Vídeo: É o teletrabalho suficiente para estarmos em equilíbrio? E em quem recai o onús?

Com a pandemia, as empresas foram obrigadas a recorrer ao teletrabalho em massa, mas será que foi possível manter o equilíbrio pessoal, familiar e profissional? Rita Baptista, directora executiva de Recursos Humanos e Sustentabilidade da OGMA, e Filipa Peixoto, senior consultant, Outplacement & Career Counseling da Randstad Portugal reflectiram sobre o tema em mais uma re(talk). 

 

A conversa foi moderada por Ana Leonor Martins, directora de Redacção da Human Resources, que começou por questionar se, sendo a realidade que vivemos nos últimos meses completamente atípica, e não teletrabalho na verdadeira acepção da palavra, será que profissionais e empresas vão poder retirar lições e boas práticas para o futuro?

Rita Baptista não tem dúvidas de que os últimos quatro meses foram de total aprendizagem para todos. «Se calhar aprendemos mais nestes  meses do que nos últimos quatro anos, naquilo que é a adaptabilidade das pessoas e das empresas. Acho que foi uma grande aprendizagem e vai continuar a ser.» E constata que empresas e colaboradores tiveram uma forte capacidade de adaptação. A Ogma não foi excepção, apesar de o teletrabalho não ter sido realidade para a maioria dos seus colaboradores. «Como somos uma indústria, 70% dos trabalhadores não pode estar em teletrabalho, mas rapidamente se conseguiu pôr 600 pessoas em casa a trabalhar, muitas delas ainda não tinham computadores portáteis, nem wi-fi ou redes que aguentasse, portanto foi uma aprendizagem em todas as vertentes, não só na humana, mas também ao nível de competências e soluções técnicas que ainda não existiam.»

Já Filipa Peixoto sublinhou que as empresas têm que repensar ou continuar a repensar os modelos de trabalho. «A grande aprendizagem foi que percebemos que, para o mesmo resultado, há vários caminhos a seguir e há muitas possibilidades. A rigidez não ajuda nada. É importante experimentar possibilidades, perceber o que é que funciona melhor para cada colaborador em termos de rotinas de momentos para trabalhar, pausas», defendeu.

Por outro lado, o tema da conciliação entre a vida pessoal e profissional não se esgota no teletrabalho e na possibilidade de se poder trabalhar em casa ou noutro local. Existem outras variáveis. A directora executiva de Recursos Humanos da OGMA fez notar que «o equilíbrio entre a vida familiar e o trabalho está relacionado com a questão do conforto com a situação em que se está, e com a importância de estar num espaço que permita fazer o trabalho de forma adequada e estes quatro meses não foram de todo isso, o que gerou um stress acrescido, além do desconforto e medo gerados pela própria pandemia».

Filipa Peixoto acrescentou: «A flexibilidade não é só o local de trabalho, mas também o horário de trabalho, bem como a abertura a diferentes situações por parte dos profissionais».

Ambas concordaram que  o mais importante é a entrega e o resultado, e não as horas de trabalho. «Em Portugal, há muita dificuldade em gerir esta questão e a pandemia ajudou a repensar isto e é expectável que as próprias empresas arranjem novas formas de ter níveis de produtividade diferentes e controlar muito mais a entrega do que propriamente os horários de trabalho, mas não são só as empresas que têm de dar estas ferramentas aos colaboradores, mas estes também têm que se auto-disciplinar e ter essa consciência», lembrou Rita Baptista.

Filipa Peixoto reforçou que «estes meses também serviram para perceber que é preciso haver um período de adaptação, que há um caminho que todos nós temos que fazer, não só as empresas mas também as lideranças e a sociedade no global. Tem que haver espaços e as ferramentas necessárias para a pessoa se adaptarem. Diferentes pessoas e diferentes empresas sairam de pontos de partida completamente diferentes e têm pontos de chegada diferentes, mas é uma aprendizagem constante.»

 

Obstáculos ao equilíbrio
Sobre o principal obstáculo à conciliação, Filipa Peixoto, aponta a rigidez na gestão. «Uma gestão mais tradicional, que pensa que se o colaborador não está presencialmente no escritório não está a trabalhar.» Ou seja, passa muito por uma questão cultural. «Mas com a pandemia foi possível perceber que as empresas que se adaptaram mais rapidamente sobreviveram e tiveram melhores resultados.»

