Four Bites é uma “foodtech”. Curioso? Os mentores do projecto explicam.

A Four Bites surge no seguimento do MBA Executivo 18-19 da Porto Business School, sendo a base para o projecto final de Ana Justino e Ricardo Alves, os fundadores da startup. 

Por Sandra M. Pinto 

 

«Estar no MBA abriu-nos a rede de contactos», referem os fundadores da Four Bites, “foodtech” que oferece um serviço de subscrição de snacks personalizados ao cliente. Na defesa do projecto final,  Ana Justino e Ricardo Alves já tinham fornecedores, um sistema de produção e parcerias com universidades e empresas. Mas o MBA Executivo ensinou-lhes muito mais, pois, como referem os fundadores da startup, «também nos ensinou a falhar».

 

Quando surgiu o projecto Four Bites?
Ricardo Alves – A Four Bites nasce no MBA Executivo 18-19 da Porto Business School e foi a base para o nosso projecto final. Apesar do problema que queríamos resolver ser o aqui apresentado, a nossa primeira solução era muito diferente. Na realidade, a ideia inicial era a de produzir e vender em retalho snacks de farinha de grilo. Hoje, a Four Bites tem uma proposta de valor completamente diferente. Não produzimos snacks, eles não têm farinha de grilo e não estamos no retalho.
Ana Justino – Todos os nossos snacks são produzidos por fornecedores nacionais e internacionais com ingredientes saudáveis, mas de uso corrente. Hoje a Four Bites é uma “foodtech” que oferece um serviço de subscrição de snacks personalizados ao cliente.

 

De que forma o conseguem?
Ana Justino – O cliente diz-nos quais as suas preferências de sabores em www.four-bites.com. Depois o nosso algoritmo de inteligência artificial personaliza a sua caixa de snacks. Posteriormente o cliente recebe as suas Bites e, ao dar-nos feedback, nós damos-lhe em recorrência o seu “Youniverse in a snack box”.

 

A que necessidades veio ele dar resposta?
Ricardo Alves – A Four Bites é um serviço de subscrição de caixas de snacks saudáveis e personalizados ao cliente, entregues onde ele mais necessita. A ideia foi da Ana, a cofundadora, que se preocupa cada vez mais com o que come, pois sabe a importância destas escolhas na sua saúde e bem-estar. Contudo, ao passar a maioria do tempo fora de casa torna-se difícil comer saudável, especialmente fazer lanches/snacks saudáveis.
Ana Justino – Para resolver este problema, preparo diariamente em casa snacks para levar para o trabalho. Para além desta solução não ser conveniente, é difícil decidir entre o que é ou não saudável e o que pode ou não gostar. Resultado, acabo a comer todos os dias os mesmos snacks. Foi ao percebermos que esta minha preocupação era partilhada entre muitos e um problema crescente na sociedade, que questionámos: e se entregássemos snacks saudáveis onde as pessoas mais necessitam deles? E se esses snacks fossem diferentes e personalizados aos seus gostos? É daqui que nasce a Four Bites.

 

Ter um projecto desde género era algo que ambicionavam concretizar?
Ricardo Alves – Eu e a Ana temos percursos bastante distintos. A Ana nunca pensou ser empreendedora. Com um background em biomedicina, cresceu numa família que se pauta por trabalhar por conta de outrem e sempre se imaginou em grandes empresas. O MBA surge como uma alavanca para crescimento profissional neste contexto. O projecto empreendedor é algo que equacionou já durante o MBA, mas pelo qual se apaixonou de imediato por se identificar com o problema. Pelo contrário, eu, cientista de dados, sempre tive o “bichinho” empreendedor. Cresci numa família com um negócio próprio que ainda hoje se mantém de pé, e aos 27 anos tive a minha primeira startup. Desde o início do MBA que estabeleci que faria um projecto final de empreendedorismo mas, mais que isso, que não seria para brincar. O objectivo era fazer acontecer e dele nascer uma empresa, idealmente alavancada por tecnologia e Inteligência Artificial.

