Vamos falar de meritocracia?

Por André Rosa, consultor e formador em Liderança / mestre em Gestão de Recursos Humanos

 

Muitos trabalham afincadamente à espera daquela promoção que nunca chega. Outros, em pouco tempo, chegam a cargos que os colegas almejam, há anos. Quem nunca ouviu aquela conversa do “foi uma cunha”, “veio de famílias abastadas”, “é primo do patrão”, “foi sorte”? A verdade é que eu entendo a reflexão. E, se pensarmos um pouco mais a fundo, não é a vida mesmo assim?

Existe um pressuposto errado ao acharmos que as nossas promoções ou o nosso sucesso pessoal e/ou profissional depende apenas das nossas acções. Existem muitas outras variáveis no caminho.

No livro “Outliers” esta questão é aprofundada, onde o autor explica como as pessoas de sucesso, ou as que chegam lá, na sua grande maioria, têm vantagens competitivas relativamente às outras. Coisas como: local de nascimento, data de nascimento ou até os pais que temos. Vou explicar melhor.

 

Local de nascimento

O local de nascimento pode fazer com que tenhamos mais ou menos oportunidades na nossa carreira. Basta comparar alguém que nasce no interior do país, com alguém que nasce numa grande metrópole. As oportunidades de carreira bem como de crescimento, são diferentes.

 

Data de nascimento

A data de nascimento, por exemplo, nos desportos tem um grande peso. Até mesmo na performance académica quando somos crianças. Nascer no início ou no final do ano, faz muita diferença em termos físicos e cognitivos e que, por vezes, pode afectar o próprio desenvolvimento. Basta pensar numa criança que nasceu em Novembro e que tem de entrar na escola com cinco anos para não estar a perder mais um ano. O mesmo se passa nos desportos, em que as crianças são agrupadas por ano de nascimento. Uma criança que nasça em Janeiro e que tenha uma outra do mesmo ano, mas de Dezembro, será muito mais desenvolvida.

 

Pais que tivemos

Queiramos ou não fugir deste tema, os pais que tivemos fizeram com que tenhamos tido acesso a informação que outros não tiveram, ou fizeram com que não tivéssemos tido acesso a informação que outros tiveram. No livro, o autor fala sobre o exemplo de Bill Gates que, na sua infância, teve acesso à informática de forma facilitada, o que, na altura, foi uma grande vantagem em relação às crianças da mesma idade.

Para não falarmos que pais com uma mentalidade positiva podem contagiar os filhos de forma positiva, ou não, e que pais negativos também poderão afectar negativamente os seus filhos… ou não.

Mas lá está, é a vida.

Agora, por “ser a vida” devemos ficar resignados por não ter tido as vantagens competitivas que outros tiveram? Isso aí já cabe a cada um decidir. Portanto quando alguém chega a determinado resultado porque teve “a vida facilitada”, não precisamos de olhar para isso como mérito ou desmérito.

É o que é. E seguimos.

Porque, às tantas, parece aquela conversa de café sobre futebol “se tivessem marcado o penalti aos 10 minutos o resultado tinha sido outro”. Nunca sabemos como será o resultado. Há que meter as mãos na massa e fazer a nossa parte. E claro, todos nós conhecemos alguém que fazia parte do grupo das “vantagens competitivas” e que nunca chegou a lado nenhum.

É a vida.

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