Vítor Peliteiro, Randstad: «Devemos ter um papel fundamental na ligação entre as empresas e o talento, proporcionando às pessoas melhores empregos e melhores salários.»

A Randstad acredita que o trabalho temporário continuará o seu caminho digital, apontando como desafio a forma como se vai continuar a integrar a tecnologia no match entre as empresas e as pessoas.

 

O negócio de Trabalho Temporário é um negócio de proximidade junto dos clientes, colaboradores e candidatos. Ciente disso, a Randstad possui 21 diferentes localizações, de norte a sul de Portugal continental e na ilha da Madeira. Mas a pandemia veio obrigar a uma reinvenção na forma de manter essa proximidade. Assim, trouxe o enorme desafio à organização de perceber como digitalizar os processos e as interacções da empresa com os seus stakeholders.

Não obstante, a aposta da Randstad na tecnologia não resultou da pandemia. Há vários anos que a especialista em Recursos Humanos tinha como linha estratégica o tech & touch. Este foco estratégico permitiu à empresa «responder de uma forma adequada à exigência repentina da digitalização, podendo continuar, mesmo com as delegações físicas fechadas, estar perto dos seus clientes, colaboradores e candidatos».

Em plena pandemia, a empresa desenvolveu várias iniciativas no sentido de permitir um regresso em segurança ao trabalho, tanto para os seus trabalhadores, como ajudando os seus clientes na mesma tarefa, partilhando boas práticas na elaboração de protocolos e recomendações de segurança. «Posicionámos o nosso serviço para ser mais ágil, digital e diversificado, de maneira a conseguir responder aos vários desafios de todos os nossos stakeholders», realça Vítor Peliteiro, revelando que, este ano, a Randstad vai continuar a seguir esta linha estratégica, oferecendo diferentes conteúdos, em diferentes canais, de maneira a garantir a proximidade, que é assumida como o ADN do seu negócio.

Também não há como esconder o negativo impacto financeiro. A realidade mostrou que, em 2020, devido ao impacto da COVID-19, o sector do Trabalho Temporário registou uma redução de quase 20%. E entre Abril e Maio do ano passado, a queda chegou a quase 50%, em resultado do primeiro lockdown. «Existiu, de facto, uma travagem a fundo da economia nessa altura e o sector do Trabalho Temporário foi naturalmente muito afectado», reconhece Vitor Peliteiro, business director da área de Staffing da Randstad Portugal. «Desde o segundo semestre que começamos a observar uma recuperação paulatina da economia, sendo que, no nosso caso em particular, chegamos a Dezembro com um desvio de “apenas” 10% face a 2019.»

Como facilmente se percebe, o impacto não é igual em todos os sectores, havendo até aqueles que registaram crescimento. Vítor Peliteiro identifica o Turismo, a Hotelaria e a Aviação – por razões óbvias – como «aqueles que sofreram, e ainda estão a sofrer, um maior impacto». Em sentido contrário, destaca a grande Distribuição, o sector da Logística, o Comércio Electrónico, os serviços de Apoio ao Cliente, e ainda os sectores Naval e da Saúde como os que «apresentaram crescimento».

E em termos de competências e perfis mais procurados, será que o mercado mudou? Antes de mais, o responsável faz notar que «é fundamental garantir uma estratégia de competências críticas para o sucesso da empresa, que deve estar, obviamente, alinhada com a estratégia da empresa. Esta definição permitirá desenhar dois caminhos possíveis a um match perfeito entre as duas estratégias: ou o da formação para um reskilling ou upskilling, ou o recrutamento de novas competências, que de facto não existem na empresa, nem são alvo de reconversão», constata. A Randstad acredita que se irá observar uma maior procura para os perfis de apoio às operações digitais e a toda a cadeia de distribuição, assim como para os perfis ligados à saúde e segurança, enfermeiros e técnicos de saúde, e ainda as substituições temporárias resultantes da doença e apoio à família, principalmente para as funções técnicas ligadas à indústria.

A redução do recurso ao trabalho temporário acaba por estar directamente ligada à contracção económica e, consequentemente, do emprego, mas Vítor Peliteiro saliente que a pandemia veio reforçar a importância estratégica desta modalidade de trabalho para as empresas, tornando-se determinante para que conseguissem repor necessidades inesperadas devido a doença ou exigência de quarentena de colaboradores. «Se numa perspectiva ongoing de negócio, o trabalho temporário é já uma ferramenta de gestão eficaz, que permite flexibilizar e agilizar os modelos de gestão de recursos humanos, num contexto altamente volátil, incerto e de decisões de curto prazo, esta ferramenta ganha uma maior preponderância», afirma.

