Gestores de Pessoas com tudo (ou quase) para chegarem ao topo
Esta foi a tónica geral do debate desta manhã da 6.ª Conferência Human Resources Portugal, no Hotel Dom Pedro, em Lisboa, perante uma plateia de mais de 320 profissionais de topo e quadros médios.
Sobre o tema “Como tornar sexy a função de Gestão de Pessoas” e com a casa cheia, a nota dominante por entre os oradores convidados foi de que a função de Gestão de Pessoas é central, apaixonante, acolhida em muitos casos como o braço direito dos CEO. Mas é também uma função que levanta muitas angústias e inquietações. Quem trabalha em torno das matérias da Gestão de Pessoas tem a responsabilidade de tornar os colaboradores felizes e as empresas lucrativas. E se quiser chegar a CEO tem de esforçar-se.
Na abertura da Conferência, o keynote speaker Alberto da Ponte, presidente da RTP, levantou a questão: «Os gestores de Pessoas querem mesmo ser CEOs?». Para qualquer profissional de Gestão de Pessoas chegar ao topo de uma empresa, «a vontade é fundamental, tal como a automotivação e a autoestima», segundo o presidente da RTP.
«Aquilo que se pede muitas vezes aos profissionais de Recursos Humanos é que flutuem, se mantenham simplesmente à tona. Raras vezes lhes pedem para nadar, para irem mais além», salientou Alberto da Ponte. E relembra a necessidade de se ter «paciência, energia, resiliência e sentido de humor» para se percorrer o caminho rumo ao cargo de CEO.
Agora como se torna a função de Gestão de Pessoas mais sexy, Alberto da Ponte considera: «Quando queremos algo sexy, pensamos em primeiro lugar: para quem? Não podemos ser universalmente sexys. Queremos ser sexy para o accionista, para o colaborador, para os colegas, para qualquer outro grupo-alvo. Portanto, para os Gestores de Pessoas que querem vir a ser CEOs, o sexy significa ser sexy para os accionistas».
O braço direito do CEO
A primeira mesa redonda contou com a participação de Alberto da Ponte (RTP), António Casanova (CEO da Unilever Jerónimo Martins), João Couto (director-geral da Microsoft Portugal) e Jorge Rebelo de Almeida (presidente do Grupo Vila Galé Hotéis). Um painel de gestores de topo que discutiu o tema “Qual o papel dos presidentes/CEO na valorização da Gestão de Pessoas? Como podem e devem participar para tornar a função de Gestão de Pessoas mais sexy?”, com moderação de Catarina Horta (directora de RH da Randstad e membro do Conselho Editorial da revista Human Resources Portugal) e Francisco Cesário (docente da Universidade Europeia).
João Couto admite que é fácil que «a função de Gestão de Pessoas se afogue no operacional, mas na Microsoft tentam não fazê-lo. A Gestão das Pessoas na nossa empresa está ligada à estratégia, ao desenho organizacional e ao desenvolvimento profissional dos colaboradores. A Gestão de Pessoas é o meu braço direito e o meu business partner».
Jorge Rebelo de Almeida assegura que no «Grupo Vila Galé Hotéis, hoje com 27 anos de actividade, só há meia dúzia de anos é que temos RH. Quando comecei achava a área “chata”, hoje temos um excelente director [Fernando Magalhães], que me ajudou nesse caminho.»
Alberto da Ponte assume que na RTP, tal como em muitas empresas públicas, «não existe uma cultura de mérito, de transversalidade da função de Gestão de Pessoas. É neste contexto de empresa pública, que o desafio que se impõe à RTP é tornarmo-la moderna. É um desafio de todos, não só da área de Gestão de Pessoas, e passa por cultivar a transversalidade, desenvolver a inteligência emocional e por saber ouvir».
António Casanova faz questão de referir que «o desenvolvimento das pessoas não é apenas uma função do director de Gestão de Pessoas, é também do chefe hierárquico daquela pessoa. Esta deve ser uma função dispersa pela companhia. Na Unilever Jerónimo Martins um dos quatro desafios que determinam o bónus do gestor são objectivos de RH: engagement, performance culture, bias for action e conectivity.»
