PME já tinham dificuldade no acesso ao crédito e deterioração nos lucros antes da COVID-19

As pequenas e médias empresas (PME) portuguesas já tinham dificuldades no acesso ao crédito antes da COVID-19, de acordo com um inquérito publicado num artigo do Banco Central Europeu (BCE), divulgado hoje.

 

«A deterioração no volume de negócios e no lucro nas PME da zona euro foi vista como um impedimento à obtenção de financiamento externo (-18%, depois de 5%) pela primeira vez desde Setembro de 2014, particularmente entre as PME espanholas, italianas e portuguesas», pode ler-se num artigo do boletim económico do BCE.

O artigo apresenta os resultados do Inquérito de Acesso ao Financiamento pelas Empresas (SAFE, na sigla em inglês), que diz respeito ao período entre Outubro de 2019 e Março de 2020.

«Dado que o inquérito foi conduzido entre 2 de Março e 8 de Abril, as empresas puderam contabilizar o impacto da crise decorrente em alguma medida. No entanto, os resultados do inquérito relativo a questões do passado podem apenas mostrar efeitos parciais da crise», assinala o artigo.

Também sobre fontes de financiamento internas no período analisado, os empresários portugueses reportaram uma disponibilidade de fundos líquidos de -26%, mais negativa do que a dos empresários em França (-23%) e em Itália (-21%).

Já em termos da disponibilidade esperada de fontes de financiamento externas, os maiores declínios reportados nas PME da zona euro deram-se em Espanha, Itália, Portugal e Eslováquia, tendo sido «ainda mais limitado do que em 2012, quando 15% das PME reportaram uma deterioração na disponibilidade esperada» de fundos.

Em geral, no período analisado, as PME da zona euro «assinalaram um declínio no volume de negócios pela primeira vez desde o início de 2014», de -2%, quando o valor do inquérito anterior tinha sido uma subida de 20%.

«Apesar de algumas diferenças entre os países, a deterioração foi generalizada. Os declínios mais agudos foram registados em Itália, seguida da Eslováquia, Grécia e Espanha, enquanto na Alemanha e França uma muito mais pequena percentagem de PME indicou, em média, um aumento do volume de negócios», pode ler-se no artigo assinado pelas economistas Katarzyna Bańkowska, Annalisa Ferrando e por Juan Angel García.

Também os lucros das PME da zona euro enfraqueceram (-15%, depois de -1%) no período de Outubro de 2019 e Março de 2020, e foi «particularmente forte entre PME gregas, espanholas, italianas e eslovacas».

«A nível sectorial, a indústria parece ter sido a mais afectada pela deterioração nos lucros (-20%, depois de -7%), sobretudo em Itália. No sector do comércio, 19% das PME da zona euro também reportaram o decrescimento dos lucros, com a percentagem a chegar aos 37% em Itália e 30% em Espanha», detalha o documento hoje divulgado.

No acesso ao financiamento das empresas, as perspectivas económicas gerais afectaram negativamente esse processo (-30%, face a -13% anteriores) na maior proporção desde Março de 2013, tendo sido generalizado, mas notado «particularmente na Alemanha, Itália e Finlândia», e nos sectores, com a indústria a -31%, construção a -21%, serviços a -31% e comércio a -30%.

Relativamente ao futuro, no dia em que Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia (10 de Março), «17% das empresas, em média, esperavam uma deterioração na disponibilidade de empréstimos bancários e linhas de crédito», mas esse número já estava nos 41% para empréstimos e 43% para linhas de crédito no dia 18, quando o BCE anunciou o seu programa de emergência de compra de activos (PEPP).

«Apesar de não ser possível inferir o impacto directo do anúncio do PEPP nas expectativas das empresas, parece ter havido alguma mitigação da sua visão pessimista dos produtos bancários a partir dessa data», de acordo o artigo do BCE.

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