em negócios, carreiras e economia transformadora, que falaram à plateia sobre “Cultura de Inovação”. Uma das ideias-chave transmitidas foi que inovação não é sinónimo de tecnologia e digitalização. Tem sim a ver com tornar as experiências mais únicas. «O mais raro que existe nas empresas, é saber despertar o melhor das pessoas, dar-lhes espaço para ousar e errar», afirmou Arthur Igreja, sublinhando que «as empresas mais inovadoras são as que conseguem ter maior diversidade de mindset». Allan Costa reforçou que a cultura de inovação depende fundamentalmente das pessoas e não da tecnologia e que, sendo feita por pessoas, a cultura é a única coisa que não pode ser copiada.

Antes do coffee break, Alexandre Real, partner da Sfori, protagonizou um “Networking challenge”, realçando a importância do trabalho em rede e explicando como pode ser potenciado e trabalhado, para o futuro, nas suas três vertentes: operacional, estratégica e rede de desenvolvimento. Alertou ainda para a tendência de nos juntarmos a quem conhecemos, fazendo com que 65% dos nossos contactos sejam redundantes, para a importância de não sermos “ninjas dos cartões” e do foco estar no que podemos dar e não no que podemos ganhar. Propôs depois um exercício prático entre os participantes, sendo os grupos chamados a intervir ao longo do dia.

 

Entrega baseada em experiência

Luís Justo, CEO do Rock in Rio, continuou a sessão de trabalho, falando sobre “Experiência como Estratégia”, simplificando a estratégia Rock in Rio em cinco passos: ambição vencedora (propósito), onde jogar (território, nesta caso com a experiência como eixo central), como vencer (proposta de valor como vantagem competitiva), recursos necessários (pessoas e parceiros) e sistema de gestão (processos).

Já Pedro Baptista centrou-se no “Patrocínio como Estratégia”, sistematizando o roteiro comercial: seleccionar o target (sector e marca), identificar interlocutor, conseguir reunião, apresentar evento e receber briefing, apresentar proposta, feedback de negociação (positivo, fazer contracto; negativo, convidar para o evento). Revelou que o Rock in Rio não tem propostas de patrocínio estandardizadas, sendo todas tailor made e, apesar de reconhecer a importância da métricas, fez notar que num evento há sempre uma parte intangível, que tem a ver com a qualidade do contacto.

Os “Desafios da Internacionalização” foram partilhados por Nuno Sousa Pinto, director se expansão internacional, que revelou os quatro pilares inegociáveis quando ponderam levar o evento para outras geografias: ter parceiros locais; medi, porque na essência o RiR é uma plataforma de comunicação; e sponsors para fazer acontecer.

Porque num evento desta dimensão nem tudo corre sempre bem, Juliana Ribeiro veio falar sobre “Gestão de Crise” e contou dois episódios em que artistas cabeças de cartaz cancelaram a actuação um dia antes. Não havendo receita infalível, a prioridade é analisar, em conjunto o problema, encontrar a solução e só depois comunicar ao público. Ou seja, «agarrar na crise e transformá-la em processo”.

A finalizar a manhã, Agatha Arêas, directora de Marketing do Rock in Rio, fez notar que o Marketing é uma ferramenta essencial para entregar o propósito através de uma experiência transformadora. Como manter a marca conectada com o público ao longo de mais de 30 anos, em que tudo mudou, foi a pergunta a que procurou dar resposta, lembrando que, se há dez anos o foco das marcas era vender e ganhar notoriedade, há cinco anos passou a ser a fidelização como forma de diferenciação, sendo que actualmente, o foco tem que estar no propósito. «As pessoas não compram o que você faz, compram o por que você faz.»

Da parte da tarde, Ricardo Acto, vice-presidente de Operações do Rock in Rio, falou com o “Desenvolvimento de Stakeholders”, com foco na grandiosidade e no perfeccionismo, sublinhando que «o caminho é tão importante quando a chegada; é no caminho que desenvolvemos as nossas competências». O objectivo é gerar a melhor experiência e atender às expectativas de todos os colaboradores (artistas, governo, patrocinadores, fornecedores, clientes e colaboradores)

Também convidado, Francisco Cesário, professor universitário, fez uma contextualização mais teórica sobre “Cultura Organizacional de Elevado Desempenho”, procurando responder à pergunta sobre o que leva as organizações a ter sucesso sustentável. Revelando os resultados do estudo feito junto das 500 maiores e melhores empresas em Portugal (segundo a Informa D&B), identificaram cinco atributos das organizações de sucesso: valores e crenças; liderança: inovação e melhoria contínua; resultados e cliente; e comunicação.

Um dos momentos mais entusiastas do dia foi protagonizado por Zé Ricardo, director artístico do Palco Sunset. Afirmando que o coração do Rock in Rio é a sua equipa de alto desempenho, defendeu que para criar constantemente conteúdos exclusivos é preciso correr riscos e que a gestão não se pode esconder da decisão. Fez ainda notar que a criatividade deve estar ao serviço do propósito e que ninguém é substituível, mas somos todos superáveis. «Por isso temos que nos superar todos os dias.»

O “acelerador de pessoas”, Ricardo Bellino partilhou a sua história de “fazer negócios com pedras”, enfatizando que «ninguém vai mudar o mundo se não criar uma versão melhor de si próprio».

Já, Nuno Leite, partner da Sfori, falou sobre  customer centricity, entrevistando depois Nuno Teles, responsável de comunicação online e offline do Rock in Rio, terminando assim o programa na tenda VIP.

Os participantes tiveram depois acesso ao recinto, incluindo as zonas de backstage, centro de media e Palco Mundo. Foi aí que terminou o evento, com uma palestra do fundador do sonho e da sua concretização, Roberto Medina, que, mãos do que do passado, falou do futuro e de quebrar paradigmas.

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