 

Que papel desempenhou o MBA Executivo que frequentaram na Porto Business School?
Ana Justino – Estar no MBA abriu-nos a rede de contactos. Na defesa do projecto final tínhamos já fornecedores, um sistema de produção e parcerias com universidades e empresas. Mas o MBA também nos ensinou a falhar. Apesar de snacks de grilo resolverem o problema, não são a solução que o cliente procura. Mas, porque estávamos apaixonados pelo problema, em Março 2020, já após o MBA, decidimos recomeçar.
Ricardo Alves – Percebemos que as pessoas querem snacks saudáveis, diversos, de que gostem (ou seja, personalizados) e obtidos de forma conveniente. A Four Bites é hoje 100% desprovida de grilos. A Four Bites é hoje um “pain killer” do problema e não um “analgésico” de solução. Ainda hoje o MBA é um recurso chave da Four Bites. Não temos dúvidas que nos abre diariamente portas a mentores, investidores, parceiros e fornecedores, o que, por si só, serve de acelerador do projecto.

 

O que vos levou a concorrer ao concurso Acredita Portugal?
Ana Justino – Após o MBA estávamos ambos determinados em continuar com a Four Bites, mas sabíamos que tínhamos de reformular o projecto de raiz. Costumamos dizer que nessa altura andávamos “perdidos” sem saber o passo seguinte a dar e sem a disciplina das aulas do MBA para nos direccionar. O Ricardo já se tinha candidatado com outro projecto ao concurso Acredita Portugal e sabia que a estrutura do programa era ideal para nos trazer a disciplina e estruturação de processos necessária que precisávamos de fazer para a reformulação do projecto. Por outro lado, e se queríamos começar uma startup, sabíamos que precisávamos de entrar na rede de empreendedores e investidores em Portugal. O que melhor do que o maior concurso de empreendedorismo português para o conseguir? Como em Março 2020 as candidaturas do concurso ainda estavam abertas, o timing não poderia ter sido melhor.

 

O que significa para vocês terem chegado à final?
Ricardo Alves – Acreditar! O concurso Acredita Portugal é o maior concurso de empreendedorismo português e o segundo maior do mundo. Ente mais de 10.600 candidaturas, estamos nos 21 finalistas e no top 3 da nossa categoria. Conseguimo-lo no rebentar da pandemia Covid-19, enquanto reestruturávamos a Four Bites, com contactos apenas remotos (mesmo entre nós), e enquanto geríamos os novos desafios familiares e laborais por ela trazidos. Se durante este período tivemos a determinação de não baixar os braços e a motivação para continuar a lutar pela Four Bites, estar nas finais do concurso significa agora, mais do que nunca, que faz sentido Acreditar. O concurso ofereceu-nos um programa único de aceleração, exposição mediática e acesso a uma extensa rede de mentores e potenciais investidores.

 

Até que ponto projectos como este podem ajudar à criação de emprego numa altura tão complicada como aquela que vivemos?
Ana Justino – Crises passadas mostram que a criação de novas empresas ajuda a recuperar a economia pela geração de valor e emprego. Objectivamos ser uma “foodtech” global, de referência no sector de subscrição de snacks saudáveis. Ambicionamos crescer e gerar novos empregos. Mas o nosso projecto pode também ajudar as empresas na difícil tarefa de reter talento. Os programas de promoção de saúde e bem-estar dos colaboradores aumentam a produtividade dos mesmos, onde num mundo competitivo, todos temos de ter alta performance mental e isso passa por uma alimentação saudável.
Mas se criar estas estratégias já era um desafio, o distanciamento imposto pela Covid-19 veio tornar esta necessidade ainda mais premente. A Four Bites pode ser um link entre colaboradores e empregadores, onde os últimos promovem a saúde e bem-estar dos primeiros, pela inclusão do nosso serviço no pacote de benefícios oferecido.

 

Que expectativas têm relativamente ao futuro do projecto?
Ricardo Alves – O nosso objectivo é começar local, mas pensar global. Acreditamos que agora é o timing certo, que o problema existe e temos uma solução diferenciadora. Começamos por Portugal a desenvolver produto e gostaríamos, assim que possível, de ir para Espanha realizar a prova de mercado. Para isso necessitaremos de uma ronda inicial de capital.
Ana Justino – Nos nossos sonhos mais ambiciosos, iremos ser um dos próximos unicórnios portugueses e, daqui a dez anos, tocaremos o sino com o anúncio de IPO da Four Bites. Mas para isso ser uma realidade é trabalhar muito e bem, executar, rodearmo-nos das pessoas certas e aprender sempre com o nosso cliente, que é o “Youniverse” da Four Bites.

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