Em relação à lei laboral, «não é tão inflexível como às vezes se quer fazer parecer», acredita Rita Baptista. E se houver um acordo entre a empresa e os colaboradores, quase tudo é possível, pois a maior parte das situações é passível de ser coberta através da lei».

 

Flexibilidade: regra ou excepção?
Questionadas sobre se as novas práticas que este período trouxe vão ficar nas empresas que representam, Rita Baptista não tem dúvidas. «Com a quarentena, a OGMA viu-se obrigada a dar um passo maior, já que os três meses de teletrabalho a que a quarentena obrigou foram, de forma geral, uma experiência muito positiva. Isto levou a empresa a acelerar o processo de colocação em teletrabalho, quando isto é possível – não a tempo inteiro mas parcialmente». E garantiu que «quando voltarmos ao «novo normal, pelo menos 25% dos colaboradores vão ficar em teletrabalho, em regime híbrido, dois a três dias por semana, dependendo das funções».

A Randstad já estava preparada para a maior parte das áreas poderem estar em teletrabalho, mas obviamente que não toda a gente, o tempo todo. «A grande diferença foi que de um dia para o outro todos ou grande parte dos colaboradores ficou em teletrabalho e deixou de se ver.» A Randstad tentou compensar essa falta de contacto e passou a fazer mais encontros de equipas online. «Quase todas as semanas as equipas se encontravam para fazer ponto de situação e falar das dificuldades.» Agora, a previsão é que os colaboradores regressem ao escritório em Outubro, mas não a totalidade. «A Randstad vai avaliar a situação e encontrar as melhores soluções mas sempre com a tónica da flexibilidade, pois já não há volta a dar», assegura a senior consultant.

Quando questionadas sobre se estes novos modelos de trabalho mais flexíveis vão ser a regra e não a excepção, as respostas surgem menos peremptárias. «Não sei se vai ser a regra, mas acho que vai ser mais normal a adopção de políticas flexíveis e do teletrebalho, permitindo que as pessoas possam gerir melhor os seus horários», afirmou Rita Baptista. «Claro que é necessário algum controlo, pois nem tudo corre bem, mas é necessário que as empresas sejam mais ágeis e tenham mecanismos que permitam que essas coisas não aconteçam.»

Filipa Peixoto também confia que os modelos de trabalho vão mudar na maior parte das empresas. «E é importante não esquecer os temas que preocupavam as empresas antes do vírus, por exemplo atracção talento e se as empresas estiverem práticas muito rígidas, o tipo de profissionais que vão atrair também vai ser diferente», alertou.

 

Novas competências
Em relação ao facto de serem precisas novas competências Filipa Peixoto defende que a gestão num contexto de incerteza requer flexibilidade, growth mindset, envolver às pessoas genuinamente e motivá-las, competências que já se vinham relevando fundamentais, mas agora as empresas constaram isso na prática. «O que foi mais alavancado aqui foi aceitação do outro nas suas diversas realidades», acrescentou. «E por isso isso, as empresas mais evoluídas valorizam muito a ideia de todos termos valências muito diferentes.»

Rita Baptista concordou acredita, ainda, que vai ser valorizada a adaptabilidade, ou seja, a capacidade de as pessoas se adaptarem a novas situações – e rapidamente. E as próprias organizações também.»

 

Work-life balance ou work-life integration?
Para Rita Baptista, cada pessoa deve ter capacidade de adaptabilidade e de integração, «é muito mais do que worklife balance, mas ter a capacidade de integrar os momentos de trabalho e em família». A responsável acredita, ainda, que será possível ter uma vida mais equilibrada se as pessoas se educarem nesse sentido.

Filipa Peixoto concorda mas defende que não se deve perder o equilíbrio e que se deve ter uma influência positiva nos colegas. «Estamos todos mais atentos e conscientes dos limites e se podermos estar atentos não só a nós próprios como ao colega do lado, melhor.»

(re)Veja aqui na íntegra:


 

 

As retalks são uma iniciativa da Randstad em parceria com a Human Resources. Veja todas as entrevistas, aqui.

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