O político e o gestor: opostos ou complementares?

Há uns anos perguntei a um Presidente de Câmara por que estavam a apresentar um orçamento com base em dinheiro a crédito e não apenas assente em expectativas de tesouraria (como um gestor faria). “Sou político e não gestor”, respondeu.

Por Alexandra Barosa, professora da Nova SBE

Ao longo dos anos esta resposta ficou-me na cabeça, até porque a minha actividade como coach é trabalhar com gestores que têm muitas vezes como objectivo um trabalho de desenvolvimento da sabedoria em política organizacional.

Mas será que um político não pode ser gestor e vice-versa? Será que ambas as dimensões não se podem complementar e, assim, aprimorar?

A intersecção entre a gestão e a política é um tema que desperta reflexões importantes sobre a eficiência e a ética na condução de organizações públicas e privadas. De um lado, a capacidade de gestão é essencial para políticos que assumem cargos de liderança. Por outro, a sabedoria política é indispensável para gestores que lidam com contextos organizacionais complexos.

Ao observarmos, com algum detalhe, podemos constatar que alguns desafios actuais em Portugal na saúde se devem à incapacidade de gerir recursos e liderar equipas de forma eficiente, mas não só: muitas tensões nas empresas são mantidas porque os gestores não conseguem utilizar a sabedoria política para aumentar a confiança dos colaboradores na sua liderança, mesmo que o aumento salarial completo não seja possível imediatamente.

De facto, nem todos os políticos possuem formação ou experiência prévia na área de gestão e, por vezes, o desenvolvimento da sabedoria política é descurado na formação dos gestores.

Políticos que incorporam competências de gestão na sua actuação tendem a apresentar maior eficiência na administração pública, garantindo que os projectos são realizados dentro dos prazos, do orçamento e com o impacto esperado. Além disso, a liderança baseada em princípios de gestão fomenta a transparência e a responsabilidade – valores cruciais num contexto político frequentemente marcado pela desconfiança popular.

Por outro lado, os gestores devem possuir sabedoria política para navegar em cenários repletos de interesses divergentes e dinâmicas de poder. A sabedoria política não se limita à capacidade de negociação ou articulação, mas envolve também a leitura de contextos, a identificação de oportunidades e a construção de alianças estratégicas.

Em última análise, a eficácia – tanto na gestão como na política – depende de uma combinação equilibrada entre conhecimento técnico e sensibilidade humana. Esse equilíbrio permite que líderes (independentemente do seu contexto) tomem decisões informadas, justas e orientadas ao bem comum. A atribuição de cargos executivos através de confiança política na administração pública e de confiança técnica nas empresas ganharia muito se complementada com a aposta em desenvolvimento e formação que promove este equilíbrio.

E com isto não ganhava apenas a administração pública ou a privada. Ganhávamos todos.

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