 

Proximidade e flexibilidade 
Por outro lado, neste contexto pandémico, a tecnologia tem-se assumido como um aliado fundamental para permite aos clientes agilizar a sua força de trabalho. Prosseguindo o seu objectivo de querer moldar o mundo do trabalho, aproximando a oferta e a procura no mercado de trabalho, a Randstad tem investido em soluções que o permitam promover esta aproximação, e o business director adianta como exemplo o YouPlan. «Esta solução tecnológica permite gerir horários, com a criação de escalas para os colaboradores e ainda com a possibilidade de comunicação, tudo de uma forma rápida, simples e intuitiva.»

Quer esta evolução no sentido de uma maior digitalização, quer a importância reforçada que tem assumido durante a pandemia, tem contribuído para diminuir o estigma associado ao Trabalho Temporário, acredita Vítor Peliteiro. «Existe, felizmente, uma evolução na forma como o trabalho temporário é avaliado pelas pessoas. Tal como em todos os sectores de actividade, existem práticas que não nos devem deixar satisfeitos, pois existem bons e maus exemplos, e o Trabalho Temporário não é excepção. À Randstad, como líder nacional e mundial de Recursos Humanos, compete estabelecer os padrões de boas práticas, continuar a moldar o mundo do trabalho e contribuir de uma forma muito vigorosa para a transparência do sector».

Ao trabalho temporário, enquanto modelo de trabalho, é exigida rapidez, flexibilidade e eficiência. Vítor Peliteiro defende que deve ser encarado pelas empresas como uma ferramenta de gestão, podendo funcionar, em muitos casos, como uma extensão do próprio departamento de Recursos Humanos. «Consideramos que podemos ser os parceiros decisivos para o sucesso da gestão dos Recursos Humanos de todas as empresas.»

Para isso, a consultora decidiu dar um passo em frente no propósito da sua definição de parceria ao criar a “+Continuar+”. «Esta é uma solução pensada para responder à incerteza do actual contexto, apoiando as empresas na continuidade do seu negócio», explica o responsável. «Funciona como um seguro, mas sem custos de subscrição.» Desta forma, a Randstad valida os candidatos para as funções indispensáveis «para que a empresa não pare, bastando, se precisar, activar a solução».

Os profissionais também não foram esquecidos. E Vitor Peliteiro faz questão de sublinhar que, na Randstad, são vistos como verdadeiros heróis das empresas. Assim, continuam a lançar soluções e iniciativas que «ajudem as pessoas a encontrar o melhor posto de trabalho e a desenvolver as suas competências». No âmbito do #EverydayHero, a organização oferece vários conteúdos no WhatsApp e redes sociais, além de um podcast no Spotify e uma newsletter. «Achamos que, desta forma, estaremos mais próximos das pessoas, oferecendo uma perspectiva consultiva com todos aqueles que se relacionam connosco.»

Internamente, e sendo a Randstad «muito “touch”, fomos forçados a acelerar o tech», partilha o responsável. «Felizmente, já tínhamos adoptado uma estratégia “tech & touch” há bastante tempo, pelo que não sentimos dificuldade em, por exemplo, passarmos a trabalhar a partir casa de um dia para o outro, tirando partido de todas as ferramentas digitais que tínhamos ao nosso dispor», reitera.

 

O papel actual do trabalho temporário
O mundo incerto em que vivemos exige uma maior flexibilidade e formas alternativas de emprego. Esta é uma realidade aceite por todos os especialistas da área. «Se, por um lado, as empresas precisam de ser ágeis na forma como contratam, não é menos verdade que o trabalho temporário é uma excelente ferramenta para quem procura emprego», garante o business director, para quem o trabalho temporário também pode funcionar como «um excelente veículo para a entrada no mercado de trabalho, dando, por exemplo, aos jovens a possibilidade de ganharem experiência e às pessoas sem trabalho ou em situação de desemprego de longa duração, a possibilidade de interromperem esses ciclos de desemprego. E 20% a 25% dos trabalhadores temporários acabam por assinar vínculos permanentes com as empresas clientes», concretiza.

De modo a fortalecer o papel do Trabalho Temporário no mercado, Vítor Peliteiro defende que se deve «continuar a fortalecer os padrões de boas práticas do sector, dignificando cada vez mais a indústria e ajudando na criação de empregos adequados e sustentáveis. Podemos e devemos ter um papel fundamental na ligação entre as empresas e o talento, contribuindo para a identificação de oportunidades de reskilling, de maneira a proporcionar às pessoas melhores empregos e melhores salários», afirma.

Inquestionável parece ser que o sector continuará o seu caminho digital, sendo que o desafio está na forma como se vai continuar a integrar a tecnologia no match entre as empresas e as pessoas. «Sabendo que a tendência estará cada vez mais presente na forma como gerimos o talento e o colocamos nas melhores posições de trabalho disponíveis, e sabendo da aptidão que as novas gerações têm para a tecnologia, o desafio estará na forma como aproximaremos essas duas realidades, até porque devemos encarar a tecnologia como um facilitador e não como uma ameaça», conclui o responsável.

 

O Especial “Trabalho Temporário” foi publicado na edição de Março (n.º 123) da Human Resources, nas bancas.

Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

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