2023: Esperar para ver ou fazer acontecer

Por Carlos Sezões, Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders

No meio dos típicos balanços, previsões e profecias, muito usuais nas transições de ano, chegámos a 2023. Não, não venho aqui com frases feitas, com as generalidades sobre a enorme importância do novo ano e dos seus desafios, sempre vendidos como únicos, inéditos ou extremamente perigosos. Não nos deixemos impressionar. Cada época tem os seus problemas específicos e, como todas as outras, prévias e posteriores, exigirá resiliência, coragem e determinação.
Alan Kay, um reputado cientista norte-americano, dizia, com razão, que a melhor forma de prever o futuro é inventá-lo. Faz sentido. Mas, neste mundo de comentadores e profetas, muitos não compreendem que boa parte das respostas estão sempre na nossa mão e que não somos (ou não devemos ser) meros espectadores passivos do que o acaso ou os outros fazem acontecer.
Na psicologia existe, como muitos saberão, o conceito de locus de controlo. Tal é uma característica de personalidade definida como a convicção de que as nossas atitudes, decisões e acções influenciam os resultados que vamos obtendo no dia-a-dia, numa evidente relação causa-efeito. Os indivíduos com um locus interno acreditam que controlam as suas próprias vidas enquanto as que têm um locus externo acreditam que o acaso, o destino, a sorte (ou qualquer obscura conspiração global) está por detrás do que de mal vai acontecendo. Escusado será dizer que em Portugal, existe frequentemente uma predisposição para o segundo caso – e, frequentemente, a atitude é “esperar para ver”.
Partindo destas reflexões e falando de liderança empresarial… Sim, algumas questões importantes (condicionantes como a guerra, a crise climática, a inflação ou a possível recessão, regional ou global) estão fora do nosso controlo. Devemos estar cientes da realidade, aceitar e viver com isso. Saber como elas afectam ou constrangem a nossa capacidade de agir. Mas existem muitas variáveis que, no âmbito cada empresa, ecossistema empresarial ou mercado sectorial, estão realmente nas nossas mãos. Em termos de influência e posicionamento. Exemplos: a forma como analisamos e definimos uma estratégia e efectuamos o respectivo (e úti)l planeamento de cenários; a forma como lideramos a nossa organização – com mais ou menos emoção, alinhamento empowerment; os traços culturais que desenvolvemos nas nossas equipas – que poderão ou não reflectir transparência, meritocracia, agilidade ou colaboração tão essenciais nestes tempos; o investimento (tempo, energia e… dinheiro) que fazemos nas Pessoas; a transformação digital que, porventura, temos adiado ano após ano e que é essencial para um novo modelo de negócio; o impacto social que queremos deixar nas nossas comunidades, na sequência das nossas actividades empresariais. Variáveis que, no fundo, podem tornar-nos mais competitivos, flexíveis e inovadores. Tais dimensões, bem geridas, podem mitigar riscos e viabilizar uma estratégia. E poderão tornar as nossas pessoas mais comprometidas e preparadas para estes tempos voláteis – independentemente do que possa acontecer na sociedade, economia e política globais. E prontas para “fazer acontecer”.
Para o novo ano são estes os meus pensamentos. As minhas previsões? São simples: seja qual o mercado ou contexto competitivo, prevalecerão as empresas com culturas mais empáticas, focadas e ágeis. Concentremo-nos, pois, que podemos liderar, influenciar e, de certa forma, controlar. Tornemo-nos mais propensos ao referido locus interno, e ignoraremos, tanto quanto possível, o “ruído” lá fora. Votos de um ótimo 2023!