Um quarto das empresas em Portugal não tem liquidez para pagar mais do que um mês de salários

Numa análise a mais de 100 mil empresas, o Gabinete de Estudos e Estratégia (GEE) do Ministério da Economia concluiu que 25% das empresas só tem liquidez, em caixa ou no banco, para saldar, no máximo, 24 dias de remunerações, se ficarem sem receitas. A notícia foi avançada pelo jornal Público.

 

Até 50% das 118.644 empresas observadas consegue garantir até 2,5 salários em caso de paragem total.

Porém, quando se olha para os 5% e 10% com menor liquidez, verifica-se que há quase 6000 mil empresas que não conseguiriam pagar sequer dois dias de salário e quase 12 mil empresas só poderiam pagar seis dias de salário.

Nuno Tavares, um dos autores do estudo, disse ao “Público” que estes resultados, conjugados com outros indicadores das empresas portuguesas, sugerem que há razões para acreditar que há numerosos negócios em risco de desaparecerem.

«Pretendíamos mostrar a capacidade de as empresas garantirem o pagamento de salários num cenário extraordinário como o que estamos a viver. Num cenário de quebra da procura interna e externa, que nalguns sectores é total, conjugado com um baixíssimo nível de capitalização das empresas portuguesas, adivinha-se um cenário difícil para muitos. O encerramento compulsivo deixou muitas empresas sem receitas», afirma Nuno Tavares.

Segundo, o Banco de Portugal (dados de 2018), 26,2% das empresas nacionais têm capital próprio negativo, ou seja, o conjunto dos activos não chegam para cobrir as responsabilidades (passivo). Além disso, 36,7% já tinha, nesse ano, resultados negativos. E 14,5% não consegue gerar dinheiro suficiente na sua actividade para cobrir os custos de financiamento. «Se agora ficaram sem receitas, se estão descapitalizadas e, por outro lado, não têm acesso a financiamento ou já apresentam níveis elevados de endividamento, é inevitável que correm o risco de desaparecerem», conclui Tavares.

As opções metodológicas impedem que a “fotografia” feita com base nos balanços das empresas portuguesas (dados de 2017) possa ser comparado com a realidade de outros países, sublinha o mesmo investigador. Ao invés, é possível comparar as empresas portuguesas por dimensão e por sector económico.

Por tamanhos, verifica-se que as grandes empresas são as que têm menos disponibilidade imediata. As 25% com menos dinheiro em caixa só conseguiriam pagar seis dias de salário, ao passo que com a ajuda das tesourarias mais robustas, até 75% das grandes empresas conseguiriam pagar até 3,8 meses de salário.

Já nas pequenas empresas, as piores pagariam entre 24 e 27 dias, ao passo que com as tesourarias mais fortes até 75% conseguiriam pagar quase 7,6 meses de salário.

Isto significa que nas pequenas empresas há mais dinheiro em caixa porque não há fontes de financiamento alternativas, ao passo que as grandes empresas dispensam grandes caixas porque têm diferentes instrumentos para gerir a vida financeira.

Por sectores de actividade, o alojamento e restauração (que é dos mais afectados nesta pandemia) surge mais enfraquecido, Sem outras receitas, a caixa e depósitos bancários daria para pagar 12 a 13 dias de salários nas 25% empresas mais enfraquecidas. Até metade destas sociedades poderiam pagar no máximo 36 dias (1,2 meses de salário) e com a ajuda das melhores, até 75% seria capaz de assumir quase três meses.

No extremo oposto, está o comércio, que teria disponibilidade para assegurar até 1,39 salários nas empresas mais enfraquecidas e 10,10 salários contando até 75% das empresas incluídas nesta amostra.

Para Nuno Tavares, a vantagem deste trabalho é que permite a decisores políticos calibrar a velocidade de execução de medidas como o lay-off ou o acesso a crédito para tesouraria. Se não for possível celeridade para todos, com estes dados poderia ser dada prioridade às empresas e sectores com mais fragilidades, aponta.

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