«Vamos ganhar» e ganhámos! E agora? Profecia ou estratégia de comunicação?

Por Luís Roberto, Managing Partner da Comunicatorium, Vice-Presidente da APECOM e Professor convidado do ISCSP-ULisboa

Quando, em 2016, Fernando Santos ousou dizer a todos nós, «Vamos ganhar», e que só voltaria a Portugal no dia 11 de Julho para ser recebido em festa, poucos acreditaram nas suas palavras.
Criticado e contestado por muitos, nunca nenhum seleccionador na história do futebol tinha arriscado ir tão longe.
Pela primeira vez em Portugal, o responsável da selecção quebrou as barreiras dos hábitos e receios e assumiu o compromisso sem hesitar. Sermos Campeões Europeus.
Poucos julgavam possível o apuramento, mas o seleccionador, homem de fortes convicções, colocou como grande objectivo o primeiro lugar no Europeu de Futebol.
«Queremos chegar à final e vencê-la.» Uma profecia, ou uma estratégia de comunicação, capaz de assegurar o compromisso com os objectivos da selecção, e moralizar os jogadores em torno do sucesso colectivo e individual.
Durante vários meses, analisei e escrevi sobre o perfil de comunicação do seleccionador português, sendo adepto da estratégia de comunicação, até porque estou convicto de que o sucesso das organizações resulta da capacidade de comunicarmos e criarmos relações com todas as partes interessadas.
Conhecer as motivações e emoções, o comportamento e as atitudes de cada jogador marcaram a cultura organizativa da selecção e, tal como nas empresas, as pessoas são a chave da execução das estratégias e do cumprimento dos objectivos.
Organizações capazes de envolver e motivar os seus colaboradores são as que apresentam melhores resultados. Saber envolvê-los e motivá-los em torno do objectivo comum foi fundamental – Ganhar. «Criámos um grupo forte, unido», referiu Fernando Santos em vários momentos do Campeonato Europeu de Futebol.
Como transmitir a mensagem correcta, por forma a atingir os objectivos pretendidos? E definir o tempo certo para o fazer?  Quem, o quê, quando e como? As respostas foram dadas a cada momento pelo seleccionador.
Chegada à meia-final, Fernando Santos reforça a sua convicção «… muito dificilmente alguém ganha a Portugal, não é fácil».
Durante a estadia em Marcoussis, Fernando Santos foi um estratega da comunicação, incisivo nas suas mensagens, antecipando as questões, desvalorizando o que não era importante e enaltecendo o trabalho do colectivo. «Não falo sobre jogadores em particular, só falo sobre o colectivo.»
E mesmo quando os mais entendidos se fundamentavam em dados do passado para opinar sobre o percurso e futuro da selecção nacional, o seleccionador respondia «O futebol, é como é, não há estatísticas que nos valham».
Após a merecida vitória da meia-final com o País de Gales, seleccionador e jogadores apresentaram-se na conferência de imprensa, claramente apostados na vitória com os gauleses, repetindo por diversas vezes, «Agora é para ganhar porque as finais não se jogam, ganham-se», e ganhámos!
Decorridos 6 anos, Portugal está na fase final do Campeonato do Mundo de Futebol no Qatar, já qualificado para os oitavos de final.
E quais são as mensagens que Fernando Santos passa à sua equipa?
Traçar um objectivo concreto, sem hesitações e comunicá-lo, continua a marcar o perfil do seleccionador.
A mais de 100 dias do arranque do mundial, o seleccionador português afirmou «Não tenho dúvidas de que Portugal tem condições para ganhar. Portugal vai ao Mundial para ganhar».
Desde que a selecção partiu para o Qatar, que tem repetido «Queremos dar alegria ao povo português e a nós próprios».
«Estamos focados» tem sido a expressão usada pelos diferentes jogadores, quando questionados sobre o moral da selecção e, sobre a mesma, o seleccionador não se cansa de referir «Somos uma equipa sólida, fortíssima no vínculo entre jogadores».
Na antevisão do jogo com o Gana, Fernando Santos fez uma revelação curiosa: «A única palavra escrita na nossa sala de palestras é ‘nós’.»
E nós? Acreditamos na profecia ou na estratégia de comunicação capaz de motivar os jogadores e levá-los a acreditar de que é possível ganhar?
Em 2016, ganhámos! E agora?