Gestão de Pessoas deve perder “complexos”
A segunda mesa redonda focou a temática “Como são os directores de Pessoas vistos pelos pares nas organizações? Como pode a Gestão de Pessoas ser um melhor parceiro na produtividade e melhoria de resultados? Onde e como devem actuar?”. O painel contou com as intervenções de Fernando Neves de Almeida (presidente da Boyden Portugal), Isabel Barros (Head of Talent Management & Development da Sonae), Luís Moura (director central de Recursos Humanos da Zon Optimus), Miguel Gomes (director central do Banco Popular) e Miguel Salema Garção (director de Comunicação e de Marketing Institucional dos CTT). Pedro Raposo (director de Recursos Humanos do Banco Espírito Santo e membro do Conselho Editorial da revista Human Resources Portugal) e Diana Dias (coordenadora dos programas de Recursos Humanos e Psicologia da Universidade Europeia e investigadora) foram os moderadores.
Pedro Raposo (BES) inicia o debate recorrendo a uma metáfora: «Se uma organização fosse um automóvel e se os Recursos Humanos fossem uma parte do automóvel, que parte seriam?». Miguel Salema Garção (CTT), o primeiro a responder ao mote, assegura que: «Para além do gestor de RH, todos os directores e líderes de equipas lidam com pessoas. Portanto, penso que ocuparíamos juntos o mesmo lugar». «Seria o GPS», sugere Miguel Gomes (Banco Popular): «É a área que apoia a organização para perceber em que sentido estamos todos a caminhar. A área de RH é muito importante para isso.» Luís Moura (Zon Optimus) disse que «os RH são o que permite que a potência passe para as rodas através da caixa de velocidades, da transmissão». Para Isabel Barros (Sonae) os RH são o motor e a caixa de velocidades da organização: «Nunca vi nenhuma estratégia que, ao ser apresentada, resultasse sem energizar as pessoas.» Fernando Neves de Almeida (Boyden Portugal) recorre a uma solução menos intuitiva para responder ao repto do moderador: «A função de RH é a centralina, a parte electrónica que controla o comportamento do carro e que, se afinada, pode ter efeitos de excelência.»
Sobre a atractividade da função de Gestão de Pessoas, Miguel Gomes considera que «esta é talvez das funções mais “sexys” que há nas organizações, já que se baseia em conseguir que os colaboradores sejam mais felizes amanhã do que são hoje.» Luís Moura detecta, entretanto, alguns “complexos” junto dos profissionais da área de Gestão de Pessoas: «Em áreas como a Financeira, as pessoas concentram-se em cumprir os seus objectivos. A nível de RH, comparamo-nos demasiado com outras áreas». O gestor acrescenta que «é crítico ter uma boa função de RH já que tem um impacto brutal nos resultados da empresa.» Mas considera também que uma vantagem dos gestores de RH é a «versatilidade», já que «nos pedem equilíbrios quase impossíveis de se conseguir».
Isabel Barros realça no debate a necessidade de os gestores de Pessoas comunicarem melhor de forma a conseguirem reforçar a sua posição nas organizações: «Acho que os RH são maus comunicadores. Trabalham mal a comunicação e quando a fazem bem, é pouco impactante, “boring”. Há gestores de Pessoas que não conseguem levar a função mais além devido a este problema.»
Quando questionado sobre as competências mais procuradas em directores de Recursos Humanos, Fernando Neves de Almeida recorre à sua experiência de headhunter: «As competências requisitadas são as necessárias para um qualquer gestor de primeira linha de uma empresa de grande dimensão.» E reforça: «Acho que é uma função apaixonante. Quem trabalha à volta desta área tem a responsabilidade de tornar pessoas felizes e empresas em organizações lucrativas.»
Miguel Salema Garção resolve realçar a necessidade de os gestores de RH terem «capacidade analítica para ajudar a organização a encontrar os melhores profissionais e criar valor para os accionistas.»
Acompanhe a reportagem na íntegra sobre a 6. ª Conferência na edição de Dezembro.