
Viu a série de que todos falam? Conheça as lições de Adolescência para a Gestão de Pessoas
“Adolescência”, criada por Stephen Graham e Jack Thorne, é a série do momento. Com quatro episódios, parte de um jovem de 13 anos que comete um crime, mas vai além disso ao focar vários aspectos da natureza humana e das relações que todos estabelecemos ao longo da vida.
Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media
Começando pelo título, a fase da adolescência é caracterizada em diversas facetas: o relacionamento interpessoal, a necessidade de afecto e de aceitação pelos pares; a importância do sentimento de pertença a um grupo ou a rejeição, e a consequente violência; e o impacto do universo digital com as redes sociais, o acesso à pornografia e a imediata propagação de mensagens e comentários. Mas atenção: a fase da “vida adulta” é também essencial no evoluir da história!
Cada episódio gira em redor de um momento concreto. No primeiro, os polícias vão à escola dos alunos envolvidos para tentarem perceber a motivação do crime. No segundo, uma psicóloga debruça-se sobre o agressor para compreender “como é ele por dentro…” No terceiro, os pais e a irmã do protagonista reflectem sobre “a vida” que o filho e o irmão tivera ao longo da infância e adolescência.
A série não apresenta soluções para prevenir que estes actos se repitam, nem justifica o que aconteceu. O que faz é ilustrar como tantos factores foram construindo uma teia complexa de emoções que levaram a pensamentos e a decisões trágicas.
Há pistas que surgem por breves instantes. Destacam-se por serem repetidas em diferentes cenas. Uma delas é a falta de conciliação entre a vida profissional e a vida familiar/pessoal dos adultos. Com efeito, a certa altura o pai desabafa que quando o seu trabalho começou a ser mais lucrativo e atractivo, isso fez com que passasse a estar menos presente em casa, afastando-o da vida familiar e em particular do seu filho. Sente-se triste por não ter dado o tempo e o apoio que devia, constatando que nem “conhecia bem” a criança que estava na sua própria casa. Aliás, na noite em que a tragédia se desenrola, o pai estava ausente do lar.
Noutra cena, é o polícia que também se dá conta de como a relação com o seu filho é distante. Isso interpela-o de modo tão evidente, que vai tentar de imediato restabelecer “uma ponte” entre ambos.
Situação semelhante são as conversas da psicóloga com o chefe da esquadra. Nas sessões com o rapaz, torna-se evidente como alguns adultos no seu trabalho enfrentam ambientes difíceis, que os impedem de ter espaço mental e emocional para corresponder às necessidades dos outros. A agressividade com que se referem uns aos outros e, por vezes, o desprezo irónico para com um colega são como que um espelho das atitudes, dos gestos e dos comportamentos que muitos jovens vão replicar nas relações entre si.
A série impacta os espetadores porque a maldade das situações descritas é direta e imediata para todos, e também deixa “às claras” como é essencial cultivar bons laços interpessoais, como vale a pena dedicar e investir tempo em cultivar relações de verdadeira amizade e estima mútua, quer entre os próprios familiares, quer com colegas de trabalho.
Reforçar o bem-estar emocional é decisivo. Isso consegue-se quando se defende espaço e tempo para estar com os outros, combatendo o isolamento na “bolha de interesses” individuais, focado em ecrãs ou em projectos profissionais que sugam completamente as energias.
Diz-se que a felicidade é uma porta que abre para fora. Nesta série, essa expressão ganha um sentido genuíno.
Este artigo foi publicado na edição de Abril (nº. 172) da Human Resources.
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