Humildade como traço de liderança

Por Nuno Moreira da Cruz, director executivo do Center for Responsible Business & Leadership na Católica-Lisbon School of Business & Economics

 

“A grandeza do ser humano, a sua verdadeira riqueza, não está naquilo que se vê, mas naquilo que traz no seu coração. A grandeza do homem não lhe advém do lugar que ocupa na sociedade, nem do papel que nela desempenha, nem do êxito social. Tudo isso lhe pode ser retirado de um dia para o outro. Tudo isso pode desaparecer num nada de tempo. A grandeza do homem está naquilo que lhe resta precisamente quando tudo o que lhe dava algum brilho exterior se apaga. E que lhe resta? Os seus recursos interiores e nada mais”.

Este pensamento de Etty Hillesum (jovem judia, deportada para Auschwitz, onde faleceu) acompanhou-me ao longo de grande parte da minha carreira profissional e sempre a ele recorri nos momentos em que me achava “mais do que era”.

Um estudo recente publicado no Journal of Management revelou que a humildade nos CEO conduz sempre a equipas de liderança de maior desempenho e a uma maior colaboração no desenvolvimento e implementação de estratégias. A Administrative Science Quarterly, em estudo semelhante, veio demonstrar que traços associados à humildade – tais como a solicitação de feedback e o focalizar nas necessidades dos colaboradores – geraram níveis mais elevados de engagement e desempenho no trabalho por parte dos reportes diretos.

As “lideranças humildes” têm consciência que raramente são a pessoa mais inteligente ou experiente na sala. Nem precisam de ser. Estas lideranças incentivam as pessoas a falar, a respeitar as diferenças de opinião e a defender as melhores ideias, independentemente da sua senioridade dentro da empresa. Trata-se, no fundo e nada mais, de extrair o melhor de cada um. Este é também o tipo de liderança que, quando as coisas correm mal, assumem a responsabilidade pelo ocorrido e quando correm bem, dão espaço para brilhar a outros.

Dan Cable, professor da London Business School, tem uma frase verdadeiramente inspiradora e que aqui deixo: When you’re a leader you are merely overhead unless you’re bringing out the best in your employees. Em bom português: ou desenvolvemos líderes ou somos apenas custo. Infelizmente muitos líderes têm dificuldade em entender esta simples e dura realidade.

Em tempos de grandes incertezas, em que a principal função do líder é ser capaz de dar sentido a tudo o que se faz, e onde a preocupação pelo Planeta e Pessoas está cada vez mais na agenda corporativa, exige-se humildade e sentido do outro. Provavelmente como nunca antes.

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